Pastor Bonus

4º Domingo do Tempo Comum

Jesus está sobre um monte, senta-se como quem ensina com autoridade, e nós, em meio àquela multidão, podemos hoje também ouvir, como se Cristo dissesse de modo particular a cada um de nós, o surpreendente início do sermão da montanha: as bem-aventuranças

Quantos, sem dúvida, ficaram desapontados com essas palavras do Senhor. Quantos ainda hoje ficam desconcertados após escutar o início deste sermão. Na cabeça de muitos que ouviam Jesus, a verdadeira felicidade é a alegria terrena, que seria sinal da bênção de Deus, enquanto as dificuldades e problemas seriam castigos e desgraças. 

Um fato e um segredo, eis os dois temas que abordaremos na homilia de hoje:

1. Um fato: queremos ser felizes!

Todos queremos ser felizes. Está inscrito no coração do homem o desejo de felicidade. É como se nascêssemos com a missão de buscar a felicidade e passássemos a vida toda procurando encontrá-la. 

O problema é que buscamos a felicidade onde na verdade só encontraremos miséria e tristeza. Quantas pessoas sentem um vazio tão grande, embora tendo tantas coisas, tantas consolações, tantas falsas alegrias. O homem não se contenta com tal felicidade passageira. 

Então é justo perguntar: O que devo fazer para ser feliz? E o Senhor nos responde, com essas frases paradoxais, que na verdade escondem o segredo da vida cristã!

2. O segredo: qual é o segredo para ser feliz?

O segredo da felicidade é abandonar-se a Deus. É o que disse S. Agostinho: “nos criastes Senhor para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não descanse em ti” (1) É o que diz a primeira leitura: “E no nome do Senhor porá sua esperança o resto de Israel” (Sf 3,12). 

O que significa a pobreza de espírito, a fome de justiça, a misericórdia, a pureza de coração e o suportar as perseguições senão o total abandono em Deus. Quem tem atitudes como esses que Nosso Senhor apresenta é porque colocou toda a sua confiança em Deus, e não espera de mais ninguém, a não ser Nele. 

Jesus, com este sermão, é como se nos dissesse: aquele que me segue será feliz, ainda que seja insultado, perseguido, caluniado por causa de mim; será feliz porque a recompensa será grande!

Sem o Senhor o nosso coração estará sempre insatisfeito, sem graça, sem alegria. Todas as vezes que os homens procuram a felicidade em um outro caminho que não o de Deus, só encontram – após uma passageira e falsa felicidade – a solidão e a tristeza.

A vida de muitas pessoas é vazia porque pensam que poderão encontrar a verdadeira alegria aqui, nesta vida, nas coisas deste mundo. E isso acontece na maioria das vezes porque se esquece do Céu! Ele existe, foi preparado para nós. É lá que, contemplando Deus face a face, poderemos dizer: sim, essa é a verdadeira felicidade, foi para isso que eu fui criado, para ser feliz, contemplando aquele que me ama. 

Que se alegrem, hoje e sempre, os corações que buscam a Deus!

Maria, mãe da verdadeira alegria, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)


(1) Confissões, I, 1, 1.

TEXTOS PARA A MEDITAÇÃO

“O pensamento fundamental que Jesus queria incutir nos seus ouvintes era este: só servir a Deus torna o homem feliz. No meio da pobreza, da dor, do abandono, o verdadeiro servo de Deus pode dizer com São Paulo: estou transbordando de alegria em todas as minhas tribulações. E, ao contrário, um homem pode ser infinitamente miserável mesmo que nade na opulência e viva na posse de todas as alegrias da terra” (Frei Justo Pérez de Urbel, Vida de Cristo, Rialp, Madrid 1987, p. 214).

“Os ricos não devem ser considerados felizes apenas por causa de suas riquezas; nem aos poderosos por sua autoridade e dignidade; nem ao forte pela saúde de seu corpo; nem ao sábio por sua grande eloqüência. Todas essas coisas são instrumentos de virtude para quem as usa corretamente; mas elas, em si, não contêm felicidade. (São Basílio, Homilía sobre la envidia, in: Cómo leer la literatura pagana, Rialp, Madrid 1964, p. 81). 

É feliz quem abraça a pobreza como Cristo (coisa diferente da miséria); quem não precisa de muito para estar satisfeito e se abandona em Deus. É feliz quem espera a consolação celeste; quem chora porque tem um coração sensível e fraterno. É feliz quem não se acostuma com a injustiça, com a corrupção, com o abuso de poder. É feliz que não suja a sua visão com coisas impuras ou preenche o coração com más intenções. É feliz quem procura ser promotor de reconciliação e de perdão. É feliz quem suporta ser perseguido e humilhado por defender o que ensina Cristo e sua Igreja. 

As bem-aventuranças, na verdade, é um auto retrato de Jesus (cf. Papa Francisco, Audiência, 6.VIII.2014).

Com as bem-aventuranças aprendemos a “vencer o mal com o bem” (cf. Rm 12,21). “É preciso vencer a injustiça com a justiça, a mentira com a verdade, a vingança com o perdão e o ódio com o amor”. (São João Paulo II, Angelus, 30.I.2005).

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