Pastor Bonus

24º Domingo do Tempo Comum

Cícero, escritor da Roma antiga, dizia que não há nada que faça o homem mais semelhante a Deus do que o perdão. Eis diante de nós um dos grandes desafios dos ensinamentos de Jesus, que nos é proposto nas leituras bíblicas desta Santa Missa!

Por isso, falemos desses dois aspectos: a ordem para perdoar e o motivo para dar o perdão. Por fim, recordemos de alguns conselhos práticos. 

1. Ordem: Perdoar sempre!

Talvez, ao propor esta pergunta ouvimos, Pedro tenha se lembrado da passagem bíblica na qual se diz que o justo peca sete vezes (Cf. Prov. 24, 16). O número sete na Bíblia significa, na maioria das vezes, a perfeição. Já é uma boa quantia. Mas o que nos impressiona é a resposta desafiadora de Jesus: “não sete vezes, setenta vezes sete!”

Essa quantidade apresentada por Nosso Senhor possui vários significados, a mais conhecida é que o perdão deve ser dado sem limites. Mas há uma outra boa explicação, dada por S. Agostinho. Ele observou que na genealogia de Jesus segundo Lucas se encontram 77 gerações (Cf. Lc 3, 23-38). Portanto, esse número poderia também ter mais um significado: todas as gerações são alcançadas pela misericórdia! (Cf. Sermão 87). 

2. Motivação: por quê perdoar? 

E como um bom pedagogo, Jesus nos ensina e nos motiva ao perdão, ilustrando esse ensinamento com uma parábola: a do servo impiedoso. A partir dela podemos recordar de dois importantes motivos para perdoar:

a) Porque fomos perdoados 

Há quem diga que, feitos os cálculos, a dívida desse primeiro empregado corresponderia hoje a aproximadamente 16 bilhões de reais! Uma fortuna!

Como não deveria estar o coração daquele empregado depois daquele ato tão generoso que foi o perdão da dívida por parte de seu credor? Podemos imaginar que muito feliz! Pois bem, da mesma forma deve estar o nosso coração, pois de quantas dívidas o Senhor já nos perdoou e tem nos perdoado

Mas, observem a atitude daquele primeiro servo, o que foi perdoado: depois de ter recebido tamanho benefício, ao encontrar um outro que lhe devia bem menos, lançou-se com fúria contra ele cobrando que este lhe devia. Que triste! Este empregado ingrato somos nós quando recusamos a distribuir a alegria de ser perdoado.

Entre nós não pode vigorar aquela regra que diz: “olho por olho e dente por dente”. Agora a nova lei é: faça aos outros o que Deus fez contigo! A vingança deve dar lugar ao amor. E um ensinamento como esse não encontraremos em nenhum outro lugar, a não ser nos lábios Daquele que na cruz gritou: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!” (Lc 32, 34).

A grande lição desta parábola é: todos somos devedores de Deus e credores de nossos irmãos. Por isso que no quinto pedido do Pai Nosso dizemos: “perdoai-nos as nossas dívidas, como nós perdoamos os nossos devedores”. Quem reza o Pai Nosso diz a Deus que deseja o perdão e está disposto a perdoar. Eis a grande motivação para dar o perdão: a nossa dívida foi perdoada!

b) Porque seremos julgados 

O livro sapiencial, que ouvimos na primeira leitura, nos dá três conselhos para não demorar em dar o perdão, e o primeiro deles é “lembrar-te da morte“. Pois quem se recorda que em breve será julgado, não demora em dar o perdão. O Evangelho, por sua vez, termina com o castigo do servo impiedoso que não deu ao irmão a alegria do perdão.

3. Alguns conselhos práticos:

Hoje convêm relembrar alguns conselhos: 

a) Não só dar, mas também pedir o perdão. Em muitas ocasiões ao perdoar será necessário também acrescentar: “perdoa-me!”.

b) Buscar a Confissão Sacramental: Quem com frequência se aproxima do sacramento da confissão e a faz com sinceridade, terá um coração mais inclinado a perdoar os irmãos. 

c) Aprender com os exemplos dos santos. Para citar um, lembremos do Beato Padre Miguel Pró, jesuíta mexicano, que antes de ser fuzilado disse aos seus assassinos: “Não só os perdoo-os, mas também os agradeço de todo o coração”. 

Hoje, unimos nossa voz com a de São Francisco de Assis, que rezava: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz, onde houver ódio que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdão”.

Maria, refúgio dos pecadores, rogai por nós!  

(Pe. Anderson Santana Cunha)


TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

Catecismo da Igreja Católica

“A parábola do servo desapiedado, que conclui o ensinamento do Senhor sobre a comunhão eclesial (Cf. Mt 18, 23-35), termina com estas palavras: «Assim procederá convosco o meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão do fundo do coração». É aí, de fato, «no fundo do coração», que tudo se ata e desata. Não está no nosso poder deixar de sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que se entrega ao Espírito Santo muda a ferida em compaixão e purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão”. (CIC, n. 2843). 

Exemplo de uma santa

Santa Juana Francisca de Chantal foi um dia gravemente ofendida por um de seus colonos. Ele alegou, falsamente, que já havia pago o aluguel que devia. Com sua audácia, afirmou que a santa havia arrancado do livro de contas a página que continha o registro de seu pagamento. O Barão de Thorens, genro da santa, que presenciou a cena, indignado, quis castigar o insolente; mas a Senhora de Chantal o impediu, exclamando: “Ah, meu filho! O que seria de nós, se Deus nos castigasse cada vez que temos a infelicidade de ofendê-lo?” Então, com calma e bondade angelicais, ela se virou para o colono e disse: “Meu amigo, comporte-se como deveria!” E ela fez o sinal da cruz na testa do infeliz. O pobre homem estava confuso, incapaz de explicar o que estava acontecendo com ele. Ele se ajoelhou diante da Senhora, movido por sua bondade, e humildemente pediu seu perdão. A santa disse-lhe então: “Perdoo-te de verdade. Achas que sou capaz de mentir a Deus quando lhe digo: perdoa-nos as nossas dívidas, como perdoamos aos nossos devedores?” (LEHMANN, Juan B. Salió el Sembrador. Tomo IV. Ed. Guadalupe: Argentina, 1947, p. 497)

São João Paulo II

“Setenta vezes sete”: com esta resposta o Senhor deseja esclarecer a Pedro a nós que não devemos colocar limites no nosso perdão ao próximo. Assim como o Senhor é sempre pronto ao perdão nós também devemos, da mesma forma, sermos sempre prontos a perdoar-nos uns aos outros. E como é grande a necessidade do perdão e da reconciliação no nosso mundo de hoje, especialmente na nossa comunidade, nas nossas famílias, no nosso próprio coração! Eis porque o sacramento especial da Igreja para o perdão, o sacramento da Penitência, é um dom do Senhor de valor extraordinário. 

No sacramento da Penitência, Deus nos faz chegar ao seu perdão em um modo muito pessoal. Por meio do ministério do sacerdote, nós vamos ao nosso Salvador que nos ama, com o fardo dos nossos pecados. Nós confessamos que pecamos contra Deus, contra o nosso próximo. Nós manifestamos o nosso desprazer e pedimos o perdão a Deus. Depois, por meio do sacerdote, ouvimos o Cristo que nos diz: “Filho, teus pecados estão perdoados” (Mc 2, 5): “Vá e de agora em diante não peques mais” (Gv 8, 11). Nós também não podemos ouvi-lo dizer, enquanto estamos cheios de sua graça salvadora: “Faça chegar aos outros, setenta vezes sete, este mesmo perdão, esta mesma misericórdia”? (Ângelus, 16 de setembro de 1984).

Compartilhe: