O eco da voz de são João Batista atravessou os séculos e ressoa também hoje em nossos ouvidos: “preparai o caminho do Senhor” (Mc 1, 3). Essas palavras não são apenas o coração da mensagem deste domingo, mas de todo este tempo litúrgico que estamos vivendo!
Hoje – neste retiro espiritual que é o tempo do advento – o tema de nossa meditação é justamente sobre a mensagem de João Batista. A missão do precursor é a de preparar um povo bem disposto para receber o Messias. Ele também nos ajuda nesta preparação para receber e reconhecer as “vindas” do Senhor.
Três figuras que aparecem nos textos bíblicos relacionadas ao precursor são muito sugestivas e ajudam a pensar sobre este tema que nos é proposto: (A) a voz que clama, (B) o convite que essa voz faz: que indicar o caminho de retorno ao Senhor e (C) por fim o local que em essa voz grita: o deserto.
a) A voz (Advento, tempo de libertação)
Perguntado sobre quem ele era, João diz que é “a voz” (Cf. Jo 1, 23). Ele não se faz centro da mensagem, mas deixa claro que o centro é Cristo, pois só Nele há salvação. Desta forma a missão de precursor também é a nossa.
E o que nos anuncia essa voz? A libertação! Hoje, como na primeira leitura , Deus nos comunica uma grande alegria: chegou o fim deste amargo exílio. Como um escravo que ouvem a notícia da sua liberdade, ouvimos: “Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou” (Is 40, 2).
O Senhor quer neste advento livrar-nos de tantos cativeiros aos quais ora ou outra nos acorrentamos. As algemas dos vícios, dos pecados, dos maus hábitos e de tantas outras escravidões que nos submetemos. Por isso diz são Pedro: “vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz” (2Pd 3, 14).
O advento não pode perder essa característica fundamental: é o anúncio da alegria da libertação. O tempo do exílio terminou e nós, o povo liberto, pode olhar com esperança para o futuro. No mistério do Natal o menino sobre a manjedoura é o grito de Deus que diz: “o tempo de exílio acabou, a porta de retorno para a pátria definitiva, o Céu, está aberta”.
Vale a pena recordar que nós, batizados e crismados, somos testemunhas de Cristo. Com a vida e com as palavras somos uma “voz” que grita nos atuais “desertos”. Um pai e uma mãe, um avô e uma avó, um padrinho ou uma madrinha que transmitem a fé, são precursores. Não vos esqueçais desta missão!
b) O caminho (Advento, tempo de proximidade)
Uma outra imagem, utilizada por João em sua pregação, é muito catequética, é a do caminho aplainado. Para quem mora entre montanhas as colinas serem baixadas é uma boa notícia, pois desta forma se diminuem as distâncias. No Natal as distâncias somem, Deus se faz próximo.
A voz que grita nos deserto nos diz que chegou a libertação e nos faz o convite para voltar à terra da liberdade. As poucas palavras do Batista nos evangelhos estão sempre ligadas ao convite à mudança de vida. Trata-se de um caminho de conversão.
Este caminho tem vários significados: é aquele que nos leva ao encontro das família carentes, é o caminho que nos leva à Santa Missa, é o caminho que nos direciona à leitura da Bíblia e à vida de oração, por fim, é o caminho para o sacramento da reconciliação.
Hoje a Igreja nos convida à confissão, o “segundo batismo” como chamavam alguns Padres da Igreja. É preciso se confessar porque advento é tempo de “endireitar o que está torto” na vida, é tempo de reencontrar o caminho de Deus, é tempo de voltar para Ele enquanto Ele se deixa ser achado. Cada vez mais próximos do Natal, devemos pedir a Jesus este presente: a graça da conversão sincera.
c) O deserto (Advento, tempo de silêncio)
O sentido espiritual do deserto é profundo e amplo. Na Bíblia ao mesmo tempo que o deserto significa um lugar de solidão e de prova, é também o lugar onde o Senhor encontra o seu povo e o consola. É no deserto que João prega e batiza.
Esta imagem do deserto é um convite para reencontrarmos o valor e a importância do silêncio, da penitência, do batalha espiritual, da intimidade com Deus.
Queridos irmãos, na noite bendita do Natal, contemplando um menino nos braços de sua mãe, veremos a palavra do profeta Isaías concretamente realizada: “aqui está o vosso Deus” (Is 40, 9). Eis grande novidade do Natal: Deus é conosco!
Maria, mãe de Jesus, rogai por nós!
TEXTOS PARA MEDITAÇÃO
No dia 8 se celebra a solenidade da Imaculada Conceição. A Virgem também é o caminho, porque ela é a estrada que Deus escolheu para vir ao mundo. Ela, que é o modelo perfeito da resposta à Deus, nos ajude a dar nosso “sim”.
“Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima. Temos que conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, por que não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama”. (São Josemaria Scrivá, É Cristo que passa, n. 122).
“Vós sabeis o que cada um de vós deve fazer em casa, com o seu amigo, com o seu vizinho, com o seu dependente, com o superior, com o inferior. Você também sabe de que maneira Deus dá ocasião, de que maneira ele abre a porta com sua palavra. Portanto, não queira viver em paz até que você os ganhe para Cristo, porque você foi ganho por Cristo“. (Santo Agostinho, Tratado Evangelho de São João, 10, 9).
“Na liturgia do Advento ressoa uma mensagem cheia de esperança, que exorta a dirigir o olhar para o horizonte último, mas ao mesmo tempo, a reconhecer no presente os sinais do Deus-conosco” (Papa Bento XVI, Ângelus, 7 dezembro de 2008).