A vida do cristão se resume nesta frase: imitar a Cristo. Nosso Senhor desceu do céu para nos levar para o céu, e por isso mesmo a sua vida é o caminho pelo qual todos nós temos que passar. Ele é o caminho! Não nos esqueçamos. Isso quer dizer que a nossa única tarefa é prolongar a vida de Cristo em nossas vidas. Esse propósito deve ser renovado todos os dias.
A cena do evangelho que a pouco nos foi relatada, aponta o desejo de Jesus de que nós, seus discípulos, aprendamos a viver como Ele viveu. E na vida de Cristo duas palavras (mais que isso, duas atitudes!) não faltaram: servir e sofrer. Eis, pois, as duas lições que o Divino Salvador nos dá neste sagrado domingo:
1. Aprender a servir
A sede de poder não é apenas coisa do mundo político, mas infelizmente invade todos os lugares, inclusive aqui, na Igreja. Entre nós não pode ser assim, diz Jesus. Não podemos repetir (nem aqui nem na sociedade) a lógica que impera no mundo: diminuir o outro para crescer, desmerecer o trabalho alheio para se sentir bem, pisar nos outros para ganhar cargos, dinheiro e poder, etc.
E Nosso Senhor, como bom médico, nos dá o remédio para esse desejo descontrolado de dominar e mandar que tem o coração humano, ao nos ensinar que a autoridade é serviço. Se não compreendo isso, não consigo entender a vida cristã!
Vejam bem: o problema não está na organização hierárquica, tanto é verdade que o próprio Senhor, ao instituir a sua Igreja, organizou-a de tal forma que há autoridades legítimas. Porém, a forma como se exerce a autoridade, isso sim, pode ser um problema.
Dentro da sociedade e mais ainda na sociedade de Cristo que é a Igreja, deve imperar a lei do serviço: quem manda deve, antes de tudo, ser aquele que serve. E o exemplo quem nos dá é próprio Senhor, que se fez servo, a vida inteira, da gruta de Belém até à colina do Calvário.
A todos nós é dirigido esse convite: “Servi ao Senhor com alegria” (Salmo 99, 2), principalmente nos serviços ou atividades que menos gostamos de fazer, aqueles ofícios ou tarefas que mais dificuldades temos em cumprir, e especialmente em relação àqueles que menos vontade temos de ajudar. Que não nos falte a alegria no serviço!
2. Aprender a sofrer
As leituras que acabamos de ouvir permite-nos falar da teologia do sofrimento. Na primeira leitura escutamos o cântico do Servo Sofredor e no Evangelho nos foi narrada a última subida de Jesus à Jerusalém. Os apóstolos tentam fazê-lo mudar de ideia, porque sabem que as autoridades religiosas respiram ódio contra Ele e desejam matá-lo, mas Ele decididamente coloca-se em caminhada rumo à Cruz.
Naturalmente somos avessos aos sofrimentos. Quando se apresenta uma dificuldade ou uma dor, nosso instinto de defesa e de sobrevivência nos prepara para a fuga. Mas Cristo, contrariando toda lógica que está em nosso instinto animal, chama-nos a beber do seu cálice e ser batizado com o seu batismo, símbolos do seu sofrimento e da sua paixão.
Como Cristo sofreu? Com serenidade, suportando tudo sem reclamação e confiando no Pai. Eis, irmãos, o jeito certo de carregar a cruz: no sofrimento olhe para o Cristo, nas dores contemple o crucificado, ali encontrará exemplo e forças. E mais, saberemos que a nossa Cruz também nos santifica e nos aproxima de Deus. A cruz esconde uma vitória!
Jesus nunca escondeu nada a respeito do que aconteceria em Jerusalém, da sua entrega, da sua paixão e da sua morte, como também não esconde de nós que o fato de sermos cristãos não nos isenta do sofrimento, como muitos ensinam por aí.
É preciso que nós passemos também por sofrimentos, dificuldades e batalhas. Como seremos vencedores se não houver luta? É uma ilusão pensar que um cristão vitorioso é aquele que nunca sofre, isso é mentira, pregada por quem “vende” um falso evangelho.
Só é possível suportar as cruzes diárias confiando-nos ao Senhor, colocando em nossos lábios a oração do salmista: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois, em vós, nós esperamos!”Aprendamos a rezar e a confiar-nos sempre no Senhor, especialmente diante das contrariedades que se apresentam na vida.
Que belo o convite da Epístola aos Hebreus: “Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”. (Hb 4, 16)!
Eis-nos aqui, pertos do Sacrário, o trono da graça. Nós que, em breve, teremos a graça de comungar o corpo de Nosso Senhor, aproximemo-nos Dele com toda a confiança, é Dele que nos vêm os auxílios necessários.
Aprendamos da Virgem Maria, pois ela, melhor do que ninguém, soube servir e sofrer.
Maria, Senhora das Dores, rogai por nós!