Pastor Bonus

23º Domingo do Tempo Comum

Um título que se pode dar à primeira parte do Evangelho que hoje foi proclamado é “Etapas e normas para a correção fraterna”. É uma lição sagrada, que todos nós devemos aprender neste dia com o Divino Mestre, Nosso Senhor. Trata-se de um assunto sem dúvida delicado, e que deve ser abordado com igual delicadeza.

A primeira pergunta a se fazer é: por que se corrige? E não há outra resposta a não ser: por amor! Corrigir é uma importante obra de caridade, da qual nos fala São Paulo na epístola de hoje: “quem ama o próximo está cumprindo a Lei” (Rm 13, 8). Isso porque quem corrige ganha o irmão: liberta-o do mal e faz torná-lo à vida na Verdade. É o que também disse o Profeta Ezequiel, na primeira leitura, sobre a missão profética.  

O problema é que, se um por um lado não sabemos como corrigir, por outro também não sabemos aceitar as correções. Por isso essa lição serve para todos! Porque ora teremos que corrigir, ora deveremos ser corrigidos.

De modo especial, devemos recordar-nos, que a tarefa de corrigir é de modo especial confiada às autoridades, e a primeira delas são os pais. Com sabedoria eles devem ajudar no crescimento dos seus filhos. Vê-se atualmente o infeliz abandono desta missão, que é tão importante e necessária

Além disso, convém lembrar-se que: se existe a possibilidade da correção, é por existe o certo e o errado. Hoje, a mentalidade relativista nos faz pensar que essa distinção não existe, mas não é bem assim. O certo será certo, mesmo que ninguém faça o certo; e, o errado continua errado mesmo que todos cometam o erro. 

O que se deve corrigir? De modo particular as faltas graves. E aqui é importante recordar: tais faltas graves são aqueles que destroem a nossa amizade com Deus, ou seja, o não cumprimento dos seus mandamentos

E assim, como quando estamos doentes precisamos ser submetidos a um tratamento para ser curado, o Senhor nós apresenta os “protocolos” para uma sadia recuperação do membro doente deste Corpo que é a Igreja. Eis suas três etapas: (1) conversa privada; (2) presença de testemunhas; e, por fim, (3) entrega ao juízo da Igreja. 

1ª Etapa: conversa privada

É necessário que, constatado que se trata de uma verdadeira falta, se sentir motivado unicamente pela caridade que impulsiona a ajudar o irmão. E tudo começa assim: a sós. Primeiro sempre se corrigi em segredo. Isso por que a justiça e a caridade mandam que não se divulgue o erro de um irmão. Tanto é verdade que disse São Tiago: “Não faleis mal uns dos outros” (Tg 4, 11).

Esta ocasião é inclusive a oportunidade de ouvir o outro lado e de inclusive desfazer os mal entendidos, mas sempre em particular. 

A correção não é um ato de humilhação, acusação ou crítica – quem corrige assim, corrige errado. Mas é um ato de amor. Como fazia Dom Bosco quando tinha que corrigir alguns dos seus meninos: antes de tudo dizia daquilo que se esperava deles e não usava palavras que pudessem dar a impressão de quem errou é um fracassado. Por isso é proibido qualquer correção que humilhe, que envergonhe e que amargure o coração de que está sendo corrigido!

2ª Etapa: contar com as testemunhas 

É claro que o sucesso da correção não depende de nós. Apesar das melhores intenções e métodos, depende do outro. Mas esse segundo passo é necessário. Não devemos desistir na primeira, e fazemos isso porque a salvação de nosso irmão é preciosa!

No segundo passo, caso o primeiro não seja suficiente, se convida para a conversa as testemunhas. Assim tem-se a certeza de que não é uma visão distorcida de quem corrige e, além disso, a presença de outras pessoas motivará o arrependimento do irmão. Como dizia a lei antiga (Cf. Dt 19,15): o fato de ser três pessoas garante uma justa examinação da situação. 

3ª Etapa: entregá-lo ao juízo da Igreja

O Senhor não está falando aqui de uma correção pública, não é isso. Mas sim de contar com a ajuda dos pastores da Igreja para salvar o irmão. Isso porque, se esses dois primeiros remédios não tiveram eficácia, os ministros da Igreja são guardiões de outros remédios, sobre os quais ela tem poder tendo em vista a salvação das almas

E para confirmar que a Igreja tem poder para corrigir e ensinar, Jesus fala-nos sobre atar e desatar, em outras palavras, de permitir ou proibir.  

Nunca a Igreja corrige com fim de fazer mal alguém, mas para curar. Por isso se diz que as penas na Igreja são “medicinais“, ou seja, servem para a cura. Às vezes pode ter sabor amargo, mas sabemos muito bem que há muitas doenças que só se trata com remédios assim. Desta forma devemos compreender, por exemplo, a pena da excomunhão

Por fim, fala-nos o Senhor sobre a oração. Isso por vários motivos: o primeiro deles é que o grande remédio para a cura de quem está no erro é a oração. Trata-se de um remédio eficacíssimo. Mas toca também nesse assunto para confirmar o poder da Igreja unida em oração

Peçamos ao Senhor a graça de saber cumprir essa divina obrigação e de aceitar as correções feitas pelo nosso bem. Que o Santo Espírito nos inflame com a virtude da caridade, aquela que inflama o divino Coração de Jesus, para que coloquemos em prática o que hoje aprendemos a fim de ganhar nossos irmãos para Cristo. Como disse o salmista: “que hoje não fechemos o coração, mas escutemos a voz do Senhor!”

Maria, mãe do bom conselho, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


TEXTOS PARA A MEDITAÇÃO

Santo Agostinho: Corrigir por amor

O Senhor nos adverte que não devemos desprezar os nossos pecados, nem buscar o que devemos repreender, mas ver o que devemos corrigir: devemos corrigir com amor, não com desejo de fazer dano, mas com a intenção de corrigir; Se não o fizeres, tornaste pior do que aquele que peca: ele comete uma injúria e, ao cometê-la, fere-se com uma ferida profunda: tu desprezas a ferida do teu irmão, porque o teu silêncio é pior do que o seu ultraje. (Catena Áurea Mt XVIII)

São Jerônimo: Onde dois ou mais

Também podemos compreender esta passagem no sentido espiritual, no sentido de que onde o espírito e a alma e o corpo se unem, e não oferecem o espetáculo das vontades que guerreiam, obterão o que que eles pedem ao Pai; porque é certo que quando o corpo quer o mesmo que o espírito, o pedido é de coisas boas. (Catena Áurea Mt XVIII) 

Santo Agostinho: Ganhar teu irmão 

Devemos corrigir com amor; não com o desejo de causar mal, mas com vontade de corrigir. Se formos assim, cumpriremos com exatidão o que hoje nos foi aconselhado: Se teu irmão pecar contra ti, corrige-o a sós. Por que o corrigir? Porque te dói que ele tenha pecado contra ti? Se se fazes por amor próprio de nada vale. Se o fazes por amor a quem pecou, é uma obra excelente. (…) Se te escutar, disse, terás ganhado a teu irmão. Faça, pois, por ele, para ganhar a ele. Se ao fazer isso tu o ganhas, não o fazendo ele se perde. (Sermão 82). 

Catecismo da Igreja Católica

As palavras ligar e desligar significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará também excluído da comunhão com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa comunhão, também Deus o acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus. (CIC, n. 1445). 

Antonio Royo Marin, OP

Até o pecador pode exercer a correção fraterna, ainda que o seu próprio pecado seja um obstáculo à sua eficácia. Mas se humildemente repreende o ofensor, não peca nem ganha dupla condenação, mesmo que se sinta culpado na própria consciência, ou na de seu irmão, do mesmo pecado que reprova ou de outros semelhantes. Quando se prevê que a correção piorará a situação do pecador, endurecendo-o ainda mais, deve ser omitida se for simples correção caritativa; mas não se for uma correção judicial do superior, pois ele deve manter a ordem da justiça e promover o bem comum por meio da lição dos outros.” (Teologia de Caridad, BAC, Madrid, 1963, p. 156).

Carta Circular sobre os Castigos (São João Bosco)

É possível ler esta obra completa clicando no link acima

A caridade que vos recomendo é a que usava São Paulo para com os fiéis recém-convertidos à Religião de Jesus Cristo, que muitas vezes o faziam chorar e lastimar-se quando via que não eram dóceis e não correspondiam ao seu zelo. Por isso, lembro a todos os diretores que se deve começar pela correção paternal, feita em particular, ou, como se costuma dizer, in camera charitatis.

Em público, nunca repreender ninguém a não ser para impedir ou reparar um escândalo.

Se depois da primeira admoestação não se notar melhoria alguma, é conveniente recorrer à mediação de outro superior que tenha sobre o culpado algum ascendente. E nunca nos esqueçamos de pedir as bênçãos, de Deus.

Quereria que o salesiano fosse como Moisés, na sua solicitude de aplacar o Senhor, justamente indignado contra Israel, seu povo escolhido.
Tenho verificado que raramente aproveita um castigo repentino e infligido antes de se empregarem outros meios. (…) Sede perserverantes e bondosos, e Deus vos tornará senhores até dos corações menos dóceis.

E tive de me convencer que os professores mais intransigentes com os alunos são os menos severos para consigo mesmos.
Por conseguinte, se queremos saber mandar, temos primeiro de saber obedecer, procurando impor-nos mais com o amor do que com o temor. (…)

Consideremos como filhos aqueles sobre quem tenhamos de exercer alguma autoridade. Ponhamo-nos quase ao seu serviço, como Jesus, que veio para obedecer e não para mandar, evitando o mínimo assomo de prepotência. (…)

O nosso querido e amável São Francisco de Sales, como sabeis, tinha-se imposto a regra severa de sua língua não proferir uma só palavra enquanto tivesse o coração agitado. Costumava dizer, de fato: Receio perder, num quarto de hora, a pouca doçura que, durante vinte anos, procurei entesourar, gota a gota, como orvalho, no vaso do meu coração. ‘Uma abelha emprega vários meses em fabricar um pouco de mel, que um homem engole, dum trago’.

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