Pastor Bonus

3º Domingo da Páscoa

Neste domingo pascal, a Igreja nos proclama uma das aparições do ressuscitado. Não se trata apenas da memória de um episódio que aconteceu no passado, mas de uma realidade, de uma coisa que acontece também hoje. De fato é isso que acontece todos os domingos: o ressuscitado se encontra conosco, os batizados. Vitorioso também aparece hoje Aquele que “imolado, já não morre; e, morto, vive eternamente” (1).

 Deixemos que a luz do ressuscitado, representada na chama do círio pascal, continue penetrando em nossas vidas e, ainda neste tempo pascal, alcançando aqueles espaços escuros e sem vida. Nós bem conhecemos as trevas de nosso interior que ainda não permitimos serem alcançadas pela claridade do Senhor. Sim, que se faça verdade o que a Igreja colocou em nossos lábios no salmo desta missa: “Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!”

Duas atitudes marcam a presença do ressuscitado na comunidade apostólica: Jesus come com eles e também lhes abre a inteligência. Eis, irmãos, duas coisas que Nosso Senhor também continua fazendo conosco, especialmente em cada Santa Missa. “Como outrora aos discípulos, ele nos revela as Escrituras e parte o pão para nós” (2). Meditemos sobre essas duas atitudes: 

a) Jesus come com eles

Os sentimentos que se apresentam nos discípulos são confusos: uma mistura de medo e de alegria. Com esse detalhe o evangelista quer nos fazer perceber o que se passava no coração deles. Era como se eles pensassem: isso é muito bom pra ser verdade! 

Um ponto em comum nas aparições do ressuscitado é o movimento da incredulidade para a fé. Os discípulos passam a ter certeza de que é o Senhor, aquele que eles conheceram e que foi assassinado, porque mostra as feridas e come com eles. O ressuscitado, para provar sua real presença, faz refeição com eles. E isso acontece, irmãos, em cada Santa Missa: o Senhor se faz nosso alimento. 

“Toda a comunidade revive esta mesma experiência na celebração eucarística, especialmente na dominical. (…) Em torno a Ele nos reunimos para recordar suas palavras e os acontecimentos contidos na Escritura; revivemos sua paixão, morte e ressurreição. Ao celebrar a Eucaristia, comungamos a Cristo, vítima de expiação, e dele recebemos perdão e vida” (3). 

Falando sobre a Eucaristia e a missa dominical parece-nos oportuno, especialmente nesses dias, repetir uma pergunta que se fez o Papa Bento XVI: “Que seria de nossa vida de cristãos sem a Eucaristia?” (4)

b) Jesus lhes abre a inteligência 

Assim como na aparição que nos foi narrada, na Missa, o Senhor também nos explica as Escrituras. Ele nos faz perceber que toda a Bíblia só tem sentido e só pode ser compreendida a partir Dele.

E mais, não só a vida de Cristo, seu sofrimento e sua ressurreição, são esclarecidos pelas sagradas páginas, mas também a nossa própria vida. Quem lê a Bíblia também percebe a relação vital que existe entre a Palavra de Deus e a história pessoal de cada um. 

A nossa inteligência também é aberta quando entendemos, como explicou São João, na segunda leitura, que o cumprimento dos mandamentos é sinal desse conhecimento do Senhor.

Quantos são os que dizem conhecer a Deus, e justificam sua vida pervertida e depravada com a falsa ideia da misericórdia de Deus muito em moda em nossos dias. Eis, irmãos, o verdadeiro critério para saber se conhecemos a Deus: “vejamos se guardamos os seus mandamentos” (1Jo 2, 3). 

Não só aos discípulos do passado, mas também a nós, os discípulos do tempo presente, o Senhor dá a mesma ordem: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24, 48).

E para nos servir de exemplo a Igreja nos apresenta Pedro, que na primeira leitura é apresentado de uma maneira toda diferente daquela noite da quinta-feira santa. Desta vez, fortalecido pela certeza da ressurreição, não tem medo de ser reconhecido como discípulo do Nazareno e com valentia proclama a ressurreição de Jesus e convida à conversão. É isso que o Senhor também espera de nós, que passemos da covardia à audácia.

Por fim, não é demais recordar que o fato mais importante da nossa fé é a ressurreição de Jesus. Se esse fato não fosse verdade, nossa fé seria uma lorota, uma fraude (5).

Por isso, devemos continuar reafirmando-a sempre, sem medo, essa verdade, principalmente nos nossos dias em que se ignora não só o verdadeiro sentido da Páscoa, mas a sua própria existência. O mundo de propósito finge esquecer o verdadeiro significado desta festa, pois a verdade da Páscoa incomoda. 

Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!

Maria, mãe da vida, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


 (1) Prefácio da Páscoa III. (2) Oração Eucarística VI-A. (3) Bento XVI, Homilia, 26 de abril de 2009. (4) Idem. (5) Cf. 1Cor 15, 14.

TEXTO PARA MEDITAÇÃO

Esta dimensão mais profunda da Páscoa é sentida particularmente por nossos irmãos ortodoxos. Para eles, a ressurreição de Cristo é tudo. Na Páscoa, quando encontram alguém, saúdam-no dizendo: “Cristo ressuscitou!”, E o outro responde: “Ressuscitou verdadeiramente!” Este costume está tão profundamente enraizado nas pessoas que esta anedota que ocorreu no início da revolução bolchevique é contada. Um debate público foi organizado sobre a ressurreição de Cristo. O ateu havia falado primeiro, demolindo para sempre, em sua opinião, a fé dos cristãos na ressurreição. Ao descer, o padre ortodoxo subiu ao púlpito, que deveria falar em defesa. O humilde padre olhou para a multidão e disse simplesmente: “Cristo ressuscitou!” Todos responderam em coro, antes mesmo de pensar: “Ele ressuscitou verdadeiramente!” E o padre desceu silenciosamente do púlpito (Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap, En verdad ha resucitado! Homilía III Domingo de Pascua).

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