Com as cinzas que foram colocadas em nossas cabeças nós começamos, na última quarta-feira, o grande retiro espiritual da Quaresma (1). Todos nós somos chamados a viver esse retiro que nos prepara para celebrar a Páscoa.
Quaresma é um caminho de penitência e de conversão (ou seja, de combate!), é ocasião para reconhecer-se pecador, por isso dissemos juntos no salmo: “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra vós!”, mas é ocasião também de vida nova, de conversão!
Por que existe a Quaresma? Porque existe a Páscoa, sem dúvida. Mas a Quaresma também existe – recordava Papa Bento – porque existe o pecado e o mal. (2) Deus não tolera o mal, porque é amor e justiça, Ele deseja salvar o pecador. É por isso que Ele mesmo intervêm na história para nos libertar: enviou seu Filho como nosso Redentor.
Estamos ainda no começo desse retiro litúrgico, por isso ainda da tempo de programar a nossa quaresma! O que eu desejo que Cristo vença em mim? Para que na noite da Páscoa eu possa dizer a mim mesmo: Cristo ressuscitou de verdade porque eu deixei esse ou aquele pecado e comecei com coragem o caminho da santidade!
Hoje propomos meditar sobre as tentações: o que são e como vencê-las?
1. O que é uma tentação?
É importante lembrar que a tentação não é o mesmo que o pecado. Enquanto a tentação é uma sugestão para fazer uma má escolha, o pecado é já a escolha. Eis algumas características da tentação e que nos ajudam a identificá-la:
– Se apresenta como um uma coisa natural, normal, inofensivo e às vezes até como um direito (que mal poderia ser comer um fruto?) ou até mesmo se parece com uma coisa boa (como posso duvidar da Palavra de Deus que diz que enviaria anjos para amparar-me?)
– Começa com a desconfiança de Deus, como se o que Ele ensina (ou proíbe) fosse algo prejudicial ou me tirasse um bem.
– O demônio sempre promete mais do que pode dar (“toda a glória e reinos do mundo”, como pode prometer isso?) Ele é o pai da mentira!
– A princípio não se apresenta feio, se fosse ninguém cairia nela, por isso é chamado de a “sedução” do pecado. O demônio no início parece um amigo e depois se torna um acusador!
– Geralmente acontecem num momento de fraqueza e de debilidade (como a fome de Jesus, após 40 dias sem comer): por isso, estar atento aos momentos de cansaço, às crises da vida, do matrimônio, da família…
– Ao início para um exercício da liberdade, porém logo se vê que, ao sucumbir à tentação, se está acorrentado nas correntes do pecado.
O demônio é muito bem entendido de “mercado”, não vai te oferecer algo que para você não seja seu ponto fraco. (Mais ou menos como o algoritmo que, após perceber a pesquisa de certo produto no nosso celular, começa a oferecê-lo através de propagandas infinitas).
Por que Deus permite as tentações? Para nos purificar, para nos fazer crescer em santidade, para nos fazer humildes, principalmente isso: ser humilde! Bem-aventurado quem é tentado – disse S. Tiago (1,12) – porque receberão a coroa da vida prometida aos amados do Senhor!
2. Como vencer as tentações?
Ouvimos, todos os anos, logo no início do tempo quaresmal, a narração da vitória de Cristo nas tentações no deserto. Ouvimos para que aprendamos também nós a vencer as nossas tentações. Diferente do que aconteceu na primeira leitura – e que muitas vezes se repete conosco – Nosso Senhor deu-nos o exemplo para vencer a sedução do mal.
Eis alguns conselhos práticos para não cair em tentação:
– Lembrar-se que o Senhor está do nosso lado, não temos que ter medo!
– Tomar cuidado com as ocasiões de pecado (se expor ao perigo de pecar) e com o ócio (tempo sem fazer nada, que é diferente do descanso);
– Evitar “diálogo” com a tentação, da tentação vence quem foge;
– Lutar com as “armas” que são colocadas à nossa disposição: a oração, os sacramentos, a penitência, a escuta da Palavra de Deus, a vigilância, a caridade, o jejum e tantas outras práticas de mortificação (3);
– Não se esqueça de pedir o auxílio da Virgem Maria, refúgio dos pecadores!
Peçamos com confiança: Cria em mim um coração novo, Senhor, renova em mim o teu amor, para que eu celebre a Páscoa deste ano reconciliado comigo mesmo, com meus irmãos e convosco!
Maria, refúgio dos pecadores, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
(1) Os domingos do Ano A seguem os textos bíblicos de um antigo itinerário de catequese batismal (de preparação para o batismo) e para os que já são batizados serve para renová-lo na Vigília de Páscoa. (2) Ângelus, 13 de março de 2011. (3) Lembrar dos conselhos quaresmais: o jejum cura a nossa relação conosco mesmo, a oração fortalece a relação com Deus e a esmola a nossa relação com o próximo.
Textos para meditação
Propostas para uma bom programa de Quaresma:
(a) tempo de oração (aumentar as orações, além daquelas que já se reza);
(b) tempo de penitência (tirar algo que gosto de comer, exceto aos domingos; e também fazer mortificações como: evitar falar muito, ficar menos tempo no celular, etc.). Recordar que às sextas-feiras não se come carne (não só na Quaresma, mas todo o ano);
(c) tempo de dar esmolas (praticar a caridade para com os pobres);
(d) Um ótimo conselho para viver bem a Quaresma é escolher um vício dominante (costume ou hábito ruim) e combatê-lo com maior empenho;
(e) Fazer uma boa confissão é fundamental!
															

