Pastor Bonus

17º Domingo do Tempo Comum

A alegria deste domingo é continuar ouvindo a voz de Nosso Senhor que nos fala em parábolas. São palavras simples que falam das coisas mais bonitas da nossa vida; são comparações singelas que nos falam da eternidade e da vida divina.

Hoje ouvimos as três últimas, das sete, parábolas do Reino recolhidas por S. Mateus. Observem que existe um esquema que se repete tanto na parábola do tesouro escondido como na parábola da pérola preciosa: (1) Descobrir (ou Encontrar), (2) Vender tudo e (3) Alegrar-se. Meditemos sobre esses três passos:

1. Descobrir / Encontrar

Existe uma diferença muito interessante entre o camponês que encontra o tesouro e o comerciante que procura a pérola preciosa: o camponês encontra o tesouro repentinamente, sem estar procurando nada; já o comerciante encontra a pérola depois de ter feito uma grande busca para poder encontrá-la. 

Assim é que se encontra Nosso Senhor: alguns O encontram do nada, sem que nem O estivesse procurando; já outros O encontram depois de ter se empenhado com grande dedicação para encontrá-lo. 

Sobre essa descoberta de Jesus podemos recordar a oração de Salomão, que ouvimos na primeira leitura. Seu pedido pode ser resumido de maneira muito simples: um coração compreensivo e a capacidade de discernir entre o bem e o mal. O Papa Bento XVI disse que

«coração sábio» quer dizer uma consciência que sabe ouvir, que é sensível à voz da verdade, e por isso é também capaz de discernir o bem do mal.

Papa Bento XVI, Angelus, 24 de julho de 2011.

São duas atitudes que se deve ter quando se encontra o verdadeiro sentido de nossa vida, deixando todas as outras coisas vãs para trás e, ao ouvir a voz da Verdade, que é Cristo, segui-lo imediatamente!

O Papa Francisco, comentado essas duas parábolas, disse que duas atitudes devem marcar a vida de quem deseja o Reino de Deus: a primeira é a busca e a segunda é o sacrifício. Sobre a busca, ele disse: 

A atitude da busca é a condição essencial para encontrar; é preciso que o coração arda com o desejo de alcançar o bem precioso, ou seja, o Reino de Deus que se faz presente na pessoa de Jesus. É Ele o tesouro escondido, é Ele a pérola de grande valor. Ele é a descoberta fundamental, que pode fazer uma mudança decisiva na nossa vida, enchendo-a de significado.

Papa Francisco, Ângelus, 30 de julho de 2017.

2. Vender tudo

Uma atitude é comum aos dois: tendo-O encontrado vendem tudo que tem para ficar com o que foi descoberto. Isso porque aquilo que foi encontrado vale mais do que todas as coisas que já se possui e muito mais qualquer outra coisa que poderia possuir.

E vejam, eles nem precisam pensar muito, não fazem contas, nem ficam pensando medindo perdas e ganhos. Assim deve ser conosco ao nos encontrarmos com Cristo: não temos nem o que pensar, a decisão deve ser imediata

Mas esta é uma decisão que implica renúncia: é preciso vender o que se tem, é preciso sacrificar o que se possui, para ficar com esse tesouro, essa pérola precisa.

Este tesouro é gratuito, porque a pregação do Evangelho é incondicional. Mas usar e possuir esse tesouro com o campo não pode ser feito sem condições, porque as riquezas do céu não podem ser possuídas sem o sacrifício de algumas coisas na terra.

S. Hilário in Catena Áurea, S. Mateus, XIII, 44.

Hoje podemos nos perguntar: qual é a renúncia que devo fazer e ainda não fiz? O que ainda tenho que vender para comprar o verdadeiro tesouro, a mais preciosa das pérolas? Talvez uma das maiores renúncias que um cristão em nosso dia deve fazer é renunciar à sua própria reputação, da “boa imagem”, suportando as críticas que lhe são dirigidas pelo simples fato de ser cristão!  

É preciso estar disposto aos sacrifícios! É claro que não se paga pelo preço do tesouro, porque seu valor é incalculável, mas para ser digno Dele é preciso vender tudo para que Ele seja o único tesouro de nossa vida. Por isso, sobre o sacrifício, disse o Papa Francisco:

Face à descoberta inesperada, quer o camponês quer o mercador dão-se conta de ter uma ocasião única que não querem perder, e por isso vendem tudo o que possuem. A avaliação do valor inestimável do tesouro leva a uma decisão que implica também sacrifícios, desprendimentos e renúncias. Quando o tesouro e a pérola foram descobertos, ou seja, quando encontramos o Senhor, é necessário que esta descoberta não seja estéril, mas deve-se sacrificar por ela qualquer outra coisa

Papa Francisco, Ângelus, 30 de julho de 2017.

E acrescentou:

Não se trata de desprezar o resto, mas de o subordinar a Jesus, pondo-O em primeiro lugar. A graça do primeiro lugar. O discípulo de Cristo não é alguém que se privou de algo essencial; é uma pessoa que encontrou muito mais: encontrou a alegria plena que só o Senhor pode doar. É a alegria evangélica dos doentes curados; dos pecadores perdoados; do ladrão para o qual se abre a porta do paraíso.

Papa Francisco, Ângelus, 30 de julho de 2017

3. Alegrar-se 

O plano de fundo das parábolas é a alegria: a alegria de deixar para ganhar! Como disse S. Paulo:

Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo.

Fl 3, 7-8.

Assim nós também somos chamados à alegria. Nossa é a alegria do camponês que encontrou um tesouro: porque temos a graça de ter encontrado com Cristo; nossa é a alegria do comprador que encontrou a pérola única: porque o Senhor nos deu a graça de fazer parte da Sua Igreja, a Igreja Católica! 

Sim, é preciso nos alegrar, e sempre nos convencer que nada de melhor poderia nos ter acontecido do que um dia ter sido levado à pia do batismo e desde então entrado na Igreja de Nosso Senhor e hoje ser parte do seu Corpo Místico!

Um último detalhe: o antigo dono

Gostaria ainda de chamar a atenção para um detalhe, que foi observado pelo Frei Raniero Cantalamessa numa homilia para a missa de hoje. Disse o capuchinho:

De fato, em cada uma das duas parábolas há dois atores: um manifesto, quem vai, vende, compra e outro oculto, implícito. O ator implícito é o antigo dono que não percebe que existe um tesouro em seu campo e o liquida para o primeiro que pedir; é o homem ou a mulher que possui a pérola preciosa, e não percebe seu valor e a entrega ao primeiro comerciante que passa, talvez para uma coleção de pérolas falsas. Como não vemos um aviso dirigido a nós, pessoas do Velho Continente Europeu, no ato de vender nossa fé e nossa herança cristã?

Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap, Tesouros escondidos y perlas – XVII del tiempo ordinario, Ciclo A.

A rede e os peixes

Por fim, na última parábola Jesus volta o olhar dos apóstolos para um gesto diário da vida de suas vidas, para uma coisa que eles fazia todos os dias após a pesca: a separação dos peixes. Para S. Gregório Magno esta rede é imagem da Igreja, onde há peixes bons e maus. Disse ele:

“(…) [A Igreja] nos recolhe a todos, bons e maus, como peixes mesclados em comum; mas logo na margem se verá os que estão dentro da rede da Santa Igreja”.

S. Gregório Magno, Homilae in Evangelia. L.I, hom. 11, n. 4. In: Obras. Madrid: BAC, 1958, p. 577.

Um dia estaremos nós na margem, diante do pescador de nossas almas, que fará então a separação dos bons e dos maus. Que o fato de sabermos disso não nos amedronte, mas nos faça corajosos para ser peixe bom! Pois como disse S. Paulo na epístola de hoje: “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28), e nós em nosso batismo fomos predestinados a ser como a imagem do Filho de Deus. Vejam bem: predestinados não significa obrigados, mas escolhidos para a vida divina!

Convido-vos a concluir a meditação de hoje com uma oração: “Obrigado Senhor por vos ter encontrado e ter descoberto o tesouro da fé católica! Dai-me força para vender tudo para ficar apenas conosco: o único necessário! Que no entardecer da minha vida, nas “margens” da eternidade, eu tenha a alegria de estar recolhido em vosso cesto, como peixe bom! Vossa Mãe interceda por mim! Amém”.

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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