Pastor Bonus

4º Domingo da Páscoa

Quis nossa Mãe, a Igreja, dedicar um domingo pascal a esta belíssima imagem, cheia de ternura e carinho, de Cristo: o Bom Pastor. De fato, esta é uma das representações mais antigas de Cristo, tanto que em muitas catacumbas romanas, onde os primeiros cristãos se reuniam para as missas clandestinas, encontram-se nas paredes gravuras de Cristo como um pastor.

Mas no trecho do Evangelho que ouvimos Jesus ainda não diz que é o bom pastor, isso Ele dirá isso nos versículos seguintes. Ouvimos Ele dizer que é a Porta: “Quem entra por mim, diz Jesus, será salvo” (Jo 10, 9). Falemos, pois, sobre esta identificação pouco comentada de Jesus.

O que significa: “Eu sou a Porta”?

Para entender é preciso conhecer alguns detalhes da vida pastoril: no entardecer, os pastores recolhem suas ovelhas em cercados de pedra ou madeira. Assim, o rebanho está seguro: as ovelhas podem descansar e os pastores se revezam na guarda noturna do rebanho. A porta do redil é pequena, pois isso facilita na contagem as ovelhas e dificulta os assaltos. Pela manhã o pastor chama as suas ovelhas e apenas as suas o seguem.

O que quis Nosso Senhor nos ensinar com essa imagem da porta, aquela pequena porta do redil? Quis nos mostrar que Ele é a porta aberta do paraíso, que estava fechada depois da desobediência do primeiro casal (Cf. Gn 3, 24); Ele é a porta da casa dos hebreus, que na noite da páscoa foi ensangüentada com o sangue do cordeiro sacrificado (Cf. Ex 12,7); Seu peito rasgado na cruz é a porta do redil celeste, a porta do coração do Pai, aberta para nós: onde encontramos a verdadeira segurança, a vida eterna!

De fato, irmãos, Jesus Cristo é o único caminho para o céu (Cf. Jo 14,6).  Por “Ele temos acesso ao Pai” (Ef 2,18). Aqui se apresenta a pergunta mais importante deste domingo: como entrar por esta porta? Pois quem passa por esta porta está a salvo! E como disse S. Gregório Magno “terá acesso a fé, e passará logo da fé à visão, da credulidade à contemplação, e encontrará pastos no eterno descanso” (Homilia 14 3-6: PL 76, 1129-1130).

Para responde esta dúvida, ouvimos duas vezes S. Pedro, na primeira e na segunda leitura, nos explicando como se entra por essa porta: é preciso ouvir o chamado do pastor e colocar-se atrás Dele, seguindo-o e imitando seus passos. Meditemos sobre esses dois conselhos:

1º Reconhecer a voz do Bom Pastor

Para entrar pela porta, que é Cristo, é preciso reconhecer a voz do pastor e escutar o que Ele nos diz! Assim como aquela multidão que na voz de S. Pedro, no dia de Pentecostes, ouviu a voz de Nosso Senhor chamando à conversão (Cf. At 2,38). Aquelas ovelhas escutam a voz do pastor! E o que fazem? Convertem-se e são batizadas!  

Assim também deve acontece conosco: tudo muda em nossas vidas quando ouvimos essa voz carinhosa, cheia de amor e ternura, que se dirige a nós. Com as ovelhas nós aprendemos que é preciso confiar e conhecer o Pastor! É preciso confiar e seguir sem medo a sua voz, na certeza de que não estamos no caminho errado, na Igreja errada. É preciso conhecer o Pastor, para que não aconteça de seguir a voz dos estranhos, ou ainda, dos ladrões ou maus pastores que querem “matar, separando da fé com doutrinas enganosas, e destruir, na eterna condenação”. (S. Tomás de Aquino, Catena Áurea, Jo 10,7-10, Alcuino).

2º Seguir as ordens do Bom Pastor

O segundo passo para entrar pela Porta é seguir, ou seja, imitar a vida de Cristo. “Cristo sofreu por nós deixando o exemplo” (1Pd 2,21). Perseverar na fé, mesmo nos sofrimentos! É o que nos exortou S. Pedro na segunda Leitura: nas injúrias e nas perseguições, olhar para o Pastor, que com seu sangue pagou o nosso resgate, e recuperar as forças!

De fato, para entrar pela Porta não basta a “certidão de batismo”, mas é preciso levar a nossa “vida em Cristo” a sério, o que muitas vezes significará privações e provações! Aqui nos cabe lembrar-se de outra porta que Nosso Senhor falou: a porta estreita, que Ele nos convidou a atravessar, dizendo: “esforçai-vos por adentrar pela porta estreita” (Lc 13,24).

Estimados irmãos, eis aqui um resumo do que dissemos: para entrar pela Porta é indispensável escutar a voz do Pastor, ser batizado, e levar uma vida digna do nome de cristão; e nas dificuldades e sofrimentos da vida, não desanimar! Volte seu olhar para Cristo, pois Ele é “pastor e guarda de nossas vidas” (1Pd 2,25).

Pastores da Igreja

Neste domingo somos lembrados também que Jesus colocou pastores a frente de sua Igreja: o Bom Pastor cuida de nós através de seus pastores! “Apascenta as minhas ovelhas”, disse Jesus a Pedro e aos Papas de todas as épocas (Cf. Jo 21,17). Jesus quis contar com alguns homens para colaborar com Ele na missão de ajudar as ovelhas a entrar pela Porta. E através deles, o próprio Cristo “enfaixa nossas feridas” na confissão e “prepara-nos uma mesa farta” na Eucaristia.

S. João, no Apocalipse, vê a nova Jerusalém, que possui doze portas (Cf. Ap 21, 12): é a Igreja, são os apóstolos de hoje – o Papa e os Bispos. São eles, os pastores da Igreja, que transmitem a fé: pela doutrina, pelos sacramentos e pelo cuidado pastoral.

Irmãos, a Porta é Cristo, mas é também imagem da Igreja, seu Corpo Místico, e contra ela se opõem outra porta: “as portas do inferno”, que nunca prevalecerão e no final serão derrotadas (Cf. Mt 16,18).

Os pastores também precisam passar pela Porta, porque senão serão ladrões e salteadores. Disse S. Agostinho ao seu povo numa homilia:

“Nós haveremos de dar conta a Deus de nossas vidas, e como somos também pastores, deveremos dar conta a Deus de nosso serviço. Se eu vos falo isso é para que, compadecendo-se de nós, rezeis por nós!”.

S. Agostinho, Sermão 46, 2.14 .

Hoje, queridos filhos, não se esqueçam de rezar por nós sacerdotes! Para que não nos aconteça de, ao invés de abrir, acabemos fechando as portas da fé ao nosso povo; e então ouviremos as severas palavras que Jesus disse fariseus: “Vós não entrais, e não deixais entrar os que querem” (Mt 23,13)!

Neste dia mundial de oração pelas vocações, roguemos a Jesus, príncipe dos pastores, que dê perseverança aos que Ele chamou à vida consagrada e sacerdotal, e generosidade aos que Ele está chamado para que, sem medo, deem sua resposta de amor!

Peçamos a Virgem Maria, invocada como Divina Pastora das Almas, que ouvindo e seguindo seu Filho, entremos um dia pela Porta do Céu. Então, contemplaremos a feliz visão que profetizou o salmista: “felicidade e todo bem, por toda a eternidade, vivendo na casa do Senhor”!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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