Pastor Bonus

16º Domingo do Tempo Comum

Em suas pregações Nosso Senhor sempre se preocupou em usar imagens simples, do cotidiano da vida dos seus ouvintes, para que da melhor maneira a mensagem divina chegasse aos seus corações. Hoje, como no domingo passado, as imagens tiradas do campo (trigo, joio, grão de mostarda) e da vida ordinária (fermento na massa) nos aproxima dos mistérios do Reino dos Céus. 

Os divinos ensinamentos que hoje escutamos de Jesus nos respondem a três perguntas que ora ou outra aparecem em nossas conversas bem como dentro de nossas reflexões pessoais: [1] Qual é a origem do mal? [2] Por que Deus não destrói logo o mal? [3] Quando Deus fará justiça? 

1. Qual é a origem do mal?

Essa é uma pergunta que muito angustia o coração humano. Como pode Deus ser tão bom e permitido a existência do mal? Alguns se utilizam desta pergunta e de uma resposta equivocada para ela como justificativa de seu ateísmo ou do seu indiferentismo religioso, como se a existência do mal fosse um motivo para não crer na existência de Deus. 

No Evangelho Nosso Senhor é claro: o dono da plantação semeou boa semente, ou seja, tudo que Deus fez e faz é muito bom! Porém, o inimigo, enquanto dormimos semeia o joio. O mal não vem de Deus!

O joio continua sendo semeado…

Os Padres da Igreja viram na imagem do joio o símbolo das falsas doutrinas e dos erros de fé que são semeados constantes seja em nossos corações. Isso acontece quando querem confundir mentiras com a Verdade. S. João Crisóstomo chegou a dizer:

Nas seguintes linhas se descreve perfeitamente a marcha dos hereges: “E depois que cresceu a planta e deu fruto, apareceu então a cizânia”. No princípio os hereges não dão a cara, mas quando tem mais liberdade e alguns outros participam de seu erro, então vertem seu veneno.

São João Crisóstomo, Catena Áurea, S. Mateus, XIII, 24-30

Além disso, enquanto muitos pais “dormem” o demônio vêm e semeia o joio dentro de suas casas, nos corações dos filhos, através de programas de TV, em canais da internet, nas escolas e também por más companhia.

O inimigo de Deus e das almas tem utilizado todos os meios humanos possíveis. Assim vemos como se desfiguram umas notícias, como se silenciam outras, como se propagam ideias demolidoras sobre o matrimônio através de séries de televisão de grande alcance, o tratam de ridicularizar o valor da castidade e do celibato, se propõem o aborto e a eutanásia, ou se semeia a desconfiança ante os sacramentos ou se dá uma ideia pagã da vida, como se Cristo não tivesse vindo a redimir-nos e a recordar-nos que nos espera o Céu. E isto com uma constância e um empenho incríveis. O inimigo não descansa.

Homilia do Padre Francisco Fernández Carvajal, XVI Domingo del Tiempo Ordinario, San Mateo 13, 24-43: La cizaña de la mala doctrina.

2. Por que Deus não destrói logo o mal?

E então surge outra pergunta: então por que Deus não destrói logo todo o mal? Por que não arranca logo o joio espalhado pelo diabo? 

Poderíamos dizer que entre os vários motivos haveriam dois principais:

(a) Porque Deus é paciente. Nos lembrou o livro da Sabedoria que Deus tudo governa, e que o seu “domínio sobre todos [O] faz para com todos indulgente” (Sb 12, 16). Por isso, até o final, os bons e os maus viverão juntos, mas no final Deus fará plenamente a justiça. Isso porque é verdade o que no salmo entoamos: Deus é “amor, paciência e perdão”. (Sl 85, 15). 

(b) Porque o joio pode se transformar em trigo. Muitos são os exemplos ao longo da história da Igreja: S. Paulo, por exemplo. São sábias as palavras de S. Agostinho que experimentou em sua vida a mudança de joio em trigo:

(…) muitos, primeiro são joio e depois tornam-se trigo bom. (…) Se eles, quando são malvados, não fossem tolerados com paciência, não chegariam à mudança louvável.

S. Agostinho, Quaest. septend. in Ev. sec. Matth., 12, 4; PL 35, 1371

(c) Porque o joio faz o trigo crescer em virtudes.

(d) Porque ainda tem joio em nossos corações. S. Paulo disse na Epístola que Deus “penetra o mais íntimo dos corações” (Rm 8, 27). E como muita honestidade devemos reconhecer quanta coisa que “pertence ao maligno” dentro nós e ainda não eliminamos. Por isso “O Espírito vem em socorro de nossa fraqueza” para arrancar as cizânias do coração. 

Todos os membros da Igreja, inclusive os seus ministros, devem reconhecer-se pecadores (Cf. 1 Jo 1, 8-10.). Em todos eles, o joio do pecado encontra-se ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos tempos (Mt 13, 24-30.). A Igreja reúne, pois, em si, pecadores abrangidos pela salvação de Cristo, mas ainda a caminho da santificação.

Catecismo da Igreja Católica, n. 827.

3. Quando Deus fará justiça?

A primeira leitura nos lembra que Deus não julga injustamente e que a justiça um dia será feita plenamente. E para isso Jesus deixa claro que após esta vida os justos receberão a eterna recompensa do céu e os maus o eterno castigo do inferno. Essa lição básica do catecismo da nossa fé deve sempre ser revisitada, ainda mais em nossos dias que essa realidade parece não mais ser vista como uma verdade, como é de fato, mas como uma fábula

Jesus não nos esconde nada em suas palavras sobre o juízo final. E nosso coração deve portanto encher-se de esperança e de santo temor: de esperança porque sabemos que um dia todo mal será eliminado e então contemplaremos a justiça divina; e também de santo temor porque o joio, que o diabo insiste semear em nossos corações, principalmente durante as nossas “sonolências” [quando não estamos despertos na fé], é para nós um grande perigo!

Queridos irmãos, observai: Jesus nos fala de semente de trigo, grão de mostarda e de fermento na massa – coisas pequenas, mas que guardam dentro de si uma força muito grande e que aos poucos, de modo silencioso, cresce. Assim é o Reino dos Céus que já está dentro de nós pelo batismo!

Jesus compara o Reino dos Céus com um campo de trigo, para nos levar a compreender que dentro de nós foi semeado algo de pequeno e escondido que, no entanto, possui uma força vital insuprimível. Não obstante a todos os obstáculos, a semente desenvolver-se-á e o fruto amadurecerá, Este fruto só será bom, se o terreno da vida for cultivado em conformidade com a vontade divina.

Bento XVI, Angelus, 17 julho 2011.

A vigilância, principalmente nos momentos em que ficamos como que “sonolentos” na fé e a meditação frequente dos novíssimos (morte, juízo final, céu e inferno) que nos ajudam a evitar o pecado, são como que dois bons ensinamentos práticos que Jesus nos dá com a parábola do joio e do trigo. 

A grandeza escondida do grão de mostarda e a misteriosa levedura do pão nos convidam a crer que o Reino de Deus, por mais silencioso que pareça, está crescendo, seja dentro dos nossos corações seja no mundo através da Igreja. 

Que Maria, a Virgem Prudentíssima, nos ajude a ser vigilante para não permitir que as más sementes do joio sejam semeadas em nosso coração e que esta Eucaristia nos encha de esperança com o Reino de Deus que já está no meio de nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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