Assim como aquela multidão que numa tarde, na beira do lago, foi em busca de Jesus, hoje somos nós que vamos ao encontro do Divino Mestre. E quantos sacrifícios fizeram aqueles homens e mulheres para irem até Nosso Senhor! Não tenhamos medo de enfrentarmos também nós os tantos desafios que encontramos para irmos até Ele!
O início do evangelho registra um detalhe precioso: Jesus, ao saber da morte de João, busca um lugar deserto e afastado e faz ali como que um “retiro espiritual”. Não que ele precisasse, é claro, mas fez isso para nos deixar o exemplo. E qual seria o tema da sua meditação? Tudo nos leva a crer que seria sobre a sua Páscoa, pois para Jesus a morte do precursor foi uma pré-figuração da sua própria Paixão.
É nesse contexto que Jesus ensina, apascenta e cuida do rebanho. E os verbos “viu”, “sentiu compaixão”, “curou” narram como que a nossa própria história da Salvação, ou seja, a história de Deus que veio ao encontro da humanidade e que vem também ao nosso encontro!
E tendo alimento o povo com o pão de sua doutrina também sacia a sua fome física. Por isso hoje nos convêm considerar a quarta petição do Pai Nosso: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Ao elevarmos esse pedido a Deus na oração que o Senhor nos ensinou, suplicamos que Ele nos conceda: (1) o pão espiritual e também (2) o pão material. Falemos sobre essas duas formas de Deus nos alimentar, prefigurados no evangelho de hoje.
1. O Pão Nosso espiritual: Eucaristia
Em seu desígnio de amor, ao pensar naquela multidão que encontraria naquela tarde, quis Nosso Senhor fazer-lhes um milagre que não serviria apenas aos seus contemporâneos, mas a todos nós.
Isso porque aquele milagre era um sinal de um outro milagre, muito maior e superior! Aquele que aconteceria na última ceia e que no calvário e na ressurreição do Senhor se perpetuariam para sempre: a Santa Missa! E hoje, meus irmãos, este mesmo milagre acontecerá diante dos nossos olhos: é a Divina Eucaristia.
Falemos sobre alguns detalhes deste evangelho que apontam para o mistério Eucarístico: o pouco que levamos ao altar, as idênticas palavras de Jesus na multiplicação dos pães e na última ceia, o milagre do presente mais precioso de nossas vidas, e por fim algumas orientações para comungar.
a) O nosso pouco colocado no altar: Assim como que Jesus contou com os poucos pães e peixes, Ele também conta com nossa colaboração – pequena e insignificante -, simbolizadas no pouco de pão e no pouco de vinho. Para desta forma realizar um milagre que em muito supera uma multiplicação miraculosa de pães, que é o milagre da transubstanciação: de pão em Corpo e de vinho em Sangue.
b) As mesmas palavras de Jesus: Podemos notar também, para confirmar a relação deste milagre com a Santa Missa, que as palavras ditas por Jesus na bênção coincidem com o relato da instituição da Eucaristia: “Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos” (Mt 14, 19).
Essa relação entre a multiplicação dos pães e a Eucaristia foi percebida desde o início da Igreja, tanto é verdade que nas catacumbas, muito frequentemente, a Eucaristia é simbolizada por um cesto com pães e peixes. Além disso, observem também que a Eucaristia é o pão que nos sacia por completo e é tão farto que sobram cestos cheios, é o sinal desta saciedade divina!
c) Presente mais precioso: Ao dar um presente para alguém se está dando um pouco de si para que, através daquele presente, a pessoa querida tenha a lembra de quem lhe presenteou. Na Eucaristia Nosso Senhor nos deu a si mesmo: seu Corpo e Sangue! Se Deus tivesse algo mais precioso para nos dar Ele nos teria dado. Como profetizou Isaías que, através das imagens da água, do vinho, do leite e do pão, com as quais anunciava a Eucaristia. É um pão que se pede a Deus, que só Ele pode dar. Não é um direito, é uma dádiva!
d) Disposições para comungar: Assim como de nada adianta dar comida a um cadáver, de nada serve o alimento divino dado a uma alma em estado de putrefação por conta do pecado mortal. Por isso a primeira disposição fundamental para comungar é a confissão de todos os pecados. Nos fará muito bem também redescobrir mais uma vez o valor da Adoração Eucarística, da Comunhão Espiritual e desta forma agradecer todos os dias pelo tesouro que é a Eucaristia!
2. O pão nosso material
Nosso Senhor também cuida de nossas necessidades materiais. Jesus sente compaixão também hoje de tantos irmãos nossos que passam fome. Por isso disse o salmista: “Vós lhes dais no tempo certo o alimento” (Sl 144, 15). Nesse sentido ouvir o relato da multiplicação dos pães é um convite à aprender a partilhar, agradecer a Deus pelos alimentos e a saber confiar na divina providência, falemos sobre esse três aspectos:
a) Aprender a partilhar: A indicação para que os pães continuem sendo multiplicado nos dias de hoje é apresentado no Evangelho: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16). E assim como eles que levaram o pouco que tinham, nós também, partilhando o pouco que temos, vemos hoje grandes milagres! Não podemos esconder o pouco que temos para ficar só para nós, é preciso aprender a partilhar, por mais pouco que pareça.
É porque nos sentimos amados pelo Senhor, principalmente pelo dom da Eucaristia, que nós somos inflamados pela virtude da caridade que nos leva à partilha, principalmente dos alimentos materiais. É claro que o pão espiritual está em primeiro lugar e é mais importante que o pão material, mas também sabemos que “Jesus não é indiferente à fome dos homens, às suas necessidades naturais, mas as situa no contexto adequado e os concede a prioridade devida” (1).
b) Rezar antes das refeições: É importante também hoje recordar da importância de agradecer a Deus pelos alimentos colocados pela bondade divina em nossas mesas. E essa observação quem faz notar é São João Crisóstomo quando meditando sobre o evangelho de hoje disse que, ao elevar aos olhos ao céu e dar graças pelos pães e peixes, Jesus “também nos ensina que, antes de começarmos a comer, devemos agradecer a Deus que nos dá comida” (2).
c) Confiar: Nada poderá nos separar da pessoa mais importante de nossas vidas: Nosso Senhor. Foi isso que nos lembrou S. Paulo em sua epístola. E a lista enumerada pelo apóstolo poderia se prolongar de acordo com a nossa própria realidade: nem os fracassos, nem a dor, nem uma doença, nem a resistência das pessoas ao Evangelho, nem a hostilidade do mundo por sermos cristãos, nem as sentenças injustas dos tribunais de juízes iníquos, nada, nada mesmo nos vai separar do amor de Deus!
Quando o evangelista, ao narrar a multiplicação dos pães, diz que já “estava anoitecendo”, e que eles estava num “lugar deserto”, ele nos faz compreender o que se passava no coração dos discípulos, isto é, que alimentar aquela multidão parecia ser impossível. Deus é assim, nos surpreende sempre, principalmente quando o milagre parece impossível.
Maria, a mãe da Divina Eucaristia, nos dê a graça de valorizar a presença de seu Filho no pão eucarístico e também dai-nos um coração generoso para socorrer nossos irmãos que sofrem com a dor da fome.
(Pe. Anderson Santana Cunha)
(1) Bento XVI, Jesus de Nazaré, vol. I, p. 21. (2) S. João Crisóstomo, Homilia S. Mateus, hom. 49, 1 in Catena Áurea, Mt XIV, 15-21.
Textos para meditação
Eis uma bela oração que alguns jovens católicos lituanos fizeram quando estavam presos em um campo de concentração comunista, sem padres e sem Missa:
Cansaço e fraqueza oprimiram nossa corações. Não temos alimento espiritual nem descanso corporal ou consolação. A saudade, a espera e a escravidão nos estão afogando. Jesus misericordioso, imploramos sua compaixão, nos abraçamos ao seu lado aberto. Coração misericordioso e inflamado com amor, aperte-nos com os laços de piedade e amor. Ajude-nos a retornar à nossa terra em breve, para que possamos cumprir melhor, sempre melhor, as tarefas que nos foram confiadas pelo Criador. Amém.
ZEVINI, Giorgio; CABRA, Pier Giordano. Lectio Divina para cada día del Ano, Vol. 13, Editorial Verbo Divino, Navarra: Espanha, 2003, p.153-154