Pastor Bonus

21º Domingo do Tempo Comum

 A divina pedagogia de Jesus é encantadora. Após a multiplicação dos pães, em que todos puderam ver um grande e verdadeiro milagre, Nosso Senhor proclama em alto e bom tom o mistério da Eucaristia, um milagre muito superior e que haveria de alimentar multidões muito maiores que aquelas. E eu vos pergunto: o que é aquele milagre – o da multiplicação – perto deste que nós testemunharemos logo mais no altar de nossa Igreja

Hoje, irmãos, convido-vos a duas atitudes: a renovar a decisão de seguir a Jesus e a, mais uma vez, professar claramente a fé na presença real de Nosso Senhor na Eucaristia.

1. Renovar a decisão de seguir Jesus

Antes de entrar na terra prometida o povo é chamado por seu líder, Josué, a fazer uma escolha: seguir ao Deus de Israel ou servir aos falsos deuses dos povos pagãos. Da mesma forma, no Evangelho, os discípulos são chamados a tomar uma decisão: ir embora, junto com aqueles que rejeitaram o mistério eucarístico, ou abraçar esse grande tesouro de amor. 

Assim como o povo de Israel, que viu Deus fazer tantas maravilhas em suas vidas, nós também somos testemunhas de tantas graças que Ele tem nos concedido todos os dias, somos testemunhas do cuidado e do carinho de Deus por nós, manifestado nos grandes e nos pequenos detalhes. 

É verdade que escolhemos porque antes fomos escolhidos, o Senhor mesmo nos elegeu, nos chamou, e nos fez seus discípulos. Tomar essa decisão é também uma graça, ou seja, é Deus mesmo que a coloca em nossos corações. Por isso disse Jesus: “ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai” (Jo 6, 65). 

Quem de fato escolheu ficar com o Senhor e tomou a firme decisão de segui-lo não vai embora porque alguém lhe olhou torto na Igreja, ou porque ficou sabendo de alguma fraqueza de um padre, muito menos porque acha a doutrina e as normas eclesiásticas muito severas! 

Hoje, irmãos, é dia de renovar a nossa escolha, a nossa decisão de seguir a Jesus. E fazemos isso de forma livre, pois ninguém nos obriga a professar essa fé e a viver as regras de vida próprias de um bom cristãos. É na liberdade que escolhemos esse caminho. 

E que bom seria se fizermos isso em família! Como disse Josué: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24, 15). Queridos casais, não se esqueçam do amor mútuo, como disse S. Paulo, e também não deixem de lado a salvação de vossos filhos e netos. Cuidem para que eles conheçam e vivam a fé católica. Essa é a melhor decisão que vocês podem tomar! 

2. Renovar a fé na Santíssima Eucaristia

Como é que Jesus pode dar sua carne a comer? Foi assim que murmuravam os judeus e é assim que hoje, tantas pessoas continuam questionando, dentro e fora da Igreja, a doutrina eucarística da presença real, ou seja, de que a hóstia após a consagração é verdadeiramente Jesus Cristo!

Em que outro lugar se ouviu isso? Que líder religioso disse que daria sua carne como comida? Que fundador de igreja ou religião teria a coragem, a ousadia, de dizer isso? Só quem nos ama ao extremo poderia falar algo semelhante!

Aqueles que foram embora certamente pensaram que Jesus era um louco, assim como muitos podem pensar isso de nós católicos quando dizemos que existe um homem vivo dentro do sacrário e que na missa podemos comer o corpo de nosso próprio Deus!

Os judeus, o mundo, e pior, alguns batizados, se escandalizam com as palavras do Senhor. E não só no que diz respeito à Eucaristia, mas também quando se fala do matrimônio, da confissão, dos mandamentos… Quantos vão embora! Quantas pessoas repetem: “esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60) e deixam a comunidade para se aventurar numa vida longe de Deus, se refugiam em falsas doutrinas ou em seitas igualmente distantes do Senhor. 

E observem bem: o que faz Jesus? Afrouxa a sua doutrina? Corre atrás deles e mendiga a sua atenção dizendo: “ – voltem, eu talvez tenha sido muito duro com meus ensinamentos, mas prometo que vou dizer coisas mais leves”? Não! Sua pergunta, também dirigida a nós, é decisiva: “Vocês também querem ir embora?”. Essa pergunta não é só para os judeus daquela época, mas para mim, para vocês, especialmente quando achamos difícil demais os ensinamentos de Jesus ou quando – pior ainda – procuramos reduzir a fé e a moral à medida do nosso pouco amor. 

Felizes seremos nós, se unirmos a nossa voz à voz de Pedro e dizer: para onde vamos Senhor? Só em ti encontramos as palavras que dão sentido à nossa vida! As vossas palavras – por mais duras que sejam – são a verdade! Sim, uma verdade que incomoda, que nos tira de nossa preguiça de amar, mas são palavras de vida e de vida eterna! 

E, por fim, podemos acrescentar: Senhor, nós cremos na Eucaristia, acreditamos que é verdadeiramente a sua carne, aquela que nasceu da Virgem Maria, que é verdadeiramente o seu sangue, o mesmo que banhou o sagrado lenho da cruz. E por crer na Eucaristia nos aproximamos com reverência deste santo Sacramento. Como vou viver longe, Senhor, deste sacratíssimo tesouro? 

Onde encontraremos, Senhor, quem nos ensine o caminho do Céu, senão aqui, na tua Igreja? Em que outro lugar será possível nos alimentar com a sua carne senão aqui, neste altar? 

Maria, mãe da fé, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

Texto 01: Homilia do Papa Bento XVI

Esta pergunta provocatória não se destina só aos ouvintes de então, mas atinge os crentes e os homens de todas as épocas. Também hoje muitos permanecem “escandalizados” diante do paradoxo da fé cristã. Os ensinamentos de Jesus parecem “duros“, demasiado difíceis de aceitar e de pôr em prática. Então há quem rejeita e abandona Cristo; há quem procura “adaptar” a sua palavra às modas dos tempos desvirtuando o seu sentido e valor. “Também vós quereis retirar-vos?”. Esta preocupante provocação ressoa no nosso coração e espera de cada um uma resposta pessoal; trata-se de uma pergunta feita a cada um de nós. Jesus não se contenta com uma pertença superficial e formal, não lhe é suficiente uma primeira e entusiasta adesão; ao contrário, é necessário participar toda a vida “no seu pensar e no seu querer”. Segui-l’O enche o coração de alegria e dá sentido pleno à nossa existência, mas inclui dificuldades e renúncias porque com muita frequência se deve ir contra a corrente. (Papa Bento XVI, angelus, 23 de agosto de 2009). 

Texto 02: Primeiro é preciso crer!

Isto deve ficar claro: não é preciso entender tudo para crer! Os discípulos, naquele momento, certamente ainda estavam com o coração cheio de dúvida a respeito do mistério da Eucaristia, mas mesmo assim, deram o passo da fé. Eis uma importante lição para nós: primeiro nós cremos, com toda a confiança, nas palavras do Senhor, porque Ele é Deus, ele não mente, e depois, num ato seguinte de amor, buscamos entender, colocando nossa razão e inteligência a serviço dos mistérios revelados. 

Texto 03: Ecoar a voz de Pedro

Hoje, aqui nesta Igreja, como aquele dia em Cafarnaum, somos nós que vamos, fazendo eco às palavras de Pedro, repetir a nossa decisão de segui-lo: a quem iremos Senhor? Esta vida não vale a pena ser vivida longe de Ti, distante dos teus ensinamentos e sem o alimento para a nossa vida que é a Eucaristia.

Texto 04: Quem ama de verdade?

Chama a nossa atenção as palavras de São Paulo que, ao orientar as famílias de Éfeso, e também as nossas hoje, convida especialmente aos casais que se amem com um amor muito grande, e coloca como medida um amor incomensurável que é o de Cristo por sua Igreja. Se mostra amor por uma pessoa, por exemplo, quando se dá um presente ou quando se manifesta carinho, mas na verdade, a maior expressão do amor por alguém está no sofrimento. Observe isso: quer saber quem te ama de verdade? Veja quem é capaz de sofrer por você! Assim deveria ser na vida matrimonial, uma contínua doação, de um pelo outro. Desta forma é possível compreender a submissão, de que fala São Paulo, não como uma estrutura de humilhação, mas como um ato de amor, que lembra o maior do amores que é o de Cristo por sua Igreja.

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