No dia do Ressuscitado, o Senhor reúne a sua família (a Igreja) para alimentá-la.
Ele nos alimenta com a Santíssima Eucaristia, verdadeiramente seu Corpo e seu Sangue.
Ele também nos sacia com a sua Palavra, na qual encontramos os divinos ensinamentos que nos indicam o caminho da vida que agrada a Deus, uma vida de acordo com a sua vontade.
Sem dúvida, as palavras que acabamos de ouvir são as mais desafiadoras do Evangelho e, ao mesmo tempo, são mais atuais do que nunca.
Não precisamos nos esforçar muito para perceber que hoje, assim como na época de Jesus, a violência e o ódio dominam muitos corações. Desde a sociedade até dentro de nossas famílias (e dentro de nós mesmos).
A vingança, o ressentimento e ódio alimentam tantas pessoas, que são destruídas pela nocividade própria do veneno da mágoa.
Para compreender bem o que nos foi anunciado pelos textos bíblicos, é importante começar a reflexão por uma constatação e, em seguida, considerar a missão que brota de tal constatação.
1. Constatação: Somos amados
Antes de qualquer outro ensinamento, e para compreender o que Nosso Senhor nos indica, é importante recordar-se de uma verdade fundamental: Deus nos ama!
“Ele nos amou quando éramos seus inimigos”, “Ele tirou nossa vida do sepulcro”, “Ele não nos trata como exigem as nossas faltas”…
Somente depois de lembrar-me do grande amor de Deus por mim, eu posso agora ouvir o desafiante convite do Evangelho: amai os vossos inimigos! Mas antes disso eu preciso me lembrar do grande amor com que fui amado, quando não merecia, se eu não me recordar disso tudo o que vou ouvir hoje vai parecer uma bobagem, tudo o que vou ouvir a seguir não tem sentido.
2. Missão: Devemos amar!
Eis o desafio cristão, eis as palavras de Nosso Senhor que não podemos esconder ou minimizar: justamente porque fomos amados nós temos a missão de espalhar o amor no mundo onde impera a lei da vingança, do ódio, da violência.
Notai como é desconcertante o ensinamento de Nosso Senhor: o que Jesus nos pede vai muito além do antigo preceito bíblico que nos ensinava a não fazer o mal para os que nos perseguem, Ele vai além! Não é só não retribuir o mal ao inimigo, é preciso amá-lo.
E não pensemos que esse inimigo é uma pessoa distante que nunca vemos. Na verdade são todos aqueles que de uma forma ou de outra nos incomodam, e geralmente as pessoas com que mais temos dificuldades são aqueles com as quais convivemos, seja na família ou trabalho.
Como fazer isso concretamente?
1 – É preciso tomar cuidado com a sede de vingança (que geralmente aparece com esse tipo de pensamento: “quero que pague na mesma moeda!”);
2 – Esforçar-se na prática do amor aos que não podem retribuir e no perdão pelas ofensas e calúnias recebidas. (Não há nada melhor para aprender a perdoar do que contemplar o mistério de Cristo na Cruz, oferecendo o perdão aos seus assassinos).
3 – Além disso, quantas vezes será possível desarmar aqueles que nos fazem mal com os nossos gestos de amor e de bondade. É o que faz Davi, na primeira leitura, ele que tendo a possibilidade de matar seu inimigo não ousou fazer isso, porque reconheceu no seu adversário o “ungido do Senhor”.
É verdade irmãos, nos falta muito para corresponder a esse grande desafio, mas não nos deixemos desanimar. Perseverança nesse caminho de santidade, nesta trilha de amor, porque é assim que o Senhor nos conduz ao seu encontro.
Desta forma o homem celeste, de que nos dizia São Paulo na epístola, vai sendo formado em nós.
De fato, tinha razão Santa Terezinha quando escreveu: “Como os ensinamentos de Jesus são contrários aos sentimentos da natureza! Sem a ajuda da graça seria imposível não só pô-los em prática, mas até compreendê-los”. (1)
Maria, mãe da misericórdia, rogai por nós!
(1) S. Teresa de Lisieux, Manuscrito C. In; Obras Completas. Paço de Arcos: Carmelo, 1996, p. 266.