Pastor Bonus

25º Domingo do Tempo Comum

Há um detalhe do evangelho pelo qual eu gostaria de começar a meditação de hoje: Jesus não queria que ninguém soubesse que ele estava por ali, atravessando a Galileia, porque estava ensinando seus discípulos. O Senhor queria dedicar-se integralmente à formação daqueles homens. 

Que grande graça a nossa! Assim como foram sublimes aquelas horas de ensino do divino mestre, também é este momento de agora, nesta Missa, em que da mesma forma e com a mesma doçura Ele nos ensina

Estamos na segunda parte do Evangelho de Marcos, Jesus caminha para Jerusalém onde entregará a sua vida por nós. Por três vezes Jesus faz o anúncio de sua paixão. O que acabamos de ouvir é o segundo. 

E qual é o tema daquele ensinamento de Jesus pelas estradas da Galileia e que hoje ele transmite a nós? É uma aula sobre as dificuldades da vida cristã. Ele fala de sofrimento, de perseguição, de morte e de vitória final. Assim como a primeira leitura a respeito do sofrimento do justo e a perseguição dos maus.

Podemos dizer também que Jesus identifica nos apóstolos uma enfermidade espiritual e, ao mesmo tempo, dá o remédio para curá-la.

1. A enfermidade espiritual: inveja

Jesus começa dizendo de coisas que os discípulos não queriam ouvir: sobre o sofrimento e fracasso. Tanto é verdade que pelo caminho vão pensando em outras coisas, totalmente contrárias aos ensinamentos que acabaram de escutar. Eles parecem confiar mais neles, no que nos ensinamentos de Jesus. 

Os discípulos estão preocupados em ser grande, em ter poder e prestígio. Entre eles havia ciúmes, inveja e ambição. E sejamos bem sinceros, muitas vezes o nosso coração se parece com o daqueles apóstolos.

A inveja – que Jesus percebeu no coração dos seus amigos – é um vício terrível. O invejoso nunca está feliz, ele está sempre se comparando com os outros e vive se questionando: “por que ele tem e eu não?”, “por que ele é mais do que eu?”. 

A vida de quem se deixa guiar por esse vício é sempre amarga e cheia de raiva. Mesmo que consiga tudo o que deseja, um coração invejoso, estará sempre insatisfeito, porque busca no lugar errado a saciedade de sua sede de eternidade. A inveja gera ódio, sede de vingança e agressividade.

2. O remédio: a inocência 

Para curar esse vício, Nosso Senhor nos apresenta um remédio: a inocência. Eis um ponto obrigatório de passagem na via da santidade! 

Para Jesus o problema não é a hierarquia, tanto é verdade que ele instituiu uma para a sua Igreja. O que o Senhor quer nos ensinar é que a autoridade, seja na Igreja, como também na família e na sociedade deve ser entendido como um serviço, feito com humildade.

Quantos problemas, em casa e no trabalho, se resolveriam com mais facilidade, se escutássemos o conselho de São Tiago: o de cultivar o respeito e a compreensão. Claro que nem todos os problemas se resolveriam, mas certamente teríamos mais serenidade para enfrentá-los.

E que belo gesto de Nosso Senhor: ele aproxima uma criança e a abraça. “Nós, que somos pequeninos, aspiramos a parecer grandes, a ser os primeiros; enquanto Deus, que é realmente grande, não tem medo de se humilhar e de se fazer último”. (1) 

Disse São João Crisóstomo: “pôs ali no meio um menino bem pequeno, livre que está de todas as paixões. Um menino assim está isento de orgulho, de ambição, de glória, de teimosia e todas as paixões semelhantes” (2). Completa São Beda: “O fato de abraçar o menino significa que os humildes são dignos de seu abraço e de seu amor” (3) . 

Peçamos ao Senhor a graça de conservar a nossa inocência batismal. E se a perdermos por conta do pecado, que não demoremos para tornar à infância espiritual pelo sacramento da confissão e no total abandono e confiança nas mãos do Senhor.  

Maria, mãe da humildade, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha) 

(1) Papa Bento XVI, Ângelus, 23 de setembro de 2012). (2) Homilía LXIII, n.3, in Obras, Homilías sobre el  Evangelio de San Mateo (46-90) 2ed, Madrid: BAC, 2007, v. II, p. 223. (3) In Marci Evangelium Expositio, L. III, c. 9: ML 92, 224.

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