Pastor Bonus

1º Domingo da Quaresma

Com o rito penitencial das cinzas iniciamos, na última quarta-feira, o itinerário quaresmal, que tem como objetivo nos preparar para a grande solenidade da Páscoa. São quarenta dias nos quais imitamos a Jesus que também viveu esse tempo de oração e penitência no deserto, antes de iniciar a sua missão pública. São quarentas dias nos quais caminharemos pelo deserto, como o povo hebreu, que deixava a terra da escravidão para ir ao encontro da terra da promessa. 

Se a quaresma é um retiro espiritual, como de fato o é, pode-se dizer que este primeiro domingo quaresmal é a nossa “primeira meditação“, na qual somos convidados a visitar a cena bíblica da tentação de Jesus. Muito mais do que simplesmente lembrar de um fato acontecido com Jesus, hoje, com Nosso Senhor, vamos também para o deserto. Como Cristo somos tentados e, se permanecermos unidos a Ele, com Ele venceremos as tentações!

Duas perguntas podem nos ajudar na meditação: 

1. O que é a tentação?

Antes de tudo gostaria que vocês notassem que as tentações de Jesus não acontecem por acaso, não foi acidental, mas é uma consequência da opção de Jesus na obediência ao Pai. É por isso que, logo após o seu batismo, foi o próprio Espírito Santo que o levou para o deserto, como diz o evangelista. 

Como geralmente acontece a tentação? É preciso conhecer a estratégia do inimigo para poder combatê-lo! Por aquilo que aconteceu com Jesus e pela experiência pessoal de cada um, há de se perceber que a tentação ocorre quando somos apanhados em nossas fragilidade e num momento de vulnerabilidade, tanto é verdade que o evangelho diz que Jesus “estava com fome” (Lc 4, 2).

Pelo diálogo entre Cristo e o tentador se percebe também que há um esquema da tentação: o diabo começa propondo uma coisa aparentemente boa, como um amigo, que só quer o bem. Porém, quando nós cedemos à tentação, o tentador, que antes parecia ser amigo ao nos sugerir o pecado, torna-se um acusador

“O tentador é fingido: não impele diretamente para o mal, mas para um bem falso, levando a crer que as realidade autênticas são o poder, e o que satisfaz as necessidades primeiras. Deste modo, Deus tornar-se secundário, reduz-se a um meio, em definitivo torna-se irreal, já não conta, desaparece”.  (1)

As tentações, que no Evangelho são resumidas em três, mostra o que está no fundo de todas as nossas provações: a instrumentalização de Deus. O que está no fundo de toda a tentação é uma questão de fé!

2. Como vencer a tentação?

A quaresma, de fato, é uma luta (por isso a Igreja colocou em nossas mãos, desde quarta-feira, as três armas: a oração, a penitência e a caridade) e o tempo da quaresma também é tempo de decisão: de que lado estamos? 

Neste domingo a Igreja nos mostra como Cristo lutou contra o tentador para nos ensinar que é possível vencer as tentações e, ao mesmo tempo, nos ensinar como se vence, por isso aprendamos com Ele! 

Não temos que ter medo desse combate, pois do nosso lado luta Aquele que venceu! Se Adão, no paraíso, com facilidade caiu nas mentiras do diabo, Cristo, o novo Adão, vence a tentação com a total confiança no Pai. Por isso no salmo cantamos a confiança em Deus, mesmo nas provações.

Deus permite as tentações para nos purificar, para nos fazer santos, para que voltemos nossos corações aos bens celestes, para nos amadurecer na fé, para nos fazer humildes!

Um último detalhe: o Deserto, na Bíblia, além de espaço da tentação, é também a imagem do local do encontro com Deus. Nos fará muito bem se neste dias fizermos “deserto”, através do silêncio, diminuindo os ruídos das redes sociais e da TV, de tal modo que se possa escutar a voz do Senhor que fala conosco, especialmente através das Sagradas Escrituras

Confiança! Olhe de onde o Senhor nos tirou, como nos lembra a 1ª leitura; deixe-se orientar por sua Palavra, como disse S. Paulo na epístola. Mas atenção: não ter apenas a Palavra de Deus “na ponta da língua” (o diabo também a têm e, pelo evangelho de hoje, parece saber a Bíblia decor), mas sim no coração e também na vida cotidiana

Maria, rainha das vitórias, permaneça ao nosso lado nos combates!

Pe. Anderson Santana Cunha


(1) Bento XVI, Ângelus, 17 de fevereiro de 2013. 

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