Pastor Bonus

3º Domingo da Quaresma

São João nos diz que este episódio, que acabamos de ouvir no Evangelho, aconteceu perto da Páscoa. Nos dias como esses que estamos vivendo, nós que já estamos próximos da celebração pascal deste ano.

Este fato é bastante emblemático: uma atitude que alguns poderiam não esperar de Jesus. Talvez alguém ainda fiquei surpreso com tal gesto ou escandalizado. Parece que tudo o que ouvimos não combina com um Jesus “paz e amor” que se ensina por aí.

Jesus se coloca contra uma multidão de vendedores. Ele poderia ter sido linchado pelos cambistas. Mas eles o observam sem conseguir ter qualquer reação. Além disso, havia a guarda no Templo, para garantir a ordem, ou seja, Jesus poderia ter sido preso como um agitador ou mesmo um baderneiro.

Mas esta cena, descrita com realismo pelo evangelista, não é um espetáculo da parte de Jesus. Esta passagem nos revelam muita coisa sobre Nosso Senhor: o seu zelo pelo Templo e sua ira divina diante da depravação das coisas sagradas.

Para esse domingo, podemos considerar três acepções importantes sobre o templo, que Jesus aproveita desta ocasião para nos falar: primeiro enquanto o lugar sagrado, depois como o Corpo de Cristo Ressuscitado e a Igreja e por fim, o corpo e a vida do cristão.

a) Templo: lugar sagrado de culto

Os judeus tinham grande amor pelo Templo de Jerusalém. Era o local da presença de Deus (onde estava a Arca da Aliança). Os vendedores, que estavam a serviço dos sacerdotes, transformaram aquele lugar sagrado em lugar de comércio. E pior, em um espaço de exploração e de relações comerciais geralmente desleais. 

O Senhor nos ensina que devemos ter grande respeito pelos nossos lugares sagrados. As nossas igrejas, capelas, oratórios, são lugares especiais pois, são reservadas ao culto divino. Diferentes do Templo de Jerusalém, as nossas Igreja não tem apenas símbolos da presença divina, mas conservam o Corpo de Deus nos sacrários.

Por isso, também nós devemos ser zelosos com a Igreja enquanto templo material: o cuidado com a beleza e a limpeza do lugar sagrado, como também o nosso comportamento dentro dela: o modo de se vestir, o silêncio antes, durante e depois das celebrações, a reverência através da genuflexão, são alguns dos sinais que mostram o nosso respeito pela presença do Senhor.

b) Templo: corpo do Senhor e a Igreja

As palavras profetizadas por Jesus no evangelho se cumpriram na sua Páscoa: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei.” (Jo 2, 19) E depois explica o evangelista: “Jesus estava falando do Templo do seu corpo” (Jo 2, 21). De fato, ao terceiro dia, o seu Templo foi reconstruído, o seu Corpo foi ressuscitado, e apareceu de uma maneira nova, totalmente gloriosa. 

Jesus é o novo Templo, a verdadeira presença de Deus entre os homens, e todas as pessoas que se unem a Ele se tornam também templos do Espírito Santo. Na ressurreição de Jesus nasce o novo povo de Deus: pelo batismo nós fomos incorporados à este Corpo. Portanto não nos esqueçamos: nós também somos portadores da presença de Deus.

 c) Templo: corpo humano

Se fazemos parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja, o nosso corpo é Templo do Espírito Santo. E assim como Jesus foi zeloso para com o templo de pedras, nós também temos que ser em relação ao templo espiritual, a Igreja. E devemos também cuidar do templo material que é o nosso corpo.

Nesse sentido faz bem recordar os mandamentos, que ouvimos na primeira leitura. Entendamos bem: não são meras proibições da parte de Deus, uma tentativa de colocar limites na nossa liberdade. Na verdade as tábuas da Lei manifestam o amor do Senhor e seu carinho paterno por todos nós. É o carinho de um pai que diz: “meu filho, cuidado com isso, pois isso te fará mal!”. 

Quando passamos a obedecer os mandamentos nos tornamos verdadeiramente livres. Por isso, o tempo da Quaresma tem como imagem o percurso do povo de Deus no deserto, no qual o Senhor nos encontra na escravidão e para nos tornar livres nos dá os mandamentos. Disse S. João Paulo II “escolher o bem é a opção mais sublime da liberdade humana” (1)

É bom lembrar que a Igreja nos convida, neste tempo, à um íntegro exame de consciência, para fazer uma boa confissão em preparação para a Páscoa. Por isso, é importante voltar aos mandamentos e fazer, com muita sinceridade, esse piedoso gesto que nos é recomendado.

Para concluir, não nos esqueçamos da Cruz! A boa nova da ressurreição nunca vem separada do anúncio da Paixão do Senhor, que também faz parte da espiritualidade quaresmal. Por isso, disse São Paulo: “nós pregamos a Cristo crucificado” (1Cor 1, 23), escândalo pra uns, loucura pra outros, mas para nós a salvação.

Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Maria, mãe da Igreja, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) Homilia, 26 de março de 2000. 

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