Pastor Bonus

18º Domingo do Tempo Comum

Assim como aquela multidão que numa tarde, na beira do lago, foi em busca de Jesus, hoje somos nós que vamos ao encontro do Divino Mestre. E quantos sacrifícios fizeram aqueles homens e mulheres para irem até Nosso Senhor! Não tenhamos medo de enfrentar também os tantos desafios que encontramos para ir até Ele!

O início do evangelho registra um detalhe precioso: Jesus ao saber da morte de João busca um lugar deserto e afastado e faz como que um “retiro espiritual”. Não que ele precisasse, mas para nos deixar o exemplo. E qual seria o tema da sua meditação? Poderíamos imaginar que seria sobre a sua Páscoa, pois para Jesus a morte do precursor foi uma pré-figuração da sua própria Paixão. 

É nesse contexto que Jesus ensina, apascenta e cuida do rebanho. E os verbos “viu”, “sentiu compaixão”, “curou” narram como que a nossa própria história da Salvação, a história de Deus que veio ao encontro da humanidade e que vem ao nosso encontro!

E tendo alimento o povo com o pão de sua doutrina também sacia a sua fome física. Por isso hoje nos convêm considerar a quarta petição do Pai Nosso: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Ao elevarmos esse pedido a Deus na oração que o Senhor nos ensinou, suplicamos que Ele nos conceda: (1) o pão espiritual e também (2) o pão material. Falemos sobre essas duas formas de Deus nos alimentar, prefigurados no evangelho de hoje. 

1. O Pão Nosso espiritual: Eucaristia 

Em seu desígnio de amor, ao pensar naquela multidão que encontraria naquela tarde, quis Nosso Senhor fazer-lhes um milagre que não serviria apenas aos seus contemporâneos, mas a todos nós.

Isso porque aquele milagre era um sinal de um outro milagre! Aquele que aconteceria na última ceia e que no calvário e na ressurreição do Senhor se perpetuariam para sempre: a Santa Missa! E hoje, meus irmãos, este mesmo milagre acontecerá diante dos nossos olhos: é a Divina Eucaristia. 

Falemos sobre alguns detalhes deste evangelho que apontam para o mistério Eucarístico: o pouco que levamos ao altar, as idênticas palavras de Jesus na multiplicação dos pães e na última ceia, o milagre do presente mais precioso de nossas vidas, e por fim algumas orientações para comungar.

a) O nosso pouco colocado no altar: Assim como que Jesus contou com os poucos pães e peixes Ele também conta com nossa colaboração, pequena e insignificante, simbolizadas no pouco de pão e no pouco de vinho. Para desta forma realizar um milagre que em muito supera uma multiplicação miraculosa de pães, que é o milagre da transubstanciação: de pão em Corpo e de vinho em Sangue. 

b) As mesmas palavras de Jesus: Podemos notar também, para confirmar a relação deste milagre com a Santa Missa, que as palavras ditas por Jesus na bênção coincidem com o relato da instituição da Eucaristia: “Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos” (Mt 14, 19). 

Lembrai-vos: a multiplicação dos pães é pré-figuração do milagre eucarístico que continua acontecendo pelas mãos dos sacerdotes em todas as igrejas católicas e que hoje também acontecerá, aos nossos olhos, neste altar. 

Essa relação entre a multiplicação dos pães e a Eucaristia foi percebida desde o início da Igreja, tanto é verdade que nas catacumbas, muito frequentemente a Eucaristia é simbolizada por um cesto com pães e dois peixes. Além disso, observem também que a Eucaristia é o pão que nos sacia por completo e é tão farto que sobram cestos cheios, sinal desta saciedade divina!

c) Presente mais precioso: Ao dar um presente para alguém se está dando um pouco de si para que através daquele presente a pessoa querida tenha uma lembra de quem lhe presenteou. Na Eucaristia Nosso Senhor nos deu a si mesmo: seu Corpo e Sangue! Se Deus tivesse algo mais precioso para nos dar Ele nos teria dado. Como profetizou Isaías que, através das imagens da água, do vinho, do leite e do pão, anunciava a Eucaristia. É um pão que se pede a Deus, que só Ele pode dar. Não é um direito, é uma dádiva! 

d) Disposições para comungar: Assim como de nada adianta dar comida a um cadáver, de nada serve o alimento divino dado a uma alma em estado de putrefação por conta do pecado mortal. Por isso a primeira disposição fundamental para comungar é a confissão de todos os pecados. Nos fará muito bem também redescobrir mais uma vez o valor da Adoração Eucarística, da Comunhão Espiritual e desta forma agradecer todos os dias pelo tesouro que é a Eucaristia!

2. O pão nosso material 

Nosso Senhor também cuida de nossas necessidades materiais. Jesus sente compaixão também hoje de tantos irmãos nossos que passam fome. Por isso disse o salmista: “Vós lhes dais no tempo certo o alimento” (Sl 144, 15). Nesse sentido ouvir o relato da multiplicação dos pães é um convite à aprender a partilhar, agradecer a Deus pelos alimentos e a saber confiar na divina providência, falemos sobre esse três aspectos:

a) Aprender a partilhar: A indicação para que os pães continuem sendo multiplicado nos dias de hoje é apresentado no Evangelho: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16). E assim como eles que levaram o pouco que tinham, nós também, partilhando o pouco que temos, vemos hoje grandes milagres!

Somos nós aquele homem que tem pouco, que só tem cinco pães e dois peixes, e que não pode esconder o pouco que tem para ficar só para si, mas que precisa partilhar, por mais pouco que pareça. Quando colocamos os “poucos pães e peixes” de nossa vida nas mãos do Senhor Ele os multiplica!

É porque nos sentimos amados pelo Senhor, principalmente pelo dom da Eucaristia, que nós somos inflamados pela virtude da caridade que nos leva à partilha, principalmente dos alimentos. É claro que o pão espiritual está em primeiro lugar e é mais importante que o pão material, mas também sabemos que

Jesus não é indiferente à fome dos homens, às suas necessidades naturais, mas as situa no contexto adequado e os concede a prioridade devida.

Bento XVI, Jesus de Nazaré, p. vol. I, p.21

b) Rezar antes das refeições: É importante também hoje recordar a importância de agradecer a Deus pelos alimentos colocados pela bondade divina em nossas mesas. E essa observação quem faz notar é São João Crisóstomo quando meditando sobre o evangelho de hoje disse que, ao elevar aos olhos ao céu e dar graças pelos pães e peixes, Jesus

Também nos ensina que, antes de começarmos a comer, devemos agradecer a Deus que nos dá comida.

S. João Crisóstomo, Homilia S. Mateus, hom. 49, 1 in Catena Áurea, Mt XIV, 15-21

c) Confiar: Nada poderá nos separar da pessoa mais importante de nossas vidas: Nosso Senhor. Foi isso que nos lembrou S. Paulo em sua epístola. E a lista enumerada pelo apóstolo poderia se prolongar de acordo com a nossa própria realidade: nem os fracassos, nem a dor, nem uma doença, nem a resistência das pessoas ao Evangelho, nem a hostilidade do mundo por sermos cristãos, nem as sentenças injustas dos tribunais de juízes iníquos, nada nos vai separar do amor de Deus! 

Ao dizer os detalhes de que “estava anoitecendo”, que estava num “lugar deserto” o evangelista nos faz compreender o que se passava no coração dos discípulos: que alimentar aquela multidão parecia ser impossível. Deus é assim, nos surpreende sempre, principalmente quando o milagre parece impossível. 

Para concluir, neste tempo em que ainda tantos irmãos estão privados da Divino Alimento que é a Eucaristia convido-vos a rezar a oração que alguns jovens católicos lituanos fizeram quando estavam presos em um campo de concentração comunista, sem padres e sem Missa: 

Cansaço e fraqueza oprimiram nossa corações. Não temos alimento espiritual nem descanso corporal ou consolação. A saudade, a espera e a escravidão nos estão afogando. Jesus misericordioso, imploramos sua compaixão, nos abraçamos ao seu lado aberto. Coração misericordioso e inflamado com amor, aperte-nos com os laços de piedade e amor. Ajude-nos a retornar à nossa terra em breve, para que possamos cumprir melhor, sempre melhor, as tarefas que nos foram confiadas pelo Criador. Amém.

ZEVINI, Giorgio; CABRA, Pier Giordano. Lectio Divina para cada día del Ano, Vol. 13, Editorial Verbo Divino, Navarra: Espanha, 2003, p.153-154

Maria, a mãe da Divina Eucaristia, nos dê a graça de valorizar a presença de Filho no pão eucarístico e também dai-nos um coração generoso para socorrer nossos irmãos que sofrem com a dor da fome.

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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