“É chegada a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”, diz Nosso Senhor (Jo 12,23). Mas de que “hora” Jesus está falando? É a hora solene de sua paixão, morte e ressurreição. Sim, chegou a hora, a Páscoa está bem perto. No próximo domingo começaremos a Semana Santa com a Missa de Ramos e da Paixão do Senhor!
A Igreja nos coloca neste episódio que ouvimos no evangelho – que aconteceu às vésperas da morte de Jesus – para que não participemos da Semana Santa como estranhos, como meros espectadores, mas de tal forma envolvidos que estejamos submergidos nela, inclusive cronologicamente.
1. A cruz nos atrai
O primeiro ponto desta reflexão é: nós, como aqueles gregos, também “queremos ver Jesus”, queremos conhecê-lo, ouvi-lo, sermos seus discípulos! E por isso, nos unimos à multidão de homens e mulheres que ao longo dos séculos foram atraídos por Ele e para Ele.
Dentro do coração de todos os homens, católicos ou não, existe o desejo de Deus, que só em Cristo é saciado. De fato, cumpriu-se em Jesus a profecia de Jeremias, que ouvimos na primeira leitura.
Sim, o que Jesus disse no evangelho se cumpre e continua se cumprindo: elevado na Cruz Ele nos atrai, Ele nos chama a atenção, não conseguimos desviar o olhar Dele!
“De fato, do alto da cruz, Jesus revelou ao mundo o amor ilimitado de Deus à humanidade necessitada de salvação” (1) Da Cruz ele nos atrai, porque “a altura do amor é a altura de Jesus, e todos nós somos atraídos a esta altura” (2).
2. Para imitá-lo (I): dando a vida
E porque somos atraídos a Ele? Para imitá-lo entregando a nossa vida. E com uma imagem que nos é muito próxima, de nós que vivemos perto do campo, o Senhor nos ensina como isso acontece: assim como o grão precisa morrer para nascer uma planta, assim também é com o Senhor, e o mesmo deve acontecer com seus discípulos.
Jesus é o grão de trigo que, através da sua morte e da sua vida, nos dá acesso aos seus frutos: a Igreja e os Sacramentos, princípios da eternidade.
O grão de trigo também significa nós mesmos, que devemos estar abertos às transformações que a vida em Cristo opera em nós. Para que, morrendo para as velhas atitudes, os antigos comportamentos (e as práticas quaresmais nos ajudam a isso), nasça um homem novo, à imagem de Cristo.
Quem não morre, não se abre à eternidade, e isso não é só para o final da vida, mas é para desde já!
3. Para imitá-lo (II): obedecendo
E porque somos atraídos a Ele? Para imitá-lo na obediência ao Pai. No evangelho também ouvimos uma confissão de Jesus: “agora sinto-me angustiado” (Jo 12, 27). São palavras que nos lembram aquelas que ouviremos na agonia no monte das Oliveiras. E nestes dois momentos o Senhor nos ensina a transformar a vontade humana e a aceitar a Deus.
É importante saber disso, sobretudo nesses dias em que a Igreja nos motiva a intensificar a oração: é preciso deixar que a graça divina transforme a nossa vontade. É o mesmo que ouvimos na carta aos Hebreus, Jesus suplicou a quem poderia ajudá-lo, e Ele foi atendido! Foi atendido porque abandonou-se nas mãos do Pai.
Queridos irmãos, esse duplo aspecto da imitação de Cristo começou no batismo, e continua por toda a vida, até o dia em que o nosso corpo voltará para a terra, fazendo desta imagem do grão de trigo enterrado uma imagem real, concreta, visível. E as palavras de Jesus nos ajudam a encarar aquele importante momento, não como o fim, mas como início, como uma primavera. “Ressurgiremos da morte, e desta vez para não morrer mais” (3).
Maria, mãe da piedade e da obediência, rogai por nós!
(1) São João Paulo II, Homilia, 9 de abril de 2000). (2) Bento XVI, Homilia, 29 de março de 2009. (3) Raniero Cantalamessa, V Domingo de Cuaresma, ciclo b: Si el grano di trigo non muere.
TEXTO PARA MEDITAÇÃO
“Cristo sofreu; morramos para o pecado. Cristo ressuscitou; vivamos para Deus. Cristo passou deste mundo para o Pai; não se separe aqui o nosso coração, mas siga-o nas coisas do alto. O nosso Deus foi pendurado no madeiro; crucifiquemos a concupiscência da carne. Jazia no sepulcro; sepultados com Ele esqueçamos as coisas passadas. Está sentado no céu; transfiramos os nossos desejos para as coisas supremas” (S. Agostinho, Homilia Pascal, Discurso 229/d, 1).