Pastor Bonus

5º Domingo da Páscoa

A interessante imagem da vinha, que hoje o Senhor utiliza para nos catequizar, já havia sido usada pelos profetas, no Antigo Testamento, para falar de um tema bem próximo a esse de hoje. No livro de Isaías, por exemplo, essa é a metáfora utilizada pelo profeta para falar da infecundidade do povo de Israel e, ao mesmo tempo, dos constantes cuidados de Deus (1).

Com essa mesma comparação, Jesus nos ensina verdades preciosas, grandes tesouros, que servem para motivar importantes mudanças em nossas vidas e também nos ajudam a ver de uma maneira nova as dificuldades que nos surpreendem. Por isso, convido-vos a meditar as seguintes afirmações: as podas são necessárias, e para suportá-las é preciso viver unido a Cristo e, ligados à Ele, dar bons frutos, entre os quais o maior é o amor. 

1. As podas são necessárias

Há duas atitudes diversas do Pai, o agricultor, com a videira: o ramo que não dá frutos é cortado, e jogado fora, já aquele que dá fruto não é cortado, mas sim podado, para que então dê frutos. Quem lida com plantas sabe muito bem o que Jesus está ensinando: sem podas, dificilmente se terá frutos ou flores. Uma videira, por exemplo, que fica muito tempo sem receber a poda necessária produz apenas folhas e uvas selvagens

Da mesma forma acontece conosco. As podas são necessárias, sem ela nossa vida espiritual se esteriliza, não frutifica, ou quando não, se enche de folhagem sem utilidade ou começa a dar frutos azedos. Para entender o que Jesus nos ensina, é importante distinguir que há podas que Deus mesmo realiza em nós e há outras que nós mesmos devemos fazer

Sobre as podas que Deus realiza, sabemos muito bem que elas são as cruzes que cada um tem que carregar, caminhando nas vias dolorosas em que se transforma, em alguns momentos, o percurso de nossa vida.  Mas também é preciso dar-se conta que há muito que diminuir, limpar ou até jogar fora, de nosso comportamento, que depende de nós. 

Mas onde encontrar orientações sobre essas podas que preciso realizar? Na Palavra de Deus. Por isso que Jesus disse, logo no início do Evangelho, que a sua divina palavra purifica (cf. Jo 15, 3). Quem ouve o que nos ensina o Senhor, seja através das Escrituras, seja através do ensinamento da fé – transmitida pela Igreja – , aprende a identificar os ramos infecundos que precisa lançar fora. 

Quantos santos nasceram após as podas, sejam aquelas que Deus operou, ou mesmo aquelas que, com a graça divina, homens e mulheres souberam realizar. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o antigo Saulo. Foi preciso ser “limpado”, para que desta forma pudesse dar frutos. E quantos frutos o apóstolo das nações deu à Igreja, que antes ele perseguia! 

E nós devemos vivenciar esses momentos difíceis, tal como é para a videira, sabendo que após a podadura, muitos daremos frutos. Desta forma podemos entender a aparente contradição da leitura que ouvimos, dos Atos dos Apóstolos. Ao mesmo tempo que nos conta as dificuldades e as ameaças de morte que sofriam os cristãos, porque anunciavam a salvação em Jesus, São Lucas nos diz que a Igreja vivia em paz e aumentava o número dos cristãos

2. Viver o tempo todo em Cristo 

Permaneçam em mim, insiste Jesus. Observem quantas vezes essa palavra se repete no Evangelho. E, lembremos, esse é o discurso da despedida de Jesus. Como é importante ouvimos, neste domingo, logo no início desta semana: que o mais importante é estar com Ele. Só assim nossa vida ganha sentido e nos sentimos seguros, ainda que estejamos passando por momentos difíceis e a barca da nossa vida esteja agitada, e estejamos com medo. 

“Permanecer” é sinônimo de “estar em comunhão”. De fato, é na Eucaristia, o sacramento da comunhão com Cristo, que de uma maneira toda especial Ele passa a viver em nós, e nós Nele. Estas divinas palavras, que ouvimos no Evangelho, Jesus às diz na última ceia; como eu não terei a certeza de que é na Santíssima Eucaristia que Ele nos dá a possibilidade de viver unidos a Ele de maneira real e completa?

3. O fruto do cristão: o amor 

Não é estranho que o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na noite em que foi entregue reclinou-se em seu peito, utilize em seus escritos, com tanta insistência, uma palavra que parece resumir toda a sua experiência de fé: o amor. E para ele, isso não pode ficar apenas no discurso, deve ser concreto, deve ser visível, deve se tornar uma ação. Esse é o fruto que vem após as podas. 

É por isso que João diz que o mandamento do Senhor tem dois aspectos: a fé em Jesus e os gestos concretos de caridade, que brotam daquela mesma fé. Isso acontece porque existe uma relação estreita entre a fé, a esperança e o amor. São os frutos bons, que Cristo espera que brotem na nossa vida de católicos. Se vivermos unidos ao Senhor o nosso amor será verdadeiro, não será fingido. E só é possível amar de verdade se estamos unidos a Cristo. “Só quem vive em comunhão com Deus produz frutos abundantes de justiça e de santidade” (2).

Esse é o caminho da santidade, como disse S. João Paulo II: “Através da profunda união com Cristo, iniciada no batismo e alimentada pela oração, os sacramentos e a prática das virtudes evangélicas, homens e mulheres de todos os tempos, como filhos da Igreja, alcançaram a meta da santidade” (3).

Para viver esta vida toda unidos a Cristo e saber viver as podas e delas fazer brotar amor, é preciso sempre recorrer à Virgem, a mãe de Cristo, a videira verdadeira. E, especialmente neste mês de maio, mês das mães e de Nossa Senhora de Fátima, à ela nos confiemos novamente. Que Ela cuide de nós, ajude-nos em nossa conversão e socorra-nos nas necessidades. 

Maria, mãe da Igreja, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) Cf. Is 15. (2) João Paulo II, Homilia, 18 de maio de 2003. (3) João Paulo II, Homilia, 21 de maio de 2000. 


TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

Permaneçam em mim, diz Jesus. “Este convite exige que levemos a cabo o nosso compromisso batismal, vivamos no seu amor, nos inspiremos na sua Palavra, nos alimentemos com a Eucaristia, recebamos o seu perdão e, quando for necessário, carreguemos a Cruz com Ele. A separação de Deus é a maior tragédia que o homem pode viver”. (São João Paulo II, Homilia, 21 de maio de 2000).

Não deve haver maior receio da parte de um verdadeiro fiel, de um católico sincero, senão aquele de estar longe do Senhor, de estar privado da Eucaristia, de não poder recebê-lo na intimidade de seu coração. Não podemos viver longe Dele, pois, assim como um ramo cortado não sobrevive sem a videira, assim somos nós longe do Senhor. 

Os santos são aqueles que passaram esta vida unidos à Cristo, especialmente na Eucaristia e no serviço aos irmãos. Questionando-se sobre o que significava para ela ser um ramo da videira, ser uma colaboradora de Cristo, Madre Teresa respondeu: “Significa morar em seu amor, ter sua alegria, difundir sua compaixão, dar testemunho da sua presença no mundo” (Madre Teresa de Calcutá, Missione d’amore, Milão 1985, p.79).

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