Pastor Bonus

4º Domingo da Quaresma

Como naquela noite, em que Nicodemos teve a graça de ouvir Jesus, explicando-lhe os mistérios do reino, igualmente nós hoje nos encontramos com Cristo, e temos a graça de escutar a sua voz, que continua ecoando através do Evangelho que foi proclamado. 

Hoje celebramos o domingo quaresmal da alegria (domingo Laetare). Mesmo no tempo da Quaresma, tempo de sobriedade e penitência, não nos esqueçamos de que a alegria é um distintivo dos cristãos. Mas que tipo de alegria é essa a que somos convidados?

Quero, portanto, nesta meditação, apontar-vos o grande motivo da nossa alegria, à qual nos chama hoje a nossa mãe, a Igreja. E no final, indicarei um local onde podemos, e devemos fazer, a experiência da verdadeira alegria

1. Motivo da alegria: a Páscoa está próxima e Alguém nos ama de verdade!

[Deus tanto amou o mundo que entregou seu Filho único]

A mensagem central do Evangelho, que ouvimos a pouco, é esta belíssima verdade: Deus nos ama tanto, que chegou ao ponto de entregar seu Filho para que nós possamos também ser seus filhos. Na festa da Páscoa essa verdade se materializa diante dos nossos olhos: nas palavras da última Ceia, no corpo mutilado oferecido na cruz, no túmulo vazio, e na vida que venceu a morte. 

A entrega do Filho não é qualquer entrega. É uma entrega dramática: desde a humilhação em Belém até o seu aniquilamento no Gólgota. A Cruz resume a vida de Cristo e resume a vida do cristão. Especialmente nestes dias da quaresma é importante meditar sobre esse sinal, que é muito mais do que uma cena de um ato trágico, mas a concreta glória do Senhor.

É importante repetir: Deus nos amou mesmo não merecendo tal amor. Ele nos amou quando éramos seus inimigos, disse o apóstolo (Cf. Rm 5, 10). Sim, só Deus nos ama de verdade! E isso vivemos na Páscoa.

Olhando a Cruz, podemos dizer com muita propriedade, como disse o apóstolo: Ele me amou e se entregou por mim (Gl 2, 20). É da Cruz do Senhor que vem, portanto, a nossa alegria, a nossa força, o nosso ânimo, a nossa esperança e a nossa fé. 

E quando somos nós que temos que suportar em nossos ombros o pesado lenho dos sofrimentos, das doenças, das incompreensões, ou mesmo quando caímos nas tentações e pecamos, é para Ele, o crucificado ressuscitado, que devemos voltar nosso olhar para encontrar de novo o sentido da vida

2. Onde encontrar a verdadeira alegria e sentir-se amado de verdade? Na Missa e na Confissão!

[Deus amou tanto o mundo, que continua entregando-nos seu Filho único]

O que contemplamos na Páscoa – da última ceia, passando pelo Calvário até às aparições do ressuscitado – continua acontecendo, de modo permanente, no altar no divino sacramento da Eucaristia.

Sim! A Eucaristia é um testamento de amor, de um amor que nunca fica no passado, de um amor que nunca envelhece, de um amor que nunca fica desatualizado, de um amor eterno! A nós cabe somente acolher esse amor, como disse São Paulo: é uma graça! (cf. Ef 2, 5)

Além da Santa Missa, a Páscoa continua acontecendo todas as vezes que nos aproximamos da confissão. Para isso nos ajuda a cena descrita na primeira leitura: a destruição do Templo e a vida longe da Cidade Santa era motivo de grande tristeza para o povo de Israel. A maior tristeza é viver longe de Deus.

Quando vamos ao confessionário, fazemos o caminho do retorno do exílio, da casa da escravidão para o lar paterno da verdadeira liberdade. Temos saudades de Sião, dissemos no salmo (Sl 136, 1), sim, temos saudades de Deus, temos saudades da casa do Pai. E a porta dessa casa é o confessionário

“No texto que escutamos [na primeira leitura], [disse o Papa Bento XVI] a ira e a misericórdia do Senhor se confrontam e em uma sequência dramática, mas ao final triunfa o amor, porque Deus é amor” (1).

Que a Virgem, mãe da verdadeira alegria, nos ajude a contemplar o grande amor com que fomos amados na Páscoa do Senhor e nos torne feliz neste domingo, nossa páscoa semanal, que nos prepara para a felicidade eterna da Páscoa do céu! 

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) Homilia, 26 de março de 2006.

TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

[ 1 ] A verdadeira alegria: ser amado de verdade

O Papa Paulo VI nos disse que a verdadeira alegria não tem como origem as coisas materiais; não está no prazer, no dinheiro, no conforto, na segurança. Mas tem uma origem espiritual: nasce no coração de quem se sente amado. Assim aprendemos que a verdadeira alegria está sempre perto da sacrifício. Só se sente verdadeiramente amado perto da cruz. (cf. Exortação Apostólica Gaudete in Domino, 9 de maio de 1975, n. 1).

Pensar em Deus, disse o Papa Bento XVI, nos dá alegria” (Homilia, 26 de março de 2006).

[ 2 ] Como prova basta Cristo, morto e ressuscitado

Muitos são aqueles que nos nossos dias buscam sinais para provar que a única verdade é Nosso Senhor, e como Ele próprio nos diz, o grande sinal é a sua elevação, a sua exaltação, a sua glorificação, quando todos são atraídos à Ele. Basta Cristo, crucificado e ressuscitado, nele encontramos a Verdade, a Vida e a Salvação. Essa é a mensagem central da Igreja, ela existe para proclamar isso ao mundo.  

[ 3 ] Confissão: experiência de amor

É importante insistir, nesta segunda metade da Quaresma, sobre a importância da confissão. É importante distinguir dois grupos extremos que se encontram nos penitentes: os laxistas e os escrupulosos

Estes últimos (os escrupulosos) são aqueles que, por uma visão distorcida de Deus, tendem a uma concepção errada de pecado e tendem a duvidar da misericórdia de Deus e seu perdão.

Por outro lado temos os laxistas, que são em maior número, que não sentem a necessidade de confessar-se, justificando-se com aqueles conhecidos jargões: “eu não peco”, “não matei nem roubei”, “todo mundo faz, então não é pecado”. 

Uma importante maneira de ajudar os laxistas é fazê-lo perceber o que Jesus disse a Nicodemos, no final do texto sagrado que ouvimos: à medida em que nos aproximamos da luz, nos conhecemos e nos damos conta das nossas trevas.

A consciência laxista, permanecendo longe da luz, tende a não considerar a existência e a gravidade do pecado. Não reconhecer-se pecador, segundo São João, é uma grande mentira: “Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1, 18).

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