Pastor Bonus

5º Domingo do Tempo Comum

Como aquela multidão que correu até Jesus para ouvi-lo, nós também, hoje, nos encontramos nesta Igreja para ouvir a voz do Senhor. Sim, hoje também o Senhor continua ensinando aqui, do alto da barca de Pedro – a Igreja Católica – e é a sua divina voz que ecoa, como nas margens daquele lago: a própria Palavra que se fez carne é quem anuncia a Palavra de Deus!

As três experiências que acabamos de ouvir, a de Isaías, a de Paulo e a de Pedro, possuem um mesmo pano de fundo: um chamado, o medo e, por fim, a confiança. Ouvindo esses ricos testemunhos nos damos conta da limitação da criatura e da grandeza de Deus infinito. Hoje aprendemos que, assim como aquela pesca, a salvação é obra de Deus, que nos arranca do mar da morte e nos dá a vida. 

Notem que duas atitudes se repetem nas três cenas, são atitudes que nós também devemos imitar: 

1ª atitude: Obediência

Pedro não era um desconhecido, Jesus já o conhecia, pois havia curado a sua sogra. Mas o grande encontro estava reservado para aquele dia. Jesus viu Simão – que tão gentilmente lhe emprestou o barco – desanimado pelo fracasso que foi aquela noite de pesca, da mesma forma o Senhor também volta para nós o seu olhar misericordioso quando o desânimo e a vontade de desistir aparecem em nossas vidas. 

Eis então que Jesus dá uma ordem, que para Pedro é contrária a toda a lógica (é isso que ele tenta explicar ao Senhor). Além disso, Jesus foi criado em Nazaré (não era próximo ao lago), era carpinteiro, não parecia ser uma pessoa entendida de pesca. Imagine o que teria acontecido se Pedro, ao ouvir a ordem de Jesus, tivesse feito pouco caso e ido embora? 

Então, por pura fé, por pura obediência, em um ato de total confiança, sabendo que o “mar não estava pra peixe” e que aquele era o pior horário para a pesca, Pedro lança a rede. Disse São João Crisóstomo comentando esta página do Evangelho: “Deus não precisa do nosso trabalho, mas sim da nossa obediência” (1).

É a obediência à ordem dada por Jesus que faz aquele milagre acontecer, faz a pesca ser abundante, transforma o fracasso em prodígio. Eis um exemplo para nós: obedecer o Senhor mesmo quando parecer impossível, insistir na Sua vontade mesmo quando o cansaço nos esgota e nos enche de desânimo. O Senhor também nos diz: tente mais uma vez, tenha confiança em mim, eu estou do teu lado na barca. 

2ª atitude: Humildade

Disse o Papa Bento: “A humildade testemunhada por Isaías, por Pedro e Paulo convida quantos receberam o dom da vocação divina a não se concentrarem nos seus limites, mas a manter os olhos fixos no Senhor e na sua surpreendente misericórdia, para converter o coração, e continuar, com alegria, a ‘deixar tudo’ por Ele”. (2)

O mais admirável na cena bíblica não é a quantidade de peixes (ainda que seja um sinal confirmador da divindade de Jesus), mas sim a tomada de consciência de Pedro: ele se dá conta da santidade de Cristo e, ao mesmo tempo, da sua condição de pecador. É também a experiência de Isaías, de Paulo, assim como a de todos os santos.

Sim, dar-se conta da fragilidade, como Paulo que chega ao ponto de dizer: tudo na minha vida é obra da graça de Deus, ou como Pedro cujas palavras é como se dissesse: – Senhor, não mereço estar convosco, eu duvidei. Aprendemos que as nossas debilidades não devem nos colocar medo de assumir a missão, mas devem fazer com que confiemos mais ainda Naquele que nos chamou

Dar-se conta da nossa fraqueza, do nosso pecado, é um passo necessário na santidade. Como Isaías que se dá conta dos seus lábios impuros, como Paulo que reconhece sua história de perseguidor dos cristãos, de Pedro que maravilhado diante da santidade de Jesus se lança aos pés do Senhor e se confessa um pecador. Quanto nos fará bem, ouvindo esse exemplo, tomar coragem para fazer uma boa confissão dos nossos pecados diante de um sacerdote!

Conclusão

Lançar as redes sobre os corações, eis a missão da Igreja. Quantos irmãos nossos que vivem no fundo sombrio de um mar de tristeza e que estão esperando ser pescados para a vida nova em Cristo. Que a Igreja – que somos nós todos – anuncie sempre, de forma apaixonada, o nosso Divino Redentor.

Convêm lembrar que o chamado de Pedro é o nosso chamado, e por isso não podemos desanimar, não podemos desistir. Qualquer que seja nosso ministério (ordenados ou leigos), nos diversos serviços a que fomos chamados na comunidade eclesial, é preciso ser perseverante! A nossa missão na Igreja é, antes de tudo, a missão de Cristo e a pesca Dele nunca fracassa!

Sim, a pesca de Pedro é ainda abundante ainda hoje, segue sendo milagrosa! Quantos homens e mulheres pescados pelo Senhor, quantas crianças, jovens, adultos e idosos, cujos nomes são conhecidos e outros não, mas que hoje enchem a terra e o Céu de santidade. Sim, a Igreja (Barca de Pedro) é santa e nunca fracassará, porque é obra de Deus!

Maria, rainha dos apóstolos, rogai por nós!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

(1) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 56, 5. (2) Bento XVI, Ângelus, 7 de fevereiro de 2010. 


Textos para meditação

Texto 01: A imagem da pesca é para Jesus como a imagem de um salva vida que num naufrágio em alto mar está fazendo de tudo para resgatar os que correm o risco iminente de se afogarem. É uma metáfora para falar da salvação!

Texto 02: Jesus não chama Pedro para ser apóstolo quando o desânimo e talvez a vontade de deixar de ser pescador tenha passado pela sua cabeça, após uma noite de fracassada pescaria. Pedro teria muito pouco, ou quase “nada” – como ele mesmo disse – para deixar. Mas o que convite é feito no melhor momento da pesca, quando a pesca é abundante, nunca aconteceu uma pesca assim! E é naquele momento, no melhor momento da carreira de pescador, que Jesus o chama a deixar tudo!

Texto 03: Pobre Pedro, que era tão seguro de si, de seus conhecimentos, da sua experiência. Mas ao ver o milagre, percebeu a grandeza daquele que Ele obedeceu. Mais tarde, na noite anterior à paixão, ao ouvir o canto do galo, se dará conta, uma outra vez, da sua fragilidade. Mas Deus não desiste de Pedro (como não desiste de nós) e será também após uma outra pesca milagrosa – a que foi narrada por São João – quando diante do Senhor ressuscitado confessará três vezes o seu amor pelo Senhor. Quantas vezes isso também se repetirá em nossas vidas: da conversão diante dos milagres para a noite da negação. Que Senhor nos dê sempre a graça de reencontrá-lo, para confessarmos que o amamos e que temos medo de perdê-lo!

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