Pastor Bonus

12º Domingo do Tempo Comum

Que lindo detalhe a respeito da humanidade de Jesus o evangelista nos contou hoje: após um dia longo, de muitas atividades, o Senhor está cansado e dorme.  Ele é Deus, sim, verdadeiro Deus, mas é também verdadeiro homem.

Este importante acontecimento, da tempestade acalmada, é fundamental para o nosso crescimento na fé. Consideremos três aspectos que nos ajudam muito: a travessia do mar, como imagem da nossa vida; a súplica dos apóstolos, que significam as orações; e, por fim, o convite à confiança, que brota da certeza de que Ele está conosco.

1. A travessia: a vida

A travessia do mar da Galileia simboliza a trajetória da nossa vida. O mar agitado pode significar tantas coisas: as dificuldades pessoais, as calúnias, os ambientes conflituosos de trabalho, a perda do emprego, o fim de um relacionamento, um filho que escolhe o mal caminho, o diagnóstico de uma doença, a notícia da morte de alguém que amamos… O mar agitado é também identificado, lembrou-nos o Papa Bento XVI, com o poder diabólico (1). 

2. Os gritos: a oração

Os apóstolos, pescadores experientes, que conheciam muito bem o mar, e sabiam como lidar com as tempestades, se veem surpreendidos por algo que nunca viveram e entram em desespero. Parece não ter mais saída, a não ser a morte. 

E quantas vezes o mal tempo se formou em nossa história, os ventos ficaram fortes e pareciam que tudo iria acabar mal. Parecia que Deus estava dormindo e que não aguentaríamos mais. 

O grito aflito dos apóstolos foi interpretado por muitos Padres da Igreja como a oração, o clamor incessante dos cristãos nas tribulações e nas angústias.

O clamor dos apóstolos pelo Senhor pode representar a nossa oração e a oração de tantas pessoas que no desespero das noites traiçoeiras também clamam: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,38). 

Embora pareça contraditório, mas essas palavras também podem representar a inquietação, o medo, o desespero que nascem do coração que deixa de confiar, do cristão que deixar de rezar. Dos momentos em que, como disse Jesus no final do Evangelho, fraquejamos na fé.

Por isso, lembremo-nos: “Cristão, Cristo dorme no teu barco – recorda-nos Santo Agostinho – acorde-o, que Ele repreenderá a tormenta e haverá calmaria” (2).  O Senhor se importa conosco, não é insensível às nossas dores, aos momentos de grande tribulação que passamos, que estamos passando ou que um dia poderemos passar. 

3. Ele está conosco: confiança

O que fazer quando tudo parece estar perdido e o barco está como que afundando? Lembrar-se disso: o Senhor está comigo na barca, Ele não me deixou sozinho. “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem“. (Sl 22, 4).

O convite que nos faz o Senhor, neste domingo, é este: o de confiar Nele. Saber que Ele está conosco. O Senhor nunca nos deixou ou deixará sozinhos. Não tenhamos dúvida: Ele está ao nosso lado, e mesmo que a tempestade não pareça ter fim, confiança Nele, Ele é nossa única segurança

Caminhemos, irmãos, sem pessimismo. E quando surgirem as dificuldades lembremos dessa divina presença no barco da nossa vida. Não há problema que Ele não possa resolver, não há tribulação que não lhe obedeça. 

O mesmo Pedro, que viveu aquela noite tão assustadora e ao mesmo tempo a noite de um grande passo na fé, escreveu na epístola: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês” (1Pd 5, 7).

Essa tranquilidade é também a promessa daquela paz que será a vida plena junto Dele na eternidade. Como disse o livro de Jó, o Senhor dará uma ordem eterna ao todo tipo de mal: “aqui cessa a arrogância de tuas ondas” (Jo 38, 11). 

Concluo com uma belíssima oração composta por um grande admirador de Nossa Senhora: “Se subirem os ventos das tentações – dizia São Bernardo – olhe a estrela, chame Maria (…). Você não se perderá se a seguir, não se desesperará se implorar a ela, não se perderá se pensar nela. Se ela o segurar pela mão, você não cairá; se ela o protege, você não terá nada a temer; você não se cansará se for o seu guia; você ficará feliz em chegar ao porto se ela te amparar” (3).

Maria, mãe dos aflitos, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


(1) cf. Homilia, 21 de junho de 2009. (2) Santo Agostinho, Sermão 361, 7. (3) São Bernardo, Homilias sobre a Virgem Mãe, 2.

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