Podemos também nós, ao iniciar esta meditação, fazer eco às palavras de São Pedro: Senhor, como é bom estarmos aqui! É bom estarmos nesta Igreja, nesta Celebração Eucarística, nesta montanha sagrada. Porque aqui também o vosso rosto se resplandece sobre nós na Santíssima Eucarística, aqui podemos ouvir a voz do Pai que nos fala através das Escrituras.
Nesta celebração o Senhor quer aumentar a nossa esperança, assim como alimentou a dos apóstolos no Tabor. Para isso convido-vos a meditar dois conselhos importantes nesse nosso retiro quaresmal que são os domingos da Quaresma:
1º Conselho: Não tem Páscoa sem Quaresma!
Todo o 2º domingo da Quaresma é uma meditação sobre a transfiguração do Senhor. Isso não é por acaso. A transfiguração anuncia a ressurreição, ou seja, nos aponta para o final da Quaresma. É por isso que ouvimos hoje este Evangelho. Para nos lembrar que vale a pena os sacrifícios e as privações desse período; vale a pena o jejum, a caridade e a oração!
Vale a pena porque no final da Quaresma o Senhor também quer nos “ressuscitar”, fazer morrer o homem velho e nascer o novo homem, à imagem de Cristo. Por isso, Quaresma é tempo de “sair”, como diz Deus à Abrão, na primeira leitura: é tempo de deixar os maus hábitos antigos, de sair da morte espiritual do pecado, para ir ao encontro da vida nova prometida pelo Senhor.
Os três apóstolos que vão ao Tabor – Pedro, Tiago e João – são os mesmos que vão ao Getsêmani próximos ao Senhor. Do feliz esplendor da transfiguração à angústia e sofrimento do calvário. Do rosto brilhante como o sol ao rosto suado de sangue. Isso para nos ensinar que não tem glória sem cruz. “No Tabor compreendemos melhor que o caminho da cruz e o caminho da glória são inseparáveis”. (1)
2º Conselho: Ânimo! Depois da Quaresma vem a Páscoa!
Assim também faz Jesus conosco: no meio dos maiores padecimentos, nos dá o consolo necessário para não desanimar e continuar o caminho. A nós também o Senhor antecipa a sua glória, revela a sua divindade, através da Eucaristia, da oração e da Sagrada Escritura.
A Santa Missa de hoje nos ajuda a levar a cruz de cada dia, agora fortalecidos com o amor, experimentando a renovação e a consolação da presença de Cristo, que nos mostra a sua glória, nos lembra do Céu, nos enche de esperança.
Pedro manifesta o desejo do coração humano: a vontade de permanecer para sempre contemplando a glória de Deus, a visão beatífica. Estar com o Senhor é o maior desejo do coração do homem (2).
Mas Pedro – e todos nós – somos chamados a reconhecer que, quem está com o Senhor, não importa onde e não importa como, sempre será iluminado pela sua luz, sempre sentirá a felicidade de estar com Ele.
Somos convidados a reconhecer Jesus quando não está no Tabor, a perceber a sua presença no cotidiano, na vida ordinária. E desta forma sentir que o Senhor nunca nos abandona, está sempre conosco, nos prepara para a Páscoa definitiva! É por isso disse Santo Agostinho: temos uma só morada, Cristo (3).
Maria, mãe da divina glória, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
(1) João Paulo II, Ângelus, 24 de fevereiro de 2002. (2) É o que comenta São Beda, o venerável: “Em uma piedosa permissão, lhes permitiu (a Pedro, Tiago e João) gozar durante um tempo muito curto a contemplação da felicidade que dura sempre, para fazê-los suportar com maior fortaleza a adversidade”. (Comentário de Mc, 8,30; 1,3). (3) Sermo De Verbis Ev. 78, 3: PL 38, 491.
Textos para meditação
01 | Moisés e Elias, que tinham contemplado a glória do Senhor no Sinai, são quem acompanha Jesus no Tabor (Cf. Es 24,15-16; 1Rs 19,8). Porém agora podem falar e ouvir Deus mesmo, em pessoa, falando com eles. O pentateuco (a Lei) e os profetas, ou seja, o Antigo Testamento, falavam de Cristo! A luz de Cristo ilumina o Antigo Testamento. Foi isso que Nosso Senhor ensinou aos discípulos que voltavam para Emaús, após a ressurreição.
02 | Diz a voz que vem da nuvem: “Este é o meu Filho”. São palavras parecidas com aquelas que Abraão ouviu de Deus: “pegue teu filho, Isaac, aquele que tu ama” (Gn 22,2). O sacrifício de Isaac anuncia o sacrifício do Calvário: ambos pais que entrega os seus filhos. Na transfiguração se prepara os apóstolos para suportar o escândalo da cruz.
03 | Hoje, segundo domingo da Quaresma, continuando o caminho penitencial, a liturgia, depois de nos ter apresentado no domingo passado o evangelho das tentações de Jesus no deserto, convida-nos a refletir sobre o acontecimento extraordinário da Transfiguração no monte. Considerados em conjunto, os dois episódios antecipam o mistério pascal: a luta de Jesus com o tentador prenuncia o grande duelo final da Paixão, enquanto a luz do seu corpo transfigurado antecipa a glória da Ressurreição. Por um lado, vemos Jesus plenamente homem, que partilha também conosco a tentação; por outro, contemplamo-lo como o Filho de Deus, que diviniza a nossa humanidade. Desta forma, poderíamos dizer que estes dois domingos são como dois pilares sobre os quais assenta toda a estrutura da Quaresma até à Páscoa, mais ainda toda a estrutura da vida cristã, que consiste essencialmente no dinamismo pascal: da morte à vida. (Papa Bento XVI, Ângelus, 17 de fevereiro de 2008).
04 | A veste branca do Senhor é uma indicação da veste branca batismal e do seu significado: a vida divina que nasce no homem.