Pastor Bonus

30º Domingo do Tempo Comum

O Senhor não se cansa de encher-nos de esperança! Que belas as palavras da primeira leitura, que convidou o povo de Israel à alegria e convida também a nós hoje a à felicidade, pois o Senhor está conosco! E que tocante essa experiência que acabamos de ouvir no evangelho, ela nos mostra com clareza que Jesus é o libertador esperado por Israel. 

Devemos começar nossa meditação por este ponto: a história de Bartimeu é um resumo da nossa história. Sim, o Senhor Jesus curou aquele cego, mas Ele o curou pensando em nós, que neste domingo ouviríamos este Evangelho. Ele o curou para que nós fôssemos também curados, não da cegueira física, mas de uma outra muito pior: a cegueira espiritual. Somos nós o povo enfermo, cego, coxo, leproso, perdido, que foi encontrado pelo Messias!

Quanta coisa teríamos a aprender com aquele pobre cego, por exemplo, a ter uma fé humilde e sincera, ou a ser insistente e perseverante, ou ainda a não desanimar quando o mundo tenta sufocar a nossa voz, ou a ter coragem de lançar fora a capa do velho homem fora, ou a não ter medo de fitar os olhos em Jesus e não perdê-lo de vista nunca mais… 

Para que aquele mesmo milagre também aconteça conosco hoje, convém por isso meditar sobre as três etapas da cura do cego de Jericó: suplicar a Jesus, ir até Ele e segui-lo.

1. Suplicar a Jesus

Jesus está saindo de Jericó e caminha rumo à Jerusalém. Essa informação não é colocada ali por acaso: Jericó está abaixo do nível do mar e Jerusalém está no alto. O Senhor nos encontra lá embaixo, no fundo do poço, para nos levar para cima, para nos salvar. 

O encontro de Jesus com Bartimeu é a imagem do encontro de Deus com a humanidade. Do encontro com o homem que não é capaz de enxergar e que vive de esmolas, condição que podem simbolizar muito bem a escravidão do pecado, e que encontra Aquele que é capaz de restituir-lhe a dignidade. É a última cura antes da paixão, segundo s. Marcos, e isso faz todo o sentido. 

Aquele homem, que vivia nas trevas, ao ouvir falar que Jesus passava, não perdeu tempo. Percebeu que aquela poderia ser a sua única e última chance. E grita, porque sabe que Jesus pode ouvi-lo. Grita como um indigente, como um mendigo – já acostumado a ter que implorar para ter algumas moedas – mas sabe que agora o que ele pode ganhar é muito mais que ouro e prata. 

Disse Santo Agostinho, meditando esse Evangelho: temo que Jesus passe e não volte (1). Aprendamos com Bartimeu, irmãos, a não perder a ocasião, a não deixar Cristo passar e eu não perceba e perca a graça que só Ele pode me dar. O Senhor passará aqui, ou melhor, Ele está aqui, desde o início da Missa neste Tabernáculo! Ele será nosso alimento e viverá em n´ós. Ainda que eu e vocês não o vejamos – como Bartimeu não viu, mas sabia que Ele estava ali – creiamos, é o Senhor! 

2. Ir até Cristo

Ao ser questionado por Jesus, aquele homem reconheceu a sua enfermidade: “Senhor, que eu veja”, Senhor, sou cego! É preciso dar-se conta de que não estamos enxergando. É preciso reconhecer a cegueira, quando se perde a luz da fé e quando se sepulta a si mesmo na escuridão dos pecados, distante de Deus e da Igreja. Nunca nos acostumemos com as trevas do erro e pecado!

E a nós, hoje, é dada uma graça maior que a que foi dada à Bartimeu. Hoje também somos curados através dos Sacramentos, que são o toque do dedo de Deus, que nos alcança mediante a ação dos sacerdotes, que são os ministros escolhidos por Cristo para prolongar a sua ação salvífica no mundo.

De modo especial o batismo e a confissão nos abrem os olhos, nos iluminam! E mais especialmente ainda a Eucaristia que clareia toda nossa existência. E para que esses sacramentos aconteçam, precisamos dos sacerdotes, que participam do único e eterno sacerdócio de Cristo. E que belo trecho da Carta aos Hebreus ouvimos hoje sobre o sacerdócio! (cf. Texto para meditação, n. 2)

3. Seguir a Luz do mundo

Curado, Bartimeu só tinha olhos para o Senhor, por isso vai atrás Dele, tornar-se seu discípulo e nunca mais deixou de ter os olhos fixos naquele que lhe fez ver as coisas como realmente são. Que nós também, curados por aquele que nos faz enxergar de Verdade, tenhamos única e real alegria que é segui-Lo. 

Por fim, irmãos, com muita sinceridade, reconheçamos as sombras nas quais estamos envolvidos. Tenhamos a coragem de Bartimeu. E com a mesma graça e força Ele nos tocará, e mais: nos alimentará. Que belíssima oração a que aprendemos com aquele cego e que pode servir como nossa oração, especialmente durante o momento de ação de graças após a comunhão: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!

Maria, os vossos olhos misericordiosos a nós volvei!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) cf. Sermão 88, 13


Textos para meditação 

[1] “Também a nós, que estamos sentados próximo ao caminho das Escrituras e sabemos em que consiste nossa cegueira, (…) se pedirmos com todo o empenho, (…) o Senhor nos tocará, abrirá os olhos de nossas almas (…) e afastará de nossos sentidos as trevas da ignorância, (…) a fim de que O vejamos e sigamos, única finalidade que Ele tinha ao nos conceder a vista” (Orígenes, Comentário ao Evangelho segundo Mateus, T. XVI, n. 11: MG 13, 731).

[2] Sobre a segunda leitura podemos destacar dois detalhes: 1) O padre é tirado do meio dos homens, o padre sempre vem de uma paróquia, nasce no seio de uma família, não cai do céu! Por isso rezemos para que nossa paróquia dê padres à Igreja. 2) Ele é cercado também de fraquezas para que assim saiba ter compaixão dos fracos. Vejam bem! Isso não é para legitimar os pecados de um padre, mas para que ele se coloque sempre como o primeiro, entre os irmãos, no caminho da conversão. 

[3] Que bela promessa a do salmo: os que semeiam entre lágrimas, ceifarão com alegria. São as lágrimas da nossa conversão, do nosso arrependimento, da nossa tristeza longe de Deus, são as lágrimas que se transformam em alegria, da vida perto do Senhor, da alegria própria de filhos libertos pelo Pai.

[4] Que tenhamos a mesma coragem de pedir, de suplicar ao Senhor. Ele está ao alcance de nossa voz, através da oração feita com confiança. Por isso peçamos: “Senhor, que eu veja! Que eu seja capaz de observar os obstáculos que me impedem de colocar seus ensinamentos em prática. Que eu possa ver as maravilhas cotidianas de vossa graça em minha vida e em minha família. Que eu contemple a tua misericórdia operada através dos sacramentos, especialmente do Batismo, da Penitência e da Eucaristia”. 

Compartilhe: