Pastor Bonus

33º Domingo do Tempo Comum (Ano B)

No próximo domingo encerraremos o ano litúrgico. Estamos agradecidos a Deus que nos permitiu viver, como uma grande família, que é a Igreja, os mistérios da vida de Cristo: desde o tempo do Advento do ano passado, passando pela Páscoa deste ano e pelos episódios da vida pública de Jesus, narrados ao longo dos domingos do Tempo Comum, crescemos na amizade com o Senhor.

O tema que percorre os textos bíblicos deste penúltimo domingo do ano litúrgico é a segunda vinda de Cristo. Não haveria assunto mais oportuno para ir concluindo este ciclo do que tal tema. É por isso que ouvimos no Evangelho o sermão escatológico de Jesus, ou seja, sobre as últimas coisas, e é também por esse motivo que a Igreja nos proclamou, na primeira leitura, um trecho da profecia de Daniel.

Neste domingo, sugiro que pensemos sobre dois assuntos:

[1] A nossa fé na segunda vinda de Jesus 

Através da descrição da cena de fenômenos cósmicos, o Senhor quer nos indicar a grandiosidade do juízo final, que será vivido por nós e por todos os homens de todos os tempos e lugares. É essa a nossa fé! Não é atoa que no credo concluímos o trecho que se refere a Cristo dizendo que Jesus “há de vir e julgar os vivos e os mortos e o seu reino não terá fim”.

Ele veio uma vez, na carne, com um bebê no ventre de Maria, e virá uma outra vez, uma segunda vinda, que é chamada de o “dia do Senhor”. E é esta verdade de fé que a Igreja nos recordar hoje. Portanto, nos lembremos do que nos foi ensinado no catecismo: haverá um juízo particular imediatamente após a morte e no final dos tempos haverá um juízo universal.

Esse último – o juízo universal – não é uma espécie de “segunda instância” ou um “tribunal de apelação”. É a confirmação da sentença daquele juízo particular ocorrido no final desta vida e ao mesmo tempo é a ocasião para a manifestação pública da glória do Senhor.

A segunda volta do Senhor é chamada também, em termo grego, de “parusia”. Essa palavra era usada para se referir à entrada de um imperador numa cidade, no momento em que ele era acolhido como salvador e se fazia uma grande festa. E isso nos ajuda a entender que, se vivermos sempre unidos a Jesus, a segunda vinda será motivo de muito alegria, será a ocasião em que os nossos corpos se unirão uma outra vez – e desta vez definitivamente – às nossas almas e desta forma glorificaremos ao Senhor para sempre. 

[2] Pedir ao Senhor o santo temor e a santa esperança

A descrição dos fenômenos escatológicos são, da parte de Jesus, uma maneira de indicar-nos o necessário temor diante das realidades finais, que nos cercam desde já. Não pensemos que este assunto nos é anunciado hoje para fomentar psicose ou angústia. O que Jesus quer é, ao nos assegurar de sua volta, encher-nos do santo temor e da santa esperança.

Os cristãos, desde o início, souberam compreender o “dia do Senhor” não com pavor e desespero, mas como um dia a ser esperado com entusiasmo. Tanto é verdade que desde o início do cristianismo se reza uma invocação que ficou muito conhecida: “Vem, Senhor Jesus” (Ap. 22, 20). É o que nós também dizemos após a consagração do Sangue do Senhor. 

Ao ouvirem falar deste dia, os católicos dos primeiros séculos, sempre encontraram nele um motivo para perseverar e para ter paciência nas tribulações. Com a imagem da figueira, Jesus nos ensina a saber esperar e a viver esta vida preparando-se para a sua volta. É por isso que no salmo nós rezamos: “meu destino está seguro em vossas mãos!” (Salmo 15, 5). Quanta serenidade teríamos se levássemos a sério esta oração do salmista!

Ao enfrentar as situações difíceis e dramáticas desta vida, devemos nos lembrar de que Cristo é o vitorioso, é o juiz da história; é Ele que vence, já agora e plenamente no final. Disse-nos S. João Paulo II: “Por mais complexas e problemáticas que sejam as situações, não percais a confiança. No coração do homem jamais deve morrer o germe da esperança”. (1) 

Não saber nem o dia nem a hora é um motivo a mais para não esperar ou ficar adiando as mudanças que são necessárias em nosso coração, em nossos hábitos, em nossa vida. Aproveitemos para transformar o que precisa ser mudado agora, pois este é o tempo da misericórdia, do perdão, da conversão

Por fim, irmãos, eu repito: O Senhor não nos quer colocar medo, mas fazer-nos crescer no santo temor e na santa esperança! Ele quer nos ensinar que não devemos ficar excessivamente preocupados com as coisas desta vida, e por isso nos indica o essencial: tudo vai passar, menos a sua Palavra!

Maria, mãe da esperança, rogai por nós!

(1) João Paulo II, homilia, 19 novembro de 2000).


TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

a) O Santo Temor

O temor é importante para a nossa vida espiritual. Disse o Cardeal Newman: “o temor e o amor devem ir juntos; continuai temendo, continuai amando até o último dia de vossa vida. (…) deveis saber o que significa semear aqui embaixo com lágrimas, se quereis colher com alegria no além.” (NEWMAN, John Henry. Sermon 24. The religion of the day. In: Parochial and plain sermons. San Francisco: Ignatius, 1997, p. 206).

Santo Agostinho: “Se sentimos temor ou terror, se estremeceram-se nossas vísceras, mudemos de vida enquanto é tempo. Este é o mais benéfico temor. Ninguém pode, irmãos, mudar sem o temor, sem a tribulação, sem tremer. Batamos no peito quando a consciência nos acusa de nossos pecados”. (Sermão CXIII/B, n. 3. In: Obras. Madrid: BAC, 1983, v. X, p. 851)

b) O Senhor é juiz de todos, inclusive dos que nele não crêem

Aquele que entrou no mundo praticamente oculto e ignorado, viveu uma vida simples e morreu num suplício horrendo, que ressuscitou dos mortos e apareceu a alguns discípulos, retornará glorioso, com todo poder e majestade, “não para ser de novo julgado, mas para chamar a seu tribunal aqueles por quem foi levado a juízo. (…) queiram ou não, os homens terão que se submeter necessariamente a seu reinado (…)”. (São Cirilo de Jerusalém, Catequese 15: Sobre as duas vindas de Cristo) 

“E [Jesus] se mostrará glorioso aos que o foram fiéis ao longo dos séculos, e também ante aqueles que o negaram, o perseguiram, ou viveram como se a sua morte na Cruz tivesse sido um acontecimento sem importância.” (Padre Francisco Fernández Carvajal, XXXIII Domingo del Tiempo Ordinario, Ciclo B, San Marcos 13, 24-32: La segunda venida de Cristo)

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