Pastor Bonus

19º Domingo do Tempo Comum

A pergunta que a Palavra de Deus nos ajuda a responder neste dia é a seguinte: como sobreviver às “tempestades” que aparecem em nossas vidas? Por isso meditemos dois detalhes do Evangelho para responder esta pergunta: (1) primeiro devemos seguir a ordem que Jesus dá aos apóstolos: “Coragem! Não tenham medo!” (2) E o segundo é aprender o que fazer para não afundar, como aconteceu com S. Pedro. 

1. Coragem! Não ter medo!

Desta página do Evangelho podemos recolher alguns conselhos práticos para a nossa vida. Eis alguns deles: continuar mesmo quando o vento é contrário; tomar cuidado com o medo, pois ele nos faz ver fantasmas; o único que tem poder sobre tudo e todos é Jesus Cristo; e é Ele que nos diz hoje: coragem! sou Eu! Falemos sobre estes conselhos:

a) Continuar mesmo quando o vento é contrário. Para quem não conhece a geografia do local onde aconteceu este milagre um detalhe ajuda a compreender o drama dos apóstolos: o vento era tão contrário que uma viagem que se faria em três horas, já durava mais de seis. E mesmo assim continuaram, mesmo quase perdendo as forças! Como dizia Madre Paulina: “Nunca, jamais desanimem, embora venham ventos contrários”.

b) Cuidado com o medo, ele nos faz ver fantasmas. Assim como os apóstolos assustados quantos ainda hoje gritam à Jesus: “tu és um fantasma!”. E esse grito continua na boca daqueles que por medo não querem aceitar que Jesus tem poder! Que pode andar sobre as águas, que pode multiplicar os pães, que pode na Missa transformar o pão e o vinho em seu Corpo e seu Sangue. 

c) Jesus é único Senhor! Por isso Ele veio andando sobre as águas. E aquela cena é um sinal: o Senhor caminha triunfante ainda hoje, mesmo em meio a tanta fúria de nosso tempo: dos que semeiam falsas doutrinas dentro da sua Igreja, dos que espalham ideologias que desejam destruir a própria humanidade, daqueles que ensinam ideias que parecem “bonitas”, mas que na verdade escondem toda espécie de contradição. O Senhor caminha triunfante sobre todos os seus inimigos!

S. Agostinho também percebeu nesse detalhe um outro significado: “que no final dos tempo [chegará] o Senhor em auxílio da sua Igreja”. Mas ao mesmo tempo, nos lembra o doutor da Igreja, que “ainda hoje vemos [Jesus] caminhando no mar, pois vemos os seus pés, que atravessa, toda a fúria do [nosso] século”. (S. Agostinho, Sermão 75).

d) “Coragem, sou Eu!” Quantas vezes nós ouvimos essas palavras do Senhor no interior de nossos corações! Quantas situações difíceis em que Ele veio em nosso socorro e Sua presença nos deixou em paz! Em meio a todo aquele desespero, quanta paz no coração dos apóstolos ao ouvir aquela voz tão familiar de Nosso Senhor: “Sou eu!” Ele nunca está longe de nós, muito menos ausente, sempre podemos contar com Ele!

2. Mantenha os olhos fixos em Jesus!

Voltemos agora para este interesse momento na vida de S. Pedro que acabamos de ouvir.

Pedro, sempre Pedro, o apóstolo do ímpeto, o homem do amor, mas também da fraqueza. Se por um lado ele foi ousado em sua fé e cheio de valentia quando foi ao encontro do Senhor andando sobre as águas, por outro mostrou sua fragilidade quando ao sentir o vento começou a afundar. E porque Pedro afunda? Por que deixou de olhar Jesus! 

Imaginem se fosse possível perguntar à Pedro: “Pedro, o que você aprendeu naquela madrugada da terrível tempestade?” Ele poderia nos falar sobre vários ensinamentos. Talvez ele nos dissesse: naquela noite aprendi três coisas: (1º) seguir sempre as ordens de Cristo; (2º) agarrar-se Nele se por um acaso eu começar a afundar; e (3º) nunca, jamais, desviar o meu olhar do Senhor.

a) Seguir as ordens de Cristo. Nada podemos sem o Senhor, sem que Ele nos diga: “venha!”. E por isso Pedro foi capaz de fazer o que jamais poderia: andar sobre as águas. Assim também nós seremos capazes de fazer coisas grandiosas, que a nossa fraqueza humana é incapaz de fazer: sermos santos! Esta confiança é a nossa fé. Daí as palavras de repreensão de Jesus à Pedro: te faltou fé, te faltou confiança em mim, por isso você começou a afundar. 

b) Agarrar-se ao Senhor. E assim como Pedro quando começamos a afundar devemos nos agarrarmos no Senhor. E vai ser sempre assim. Para cumprir os deveres de fé, para cumprir os deveres de estado (de esposo(a), de pai, de mãe, de filho), para cumprir os deveres profissionais, sempre é preciso nos segurarmos nas mãos do Senhor. Não tenha medo de Lhe pedir ajuda! Quantas vezes a nossa oração que conseguiremos rezar será: “Senhor, salva-me!”.

c) Perseverar com os olhos fixos em Cristo. Pode acontecer de que em nossa vida espiritual comecemos valentes, com grande passos na fé, mas com o tempo, andando pelas águas das provações, comecemos a afundar. Quando tiramos os olhos de Jesus passamos a focar nosso olhar em pessoas, coisas, ou até em nós mesmos. Não olhemos para as tempestades, mas Aquele que pode acalmá-la. Não miremos os problemas, mas Cristo, Nosso Senhor!

Por fim, estas palavras de Bento XVI nos ajudam a entender como foi importante na vida de Pedro aquela madrugada: 

“[A tempestade acalmada] revelou ser um sinal daquela prova pela qual Pedro devia passar no momento da paixão de Jesus. Quando o Senhor foi preso, ele teve medo e renegou-o três vezes: foi subjugado pela tempestade. Mas quando os seus olhos se cruzaram com o olhar de Cristo, a misericórdia de Deus retomou-o e, desfazendo-se em lágrimas, levantou-o da sua queda”.

Papa Bento XVI, Homilia, 14 de junho de 2008

d) No final: a vida eterna. Sobre o Evangelho ainda gostaria de fazer uma consideração. No final, quando Cristo está na barca, o mar fica calmo, chega-se à terra firma, e os apóstolos reconhecem: “tu és o Filho de Deus!”. S. Agostinho viu nesse detalhe a imagem da vida eterna, da alegria de estar com o Senhor (Cf. Sermão 75).

Guardem isto: é a companhia de Jesus e apenas isso e tudo isso que nos deixa em paz! Ele é a brisa suave que sentiu Elias na primeira leitura e que refaz as forças de nossa vida. Ele é a grande notícia que S. Paulo na segunda leitura tanto desejava que fosse conhecida e acolhida pelos seus irmãos. 

Que a Virgem Maria, mãe do único intercessor, leve ao coração de seu Filho o nosso desejo de ouvir mais um vez as suas palavras que nos dão coragem e que ela nos ensine a enfrentar as tempestades. Maria, estrela do mar, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

Acrescento aqui alguns outros textos que podem ajudar na meditação tanto na preparação da homilia quanto na lectio divina deste domingo:

Texto 01: O significado da “barca” (S. Agostinho)

A barca agitada pelas ondas podem significar muitas coisas: a vida familiar, o matrimônio, o emprego, a saúde física… A barca também significa a Igreja, que é atingida por tantas ondas revoltas, agitadas pelo inimigo que não nos quer ver chegar ao porto seguro que é a vida eterna.

S. Agostinho, num sermão sobre este evangelho disse que a imagem do barco em meio às tempestades é também símbolo da cruz do Senhor. “É, portanto, necessário estarmos dentro do navio, ou digamos, fazer a travessia no lenho; de outro modo é impossível atravessar este mar. E esse lenho, que sustenta nossa fraqueza, é a cruz do Senhor, que levamos impressas e por cujas virtudes nos livra de afundar. As ondas se agitam contra nós, mas quem vem em nosso favor é Deus. (Sermão 75). 

Texto 02: Imitar os apóstolos em sua debilidade (Cardeal Newman)

“Faça, ao menos, o que fizeram os discípulos. Tinham só uma fé débil, temiam, não tinham uma grande confiança nem paz, mas, pelo menos, não se separavam de Cristo. (…) Imitai aos apóstolos em sua debilidade pelo menos, se não podeis imitá-los em sua fortaleza. E assim como nesta ocasião que os Evangelhos nos narram, ele censurou seus discípulos, mas fez por eles o que haviam pedido que ele fizesse, assim (confiaremos em sua grande misericórdia), embora ele tenha observado tanta falta de firmeza em vós, que não deveria existir, se dignará a repreender os ventos e o mar e dizer: ‘Paz, fique calmo’. E haverá uma grande calma.” (NEWMAN, John Henry Cardenal, Sermão na Catedral de St. Chaud em 1848 in: Sermones Catolicos, NEBLI Clasicos de Espiritualidad, Ed. RIAP, p. 63).

Texto 03: Cristo está comigo, o que posso temer? (S. João Crisóstomo)

Eis um trecho da homilia escrita por S. João Crisóstomo antes de partir para o exílio:

“Ele me garantiu sua proteção, não é na minha força que eu me sustento. Eu tenho em minhas mãos sua palavra escrita. Este é a meu báculo. Esta é a minha segurança, este é o meu porto seguro. Embora o mundo inteiro esteja perturbado, li esta palavra escrita que carrego comigo, porque ela é meu muro e minha defesa. O que ela está me dizendo? ‘Eu sempre estarei com você até o fim do mundo’. Cristo está comigo, o que posso temer? Que as ondas do mar e a ira dos poderosos venham me atacar; tudo isso pesa não mais que uma teia de aranha.” (São João Crisóstomo, Homilia antes de partir para o exílio in CARVAJAL, Francisco Fernández. Dios siempre ayuda, Homilia XIX domingo del Tiempo Ordinario, A). 

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