Hoje celebramos a noite santa que viu Cristo vencer a morte: é a Páscoa do Senhor! Por isso, alegremo-nos todos, numa grande festa, para celebrar a vitória do Cordeiro! E nesta Vigília a própria Igreja, nossa mãe e educadora na fé, nos ensinará o significado desta “noite diferente de todas as noites”:
1. Luz
Tudo começou na escuridão. Era como se estivéssemos num sepulcro. Pois foi assim, nas trevas de um cemitério sombrio, que o Senhor nos encontrou. E de repente vimos surgir um grande clarão em meio à penumbra: a luz do círio pascal! É a luz de Cristo que iluminou a mansão dos mortos!
Observai esta comparação: era como se estivéssemos reféns da morte e o nosso cativeiro uma cela escura e fechada. E de repente, num momento inesperado, escutamos passos de alguém que vem ao nosso encontro: a porta se abre! Estamos livres! É Cristo, que com a chave da vida eterna – a sua própria Cruz – nos libertou! (Cf. Ap 1,18)
Então, o céu e a terra uniram-se em uma só voz para proclamar solenemente:
“Exulte de alegria a multidão dos anjos, exultem as assembleias celestes, ressoem hinos de glória para anunciar o triunfo de tão grande Rei”.
Proclamação da Páscoa
2. Palavra
Dai então nos sentamos e ouvimos a nossa história, narrada desde o princípio e tornada presente nesta noite.
Sim, esta é a noite da nova criação que aconteceu no nosso batismo; esta é a noite da nossa libertação na qual passamos de escravos para filhos; esta é a noite em que recebemos um novo espírito e um novo coração e fomos purificados de todas as imundícies; e mais ainda, é a noite do sepulcro vazio: o amor venceu a morte!
Depois rezamos o “Glória” que a tanto tempo esperávamos, e ao mesmo tempo ouviu-se de novo o toque dos sinos que desde a quinta-feira guardavam um profundo silêncio. Por fim escutamos o Apóstolo nos ensinando que pelo batismo fomos sepultados com Cristo e por isso devemos levar uma vida nova.
Antes do evangelho foi entoado com alegria o “Aleluia”, preparando nossos corações para a grande notícia desta noite: Cristo não está morto! Ele ressuscitou! E o evangelista nos contou os fatos com precisão: as mulheres, os guardas, os anjos, o túmulo vazio.
Irmãos, esta não foi uma invenção para amenizar a tristeza do luto das mulheres, não foi uma ilusão coletiva dos apóstolos, nem muito menos uma mentira inventada pela Igreja. É uma verdade: os apóstolos O viram e o testemunho deles é digno de confiança! E embora nós não tenhamos visto as aparições do Ressuscitado, temos certeza, mais do que se tivéssemos visto! Com convicção podemos dizer como Jó: “Eu sei que meu Redentor está vivo!” (Jó 19,25).
3. Batismo
Logo depois desta homilia, queridos filhos, entraremos na liturgia batismal, na qual se renovará as promessas de nosso batismo. A Quaresma existe para chegarmos neste momento:
a Igreja nos levará de novo à pia do nosso batismo para renunciar ao pecado e nos lembrar da semente de eternidade plantada em nossas almas, que deve ser cultivada com uma vida santa!
Que felizes somos nós: nesta noite fomos feitos filhos de Deus, herdeiros do céu e membros da Igreja. Por isso é preciso renunciar a satanás e ao pecado para que de fato, “a festa da Páscoa acenda em nós o desejo do céu”. (Cf. Benção do Fogo)
4. Eucaristia
Por fim, na última e mais importante parte da Vigília, a Igreja nos conduzirá a uma mesa: o banquete nupcial do Cordeiro! Na Liturgia Eucarística, “Aquele que vive para sempre”, estará diante de nossos olhos, escondido nos véus do pão e do vinho. E poderemos reconhecê-lo “ao a partir do pão!”
Quanta alegria enche nossos corações nesta noite! Por isso com muita razão cantavam os nossos irmãos nos primeiros séculos:
“Oh noite mais clara que o dia!
Oh noite mais luminosa que o sol!
Oh noite mais branca que a neve!
Mais luminosa que nossas tochas,
mais suave que o paraíso!
Oh noite que não conhece a escuridão;
tu afastas o sono e nos faz velar com os anjos!
Oh noite, terror dos demônios.
Noite pascal, esperada um ano todo!
Noite nupcial da Igreja,
que dá vida aos novos batizados
e os envolveis protegidos do demônio entorpecido.
Noite em que o Herdeiro introduz os herdeiros na eternidade!”
Asterio de Amasea, Inni a Cristo nel primo millennio della Chiesa, Roma 1981, p. 93
Ressoe irmãos não só em nossos lábios, mas também em nossas vidas: “Cristo ressuscitou, verdadeiramente ressuscitou!”
Feliz Páscoa!
(Pe. Anderson Santana Cunha, 11.IV.2020)