Pastor Bonus

11º Domingo do Tempo Comum

Retomamos hoje os domingos do Tempo Comum, que levam esse nome não porque seja menos importantes, mas porque nos ajuda a conhecer o ordinário da vida de Cristo e sua ação extraordinária para a nossa salvação ao longo de toda a sua vida.

Neste tempo iremos caminhar com Jesus: encontrar-se com os que Ele encontrou, ouvir suas pregações, admirar-nos com seus milagres e acima de tudo aprender a ser seus discípulos.

Hoje apresenta-se diante de nós esse convite: fazer parte do Povo de Deus. Por isso convém meditar que: (1) Deus nos amou quando éramos seus inimigos, e (2) nos escolheu para ser seu povo, sua propriedade. E isso não pode ficar só entre nós: (3) Essa boa notícia deve ser espalhada!

1. Deus nos amou quando éramos seus inimigos

Deus vendo-nos perdidos e incapazes de encontrá-lo (Cf. Oração Eucarística VII), veio em nosso socorro. Ele nos amou por primeiro (cf. 1Jo 4,19). Pela paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo pudemos ser batizados, e desta forma foi apagado o pecado original, deixamos de ser inimigos de Deus, e nos tornamos então mais que amigos: tornamos seus filhos!

Se Deus nos amava quando éramos seus inimigos, como disse S. Paulo na segunda leitura (cf. Rm 5,10), imagina quando levamos a sério a sua proposta de santidade? Quanta alegria damos ao Pai quando Ele vê em nós a imagem de seu único Filho: Jesus Cristo!

2. Para ser seu povo escolhido

Assim, pelo batismo passamos a fazer parte de um povo. O critério para fazer parte de seu povo, com disse Deus a Moisés, é a obediência. “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida” (Ex 19,6). Quem obedece a Deus é sua propriedade!

Neste trecho na história de Israel, disse o Papa Bento XVI, vemos o projeto de Deus “de salvar todos os homens, mediante a santificação de um povo” (Homilia, 15 junho 2008). Este projeto de Deus, prefigurado no povo da aliança do Sinai, é agora realizado na escolha dos doze: o novo Povo de Deus que é a Igreja.

Pena que há muitos que estão fora deste povo! Vivem como “ovelha sem pastor“! Pensemos um pouco sobre como vive uma ovelha sem pastor… Ela não sabe pra onde ir, nunca encontra boas pastagens, vive insegura e com medo. Já a sorte da ovelha que tem pastor é diferente: ela está alimentada, descansada e segura.

Esta comparação de Jesus refere-se às nossas almas. Quantos estão cansados e perdidos porque não há quem lhes dê um sentido para a vida! Talvez tenha quem lhes dê comida e lhes protejam do frio, pode ser que tenham até muito dinheiro e uma vida de conforto, mas não há quem lhes dê o verdadeiro alimento para a alma. “O meu povo perece por falta de conhecimento” (Os 4,6).

Foi sobre isso que disse S. Gregório Magno numa homilia sobre este evangelho:

A messe é grande, mas os operários são poucos… Ao escutar isto não podemos deixar de sentir uma grande tristeza, porque há que reconhecer que há muitas pessoas que desejam escutar coisas boas; todavia, faltam quem se dedique a anunciá-las

Homiliae in Evangelia, L.II, hom. 17 In. Obras. Madrid: BAC, 1958.

O Senhor tem compaixão de nós! Não é dó ou pena, tem compaixão, ou seja, coloca-se em nosso lugar para sofrer conosco, como de fato Ele fez. A grande compaixão do Senhor é a de nos dar a Sua vida na cruz. Porque tem compaixão de nós que Jesus instituiu os doze: para que através deles nos chegasse a sua palavra (pelo ensino doutrinal) e o seu poder (pelos sacramentos).

3. Essa boa notícia deve ser espalhada!

No evangelho, além das instruções, Jesus também dá ao colégio apostólico a autoridade para fazerem milagres afim de levar os homens e as mulheres à fé. Mas, podemos nos perguntar, porque esses sinais não acontecem mais? Não é que esses sinais não acontecem mais, eles acontecem! Mas agora de uma maneira diferente.

Disse o mesmo S. Gregório Magno:

“Estas coisas foram necessárias no princípio da Igreja [os milagres], pois para que a fé se robustecesse na multidão dos fiéis, devia se nutrir dos milagres (…). Mas, na realidade, a Santa Igreja faz todos os dias, espiritualmente, o que então faziam os apóstolos corporalmente

Homiliae in Evangelia, L.II, hom. 9, n. 4 In. Obras. Madrid: BAC, 1958, p. 679.

Pelos sacramentos, que são administrados pela Igreja, acontecem milagres maiores que aqueles realizados pelos primeiros apóstolos: pelas águas do batismo os leprosos pelos pecados são purificados; pela absolvição sacerdotal muitos são arrancados das mãos do demônio e voltam à vida; e pelo ensino da fé muito cegos pela incredulidade encontram a verdadeira luz!

Bem resumiu o Papa Bento XVI a missão apostólica:

“Em síntese a Igreja, como Cristo e juntamente com Ele, é chamada e enviada a instaurar o Reino da vida e a expulsar o domínio da morte, para que no mundo triunfe a vida de Deus, triunfe Deus que é Amor”.

Papa Bento XVI, Homilia, 15 de junho de 2008.

Além disso, é interessante observar no Evangelho a lista dos apóstolos. Ali notarmos que há: pobres, ricos, pecadores, ignorantes… e até traidor! De fato, Ele chama a todos! Todos somos úteis para a missão de Jesus!

Escutem esta observação de S. João Crisóstomo a este respeito:

“Nada há de mais frio que um cristão despreocupado da salvação alheia. Não pode desculpar-se com tua pobreza econômica como pretexto. A pobre viúva que deu suas moedinhas te acusará. O mesmo Pedro disse: Não tenho ouro nem prata (At 3,6). E Paulo era tão pobre que muitas vezes padecia fome e carência do necessário para viver. Tu não podes se desculpar com tua origem humilde: eles eram também pessoas humildes, de modesta condição. Nem a ignorância te servirá de desculpa: todos eles eram homens sem letras. (…). Não se desculpe com a enfermidade como pretexto, Timóteo estava submetido a freqüentes dores (…). Cada um pode ser útil ao seu próximo, se quer fazer o que pode”.

S. João Crisóstomo, Homilía 20 sobre los Hechos de los Apóstoles.

Perceber que Jesus chamou gente simples, nos encoraja, pois confirma também que a Igreja hoje, mesmo em sua simplicidade, dá continuidade ao grande projeto de Cristo. É o reino que cresce no silêncio, assim como as sementes que germinam e se desenvolvem no campo. É assim o apostolado dos sacerdotes, dos catequistas, dos ministros que visitam os enfermos e de todos aqueles que se dedicam ao Reino do Senhor.

Mas é preciso notar uma coisa. Não se deve confundir simplicidade com mediocridade. A grande força transformadora do novo Povo de Deus está na santidade, que é capaz de contagiar o mundo.

“A Igreja é a comunidade dos pecadores que acreditam no amor de Deus e se deixam transformar por Ele, e assim tornam-se santos, santificam o mundo”.

Papa Bento XVI, Homilia, 15 junho 2008

Precisamos de operários, mas não só no sacerdócio! São necessários operários de Cristo nas universidades, nas escolas, nas fábricas, nos escritórios, nos comércios, enfim em todo o mundo. E em nossos dias, quanta falta fazem os operários de Cristo na política!

A recomendação de Jesus, neste domingo, é bem objetiva: a primeira maneira de cooperar com o apostolado é a oração. Como não se lembrar hoje de S. Terezinha do Menino Jesus, padroeira das missões, que dizia ter um desejo ardente de converter o mundo inteiro à fé católica? E ela cumpriu a sua missão sem jamais deixar as grades do Carmelo, mas através da oração silenciosa e escondida, porém fecunda e eficaz!

Que a Virgem Maria, Mãe do Povo de Deus, nos faça ter consciência de que somos propriedade do Senhor e nos ajude a conduzir o mundo perdido e cansado para o verdadeiro e único Pastor: Jesus Cristo!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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