No domingo passado, o Senhor nos acolhia como o pai que encontrou o filho que estava perdido. Hoje ele acolhe a nós, que fomos pegos no flagrante adultério da idolatria do pecado e que também colecionamos pedras nas mãos, prontos para lapidar os outros. E a todos o Senhor convida a experimentar o seu amor!
Consideremos, antes de tudo, que Jesus está diante de uma dura escolha: se ele confirma a lei, a mulher é apedrejada, se ele rejeita a lei, ele poderia ser apedrejado.
Mas os fariseus e os mestres da lei se esquecem que estão diante da Sabedoria Eterna que, além de lhes desmascarar a hipocrisia (que já poderiam ter apedrejado a mulher sem precisar do juízo de Jesus), aproveitou tal ocasião para ensinar a nós, que nesta Igreja nos reunimos para a Santa Missa.
Meditemos, irmãos, sobre três conselhos que o Senhor nos dá:
1. Deixar cair as pedras das nossas mãos
O Evangelho conta a nossa história! Somos nós com as pedras nas mãos, acusando e julgando, espalhando e comentando os erros dos outros. Peçamos a Senhor: Senhor, que me perturbe a minha hipocrisia e que eu não me acostume a viver com a máscara da falsidade!
Hoje o Senhor que fazer também conosco o que fez com aqueles homens, que se julgavam justos e piedosos, e quer nos revelar o que já sabemos, mas muitas vezes preferimos esquecer: somos pecadores, precisamos da misericórdia!
Eis, irmãos, um bom termômetro que devemos ter diante dos olhos: quanto mais tempo fico longe da confissão, mais semelhante com aqueles homens me torno, porque quem não se confessa, não se reconhece pecador.
Uma outra coisa também é importante lembrar: aquele que se diz arrependido, mas não quer ir ao sacerdote confessar-se, não se arrependeu de verdade, pois ainda veste o manto do orgulho e da prepotência.
2. Olhar para aquele que nos ama
O Evangelho conta a nossa história! Somos nós, caídos no chão, acuados e com medo da morte, acusados por nossos graves erros. Peçamos, hoje, ao Senhor: Senhor, que me incomode a escravidão do pecado, que eu não me acostume com a vida longe de Deus, que eu encontre a ternura do teu olhar e que ele me levante do pó do chão, para onde o pecado me arrastou.
Depois de ordenar que quem não fosse pecador começasse a lapidação da mulher, Jesus escreveu no chão. E o que ele escreveu? Não sabemos. Parece que Ele imita o gesto de Deus que, diante de Moisés, escreveu as tábuas da Lei com seu próprio dedo. Talvez Ele tenha escrito a nova lei: “amai-vos, como eu vos amei”.
E, por fim, a cena fica ainda mais surpreendente quando todos saem, só fica Jesus e a mulher, só permanecem “a miséria e a misericórdia.” (1)
3. Viver uma vida nova
Eis, no final do Evangelho, uma grande lição: Jesus acolhe o pecador, mas rejeita o pecado! Sim, isso é verdade, senão Ele teria dito à mulher: “vai, e volte à sua vida de antes!” (2).
Mas não, Ele a convida a abandonar o passado. É o mesmo convite que Ele nos faz! Não fiquemos remoendo o passado, tenhamos a coragem de recomeçar, como disse o profeta Isaías, na primeira leitura.
Um bonito exemplo de vida nova é a história de São Paulo. Na epístola que ouvimos a pouco, por exemplo, ele nos fala da alegria da vida em Cristo: esqueço tudo o que ficou pra trás, o Senhor me alcançou, agora sou Dele, tudo nesta vida não vale nada perto Dele, é como se tudo não passasse de esterco!
Para concluir, é interessante este conselho que nos dá o apóstolo Paulo: cuidado para não achar que já ganhou a corrida! (como a lebre que – naquela historinha que ouvimos na infância – ficou dormindo, achando que já tinha ganhado a corrida da sua adversária, a lenta tartaruga, que acabou vencendo a corrida por conta da presunção da adversária).
Maria, mãe da divina graça, rogai por nós!
(1) S. Agostinho, In. Io. Ev. Tract. 33, 5. (2) cf. Idem, 33, 6.