Pastor Bonus

2º Domingo da Quaresma

Com a Igreja, hoje, subimos dois montes: o monte Moriá, do Sacrifício de Isaac, e a alta montanha do Tabor, o monte da Transfiguração do Senhor. Em ambos o Senhor nos espera para nos ensinar e nos fazer conhecer os seus caminhos, como ouvimos no Salmo.

O relato proclamado na primeira leitura e que sem dúvida nos comove, é uma antecipação (prefiguração) daquele sacrifício que contemplaremos com igual emoção dia após dia dessa quaresma, mas de modo especial na sexta-feira da Paixão: um Pai apaixonado e uma Vítima inocente

É São Paulo que nos faz ver em Abraão a imagem da fidelidade de Deus Pai e em Isaac a mansidão e entrega de Jesus, ao lembrar-nos que “Deus que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8, 32). A Quaresma é tempo de redescobrir o amor de Deus, que não conhece limites nem medida, um Deus apaixonado que se submete a uma prova de amor impensável, para nos mostrar com tal prova extrema, como Ele nos ama. 

Nesta meditação, concentremos nossa atenção no monte Tabor, pois ali o Senhor nos fala sobre: a importância da oração, a descobrir o que é essencial e a encontrar forças para suportar as cruzes cotidianas. Além disso, uma pergunta é importante: como podemos nós também subir ao Tabor?

1. Tabor: escola de oração 

O Papa Bento XVI lembra-nos que a experiência da Transfiguração é essencialmente uma “experiência de oração”, onde Jesus repetiu o seu “amém” e coloca-se mais um vez disponível para fazer a vontade do Pai (1). É na oração que Deus mostra a sua face para nós!  

A quaresma, irmãos, convida-nos a priorizar o tempo que dedicamos a Deus através da oração. Como é importante cultivar o silêncio, a leitura das Sagradas Escrituras, a piedosa oração do Santo Terço e o exercício da Via Sacra, para que, terminado os exercícios quaresmais, essas práticas seja introduzidas como parte do nosso cotidiano

2. Tabor: onde descobrimos o essencial 

Também aprendemos hoje que o mais importante não é “fazer tendas” aqui ou ali, ou seja, tentar colocar a nossa confiança em coisas terrenas, o mais importante é estar onde o Senhor está. Se Ele está no Tabor, resplandecente de beleza, permaneçamos com Ele, mas se Ele estiver em outro monte, no monte Calvário, todo ensanguentado e desfigurado, também lá permaneceremos ao seu lado. 

É assim também conosco: Deus está conosco quando subimos o monte da alegria, mas Ele também nos acompanha quando padecemos a nossa Via Dolorosa, quando fazemos a experiência do sofrimento, da dor e do abandono.

Seja na alegria da saúde, seja na dor de leito de hospital; sejam nos sucessos e nas vitórias de nossos planos, sejam nas derrotas e nos fracassos. Não importa onde, o mais importante é estar com Ele. Por isso que Santo Agostinho disse que nós só temos uma tenda, uma morada: Jesus Cristo. (2).

3. Tabor: força para suportar as cruzes

Este trecho do Evangelho sucede ao anúncio da paixão. Jesus diz aos seus que deve morrer e isso os escandaliza. O coração deles se angustia. O Senhor sabe que também nós, assim como os discípulos, precisamos contemplar a glória do Tabor, para suportar o drama da Cruz.

Observem que serão os mesmos discípulos que depois Jesus levará consigo para o Getsêmani, para rezar com ele na hora de sua agonia. É na Transfiguração que Jesus os fortalece para suportar o sacrifício da cruz

É na Eucaristia que encontraremos forças para suportar as nossas cruzes. Além disso, como fará bem, durante as lutas diárias, lembrar-nos do Céu, da glória que nos é reservada, da promessa que nos espera. Então a esperança encherá nosso coração e poderemos continuar nosso combate na certeza da vida futura que se avizinha. 

Sim, no Céu poderemos dizer, com muito mais razão do que Pedro: “Senhor, como é bom estarmos aqui, contemplando sem fim a sua glória, o seu amor, a sua face. Foi para isso que nascemos!” 

Todas as vezes que vimos à Santa Missa nós também subimos o Tabor. Aqui contemplamos a glória de Jesus, que nos enchemos de forças pela fé que dá esperança na vida eterna. A Igreja se transforma em um “Tabor”, onde Deus nos dá novo vigor e nos permite experimentar já aqui o que nos está reservado para o Céu! A Santa Missa também é o monte Moriá onde acontece um verdadeiro sacrifício.

Para concluir, convido-vos a refletir sobre a voz do Pai. Ele nos dá uma ordem: “Escutai-o”. E como Jesus fala hoje? Fala-nos através do Evangelho que é proclamado pela sua Igreja. Seus ensinamentos é a doutrina da fé católica. Por isso, sem medo, devemos continuar ecoando suas divinas palavras para que o mundo todo escute a sua voz. Em Jesus Cristo, Deus nos disse tudo, não há nada mais a ser revelado. 

Maria, mãe da obediência, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) cf. Ângelus,  8 de março de 2009. (2) Cf. Sermo De Verbis Ev. 78, 3: PL 38, 491

TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

“[…] em piedosa permissão, permitiu-lhes (Pedro, Tiago e João) gozar durante um tempo muito breve a contemplação da felicidade que dura para sempre, para fazê-los suportar com maior fortaleza as adversidades” (São Beda, Comentário a São Marcos 8,30; 1, 3).

“Na hora da tentação pensa no Amor que no céu te aguarda: fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 139). 

No Céu “tudo é descanso, alegria e regozijo; toda serenidade e calma, toda paz, brilho e luz. (…) Porque não há noite, nem tarde, nem frio, nem calor, nem mudança de jeito de ser, mas um estado tal que só entendem aqueles que são dignos de desfrutá-lo. Lá não há velhice, nem enfermidades, nem nada que se pareça com corrupção, porque é o lugar e a câmara da glória imortal … E, acima de tudo, o tratamento e gozo perpétuo de Cristo, os anjos …, todos perpetuamente em um sentimento comum, sem medo de Satanás ou das armadilhas do diabo ou das ameaças de inferno ou morte” (São João Crisóstomo, Epístola 1 a Teodoro, 11). 

“Quando Jesus subiu ao monte, imergiu-se na contemplação do desígnio de amor do Pai, que o tinha enviado pelo mundo para salvar a humanidade. Ao lado de Jesus apareceram Elias e Moisés, para significar que as Sagradas Escrituras eram concordes em anunciar o mistério da sua Páscoa, ou seja, que Cristo devia sofrer e morrer para entrar na sua glória (cf. Lc 24, 26.46). Naquele momento, Jesus viu delinear-se diante de si a Cruz, o sacrifício extremo, necessário para nos libertar do domínio do pecado e da morte. E no seu coração, mais uma vez, repetiu o seu “Amém”. Disse sim, eis-me, seja feita, ó Pai, a tua vontade de amor. E, como tinha acontecido depois do Baptismo no Jordão, vieram do Céu os sinais do agrado de Deus Pai: a luz, que transfigurou Cristo, e a voz que O proclamou “Filho muito amado” (Mc9, 7)”. (Papa Bento XVI, Angelus, 8 de março de 2009).

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