Pastor Bonus

28º Domingo do Tempo Comum

Antes da comunhão, ao apresentar o Santíssimo Corpo do Senhor, o sacerdote pode, entre as várias fórmulas, dizer: “Felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro!”. Eis nos aqui, irmãos, felizes porque estamos neste divino banquete, que nos foi prometido e preparado por Deus!

A imagem de um rico banquete se repete nos textos escolhidos pela Igreja para esta Santa Missa. Seja na profecia que ouvimos do profeta Isaías, bem como na parábola que Nosso Senhor contou no Evangelho, o itinerário é o seguinte: [1º] o Senhor nos fez uma promessa e [2º] cumpriu essa promessa nos fazendo um convite e [3º] colocando as condições para participar desta festa de casamento. 

1. Promessa

O quadro pintado pelas palavras do profeta Isaías é belíssimo. O profeta usa dessa imagem, de banquete com muita comida e de boa bebida para nos falar da felicidade do reino messiânico. É claro que se trata de uma imagem, símbolo de uma felicidade duradoura, e não de uma simples saciedade física. 

Mas a felicidade não para por aí! O Senhor promete eliminar o pior dos inimigos: a morte. Que alegria poder ouvir isso: não haverá mais luto, a morte desaparecerá, e Deus enxugará toda a lágrima porque não haverá mais motivo para chorar!

Trata-se da promessa da salvação, da vida eterna! Que outro lugar poderia ser esse senão o Céu? Por isso o salmista entoou: “Na casa do Senhor habitarei pelos tempos infinitos” (Sl 22, 6).

Se na primeira leitura ouvimos a promessa, no Evangelho escutamos o cumprimento: o rei preparou um banquete, a festa está pronta! Todas as promessas de Deus se cumprem com a vinda de Nosso Senhor. Ele é o “Sim” de Deus para todas as suas promessas1

A parábola que ouvimos é surpreendente. Primeiro, pela recusa dos que foram convidados, e depois pelo trágico fim do convidado despreparado que estava na festa. Destas duas situações podemos considerar duas características sobre o banquete: o convite e a condição para participar dele. 

2. Convite

Jesus fala-nos de uma festa de casamento. E quem são os noivos? São Deus e a humanidade, são Cristo e a Igreja2 , é também o casamento entre Cristo e a nossa alma. 

Se na primeira leitura havia a alegria pela esperança da promessa, no evangelho temos a tristeza de ver que, diante da promessa realizada, os convidados a desprezam. Observem que existem dois grupos de convidados: os primeiros, que desprezam, e que são os contemporâneos de Jesus, e o segundo grupo representa toda a humanidade.

E vejam, Deus não nos obriga a nada, nem mesmo a participar deste feliz banquete! Ele convida. E assim como o rei da parábola, Deus é insistente. Manda os empregados várias vezes: Deus insiste em nossa conversão. 

Após a rejeição dos primeiros, o rei manda convidar a todos. Somos nós aqueles doentes, coxos, cegos, aqueles encontrados pelo caminho, chamados pelo Senhor, para tomar parte no banquete! Então a festa ficou cheia daqueles que estavam descartados. Portanto todos são chamados, todos podemos dizer: “Ele me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2, 20). 

Este convite para a festa, disse S. João Paulo II numa homilia, é o chamado para entrar na Igreja: “O Senhor nos chamou a tomar parte de sua Igreja una, santa, católica e apostólica. Por meio do único batismo somos enxertados em um único Corpo de Cristo”3

Podemos aqui ampliar a nossa visão: não somos apenas os chamados, mas somos também aqueles que devem chamar os outros para esta alegria. Levar ao Senhor os outros como fomos levados por alguém até Ele, dizia S. Inácio de Antioquia4

3. Condição

Sem dúvida o fim da parábola causa, a primeira vista, um grande espanto. Como pode, depois de tantas recusas, o rei tratar de tal forma um convidado simplesmente porque não estava com a roupa de casamento. Digamos logo: é evidente que a questão não é material, mas espiritual

Esse traje é, como disse S. Paulo, é o “revestir-se de Cristo”5 . Assim ensinava S. Tomás, esse trecho do Evangelho: “Que é este vestido? Cristo!”6. Nos revestimos de Cristo, lembrava o doutor da Igreja, através dos Sacramentos, especialmente o Batismo e a Eucaristia. 

As “vestes para as núpcias” são as roupas limpas e brancas do nosso batismo, símbolo do nosso estado de graça (de perfeita união com Deus) e que sujamos quando pecamos. Elas devem sempre ser lavadas no sangue do Cordeiro através da confissão

Essa “roupa de casamento” também pode ser interpretado como o “vestido de noiva” da alma, em condição de “casar-se”, ou seja, de unir-se com Jesus. É a união esponsal da alma cristã com o seu amado no seu caminho de progresso na vida espiritual.

A pergunta do rei é uma grande advertência a todos que estão aqui, nesta Igreja, para o banquete nupcial do cordeiro: “amigo, como você entrou aqui?” Nos faz olhar para dentro de nós mesmo, para o nosso coração, e nos perguntar sobre como temos nos preparado interiormente e exteriormente para receber a Eucaristia. 

Acolhamos com a alegria o convite para a festa e nos vistamos com os trajes nupciais para o banquete do Cordeiro. E com S. Paulo, em meio as nossas dificuldades, rezamos com fé: “tudo posso naquele que me dá força”. Amém. 

(Pe. Anderson Santana Cunha) 

1 Cf. 2Cor 19-20. 2 Cf. Ef 5, 25. 3 Homilia, 13 de outubro de 2002. 4 Cf. Epístola a Policarpo, 1, 2. 5 Cf. Rm 13, 14; Gl 3, 27. 6 Cf. Super Evangelium S. Matthaei lectura, cap. 22, lectio 1.


TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

DESCULPAS PARA NÃO IR 

Ajudai-nos, Senhor, a deixar-nos as más e vãs desculpas e a ir à vossa ceia… Não seja a soberba impedimento para ir à festa, levantando-se com arrogância, nem nos apegar à terra uma curiosidade má, distanciando-nos de Deus, nem deixe que a sensualidade impeça as delícias do coração. Faça-nos vir… Quem veio à ceia senão os mendigos, os enfermos, os coxos, os cegos? (…) Cheguemos com os pobres, pois nos chama quem, sendo rico, se fez pobre por nós, a fim de enriquecer com sua pobreza aos pobres. Venhamos com os enfermos, porque os que estão saudáveis não precisam de médico mas o que estão com a saúde debilitada. Chegaremos aleijados e te diremos: ‘endireite meus passos segundo a tua palavra’ (Sl 118, 113). Viremos como cegos e te pediremos: ‘ilumina os meus olhos para que eu nunca durma na morte’ (Sl 12,4).” 

(Santo Agostinho, Sermão 112, 8) 

A VESTE NUPCIAL

“Certamente, o ser chamado não foi por próprio mérito, senão de graça. Logo teria que corresponder a graça com a obediência, e não, depois de tanta honra, cometer tamanha maldade. – Mas eu – você me diz – não recebi tantos benefícios como os judeus. – A verdade, você recebeu maiores. Porque o que durante tanto tempo os fui preparado a eles, tu os recebeu de uma só vez, sem merecê-los. (…) Portanto o castigo reservado aos negligentes será muito grande. Porque assim como os judeus ofenderem a Deus por não ter ido ao banquete, assim também tu por haver sentado à mesa com uma vida corrompida. Porque estar com vestes sujas não quer dizer outra coisa senão este mundo de vida impura. (…) Escutai vos que, depois de ter participado dos divinos mistérios e assistido o banquete das bodas, veste vossas almas de ações sujas. Escutai de onde fostes chamados: de uma encruzilhada. E o que eras então? Coxos e mutilados de alma, que é muito pior que sê-lo de corpo. Respeitai a benignidade daquele que vos chamou e ninguém venha com vestidos sujos. Cuidemos diligentemente da roupa de nossas almas.”

(S. João Crisóstomo, Obras de San Juan Crisóstomo, homilia 69, 1-2, BAC, Madrid, 1956 (II), 404-412).

Compartilhe: