Pastor Bonus

2º Domingo da Páscoa

 A boa notícia da ressurreição de Jesus, que transbordou ao longo de todos esses dias – na semana que chamamos de oitava da Páscoa – ainda ressoa em nossos corações. Também hoje, com as entradas de nossas Igrejas fechadas, o Senhor se coloca em nosso meio. Vence as paredes e as portas trancadas e se coloca no meio de nós

E neste dia pascal parece-nos oportuno explicar: a importância do domingo, o dia de encontro com o ressuscitado; a festa da Divina Misericórdia e seu significado em nossas vidas; e, por fim, lembrar do dom da fé, que foi plantado em nosso coração no batismo, mas que deve ser cultivada diariamente com atos de confiança em Nosso Senhor. 

1. O Domingo

São João nos narra no evangelho o encontro de Jesus com os discípulos no primeiro dia da semana (ou seja, num domingo), e acrescenta que, oito dias depois, o Senhor manifestou-se novamente à comunidade apostólica. É importante essa informação! Significa que “a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado” (1).

2. A Divina Misericórdia

Hoje o Senhor nos mostra, assim como apresentou aos discípulos, as mãos e o seu peito, coloca diante dos nossos olhos as feridas da paixão. É dali, do seu lado aberto, que brota o rio de água viva, a fonte da divina misericórdia, pois, como nos ensinam os Padres da Igreja, é do peito aberto de Jesus que brotam os Sacramentos: o Batismo, a Eucaristia, a Confissão.

São João Paulo II quis que neste domingo a Igreja celebrasse a festa da Divina Misericórdia, porque hoje, com júbilo pascal, proclamamos: “Eterna é a sua misericórdia” (Salmo 117, 1). Sim, nós podemos cantar as misericórdias do Senhor porque as experimentamos em nossas vidas, no “batismo que nos lavou, no Espírito que nos deu nova vida, e no sangue que nos redimiu” (2). 

Eis o grande remédio que salva o mundo: a misericórdia do Senhor, que se experimenta no batismo, mas que se repete de modo especial na confissão. E é a Igreja Católica a única dispensadora que pode distribuir ao mundo esta alegria. A confissão é o remédio eficaz para renovar o coração humano, para dar nova vida aos moribundos pelo pecado. 

Se experimentamos a misericórdia do Senhor, também iremos espalhar no mundo essa divina experiência. É o que nos contou os Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, ao nos chamar à uma vida de partilha e comunhão. Convêm, hoje, meus irmãos, lembrá-los das obras de misericórdias, corporais e espirituais, com as quais espalhamos a presença do Senhor pelo mundo. 

3. O Dom da Fé 

Para tantos homens, assim como foi para Tomé (que não acreditou no testemunho da Igreja), Cristo está morto. Para muitas pessoas Jesus não significa nada, suas palavras bonitas são até repetidas aqui ou acolá, mas para eles não passa de um homem bom, mas que, como tantos outros, morreu e sepultou consigo todas as suas promessas.

Por isso, irmãos, cabe a nós continuar ecoando no mundo a boa notícia: “vimos o Senhor!”. Essa é a nossa missão, essa é a nossa tarefa: dar testemunho do ressuscitado. Assim como os apóstolos, como ouvimos nos Atos, que com o anúncio da ressurreição faziam crescer o número daqueles que passavam a crer em Jesus Cristo. 

Não foi por acaso, nos lembra São Gregório, que Tomé não estava presente na primeira aparição, “mas pela vontade de Deus”. [Pois] A misericórdia divina agiu admiravelmente para que, tocando o discípulo duvidoso as feridas da carne do seu Mestre, ele curasse em nós as feridas da incredulidade (…). Assim, o discípulo, duvidando e sentindo, tornou-se uma testemunha da verdadeira ressurreição” (3).

“Meu Senhor e meu Deus!”, diz São Tomé, com fé. Eis também a nossa expressão, se não com os lábios, ao menos com o coração; seja durante a consagração, ou ao passar diante do tabernáculo, ou mesmo quando entramos dentro de uma Igreja. Sim, o Senhor está vivo e vive no meio de nós e deixa ser encontrado, tocado, em cada Igreja, em cada sacrário, em cada Santa Missa. 

É importante recordar que, para crescer a nossa fé, é necessário que alimentemos a nossa inteligência, procurando conhecer as verdades que nos foram reveladas por Nosso Senhor, especialmente contidas nas Sagradas Escrituras e na Tradição da Igreja, e que estão explicadas de forma sistemática no Catecismo da Igreja

Finalizando, gostaria de dizer ainda outra coisa: aos olhos do mundo, nós cristãos parecemos derrotados. Parece que estamos sempre perdendo, perdendo nos tribunais, perdemos nas leis iníquas que são aprovadas, perdendo nos fiéis que abandonam a fé, perdendo nos cristãos que são assassinados. Mas São João nos lembrou hoje de uma verdade que nunca devemos nos esquecer: que quem nasce de Deus (ou seja, quem foi batizado), vence o mundo! “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4b). 

Concluamos esta meditação com uma oração: “Senhor, como os apóstolos, nossas portas estão fechadas, e também estamos com medo. Vem em nosso auxílio! Dai-nos a alegria de ouvir mais uma vez aquelas benditas palavras, as únicas palavras que nos consolam e que nos dão segurança: a paz esteja convosco! Sopra o dom do vosso Espírito sobre toda a humanidade, concede-nos o hálito da vida, o sopro da existência da nova criação. Acolhei esta súplica que nós, os vossos irmãos, que fomos regenerados na água e no sangue nas fontes batismais, vos apresentamos com fé. Jesus, eu confio em vós!”

Maria, mãe da Divina Misericórdia, rogai por nós!

Feliz Páscoa!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


(1) Bento XVI, Regina Caeli, 23 de abril de 2006. (2) Oração do Dia da missa de hoje. (3) Homilias sobre os Evangelhos, 26, 7. 

TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

O Domingo

Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia em que bem se denomina dia do Senhor ou domingo (Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, 106). 

A Divina Misericórdia

É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de “Domingo da Divina Misericórdia”. Nas diversas leituras, a liturgia parece traçar o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre os homens novas relações de solidariedade fraterna. Cristo ensinou-nos que “o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a “ter misericórdia” para com os demais. ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia’ (Mt 5, 7)” (Dives in misericordia, 14). Depois, Ele indicou-nos as múltiplas vias da misericórdia, que não só perdoa os pecados, mas vai também ao encontro de todas as necessidades dos homens. Jesus inclinou-se sobre toda a miséria humana, material e espiritual. (São João Paulo II, Homilia, 30 de abril de 2000).

As obras de misericórdias corporais: 1) dar de comer a quem tem fome; 2) dar de beber a quem tem sede; 3) vestir os nus; 4) dar pousada aos peregrinos; 5) visitar os enfermos; 6) visitar os encarcerados; 7) sepultar os mortos.

As obras de misericórdia espirituais: 1) dar bom conselho; 2) ensinar os ignorantes; 3) corrigir os que erram; 4) consolar os aflitos; 5) perdoar as injúrias; 6) sofrer com paciência as injustiças; 7) rezar pelos vivos e pelos mortos.

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