O salmo desta Missa coloca em nossos lábios duas importantes exortações de Deus: não fechar o coração e ouvir a voz do Senhor. Por isso, com o coração aberto acolhamos a mensagem divina, hoje anunciada a nós por Cristo através da Igreja.
Três palavras nos ajudam a recolher os ensinamentos espalhados pelos textos sagrados desta Santa Missa: profecia, libertação e celibato.
a) Profecia
Deus sempre suscitou profetas que, ora com palavras duras, ora com carinho e ternura, anunciavam a mensagem do Senhor e exortavam o povo de Israel à fidelidade.
O profeta predito por Moisés na primeira leitura, que seria muito superior a ele, é Jesus Cristo, aquele que veio nos conduzir para o verdadeiro êxodo. Em Cristo Deus mesmo veio falar a nós! Ouvindo-o escutamos o próprio Deus. Jesus é o novo Moisés, que liberta da verdadeira escravidão do diabo que é o pecado!
A Igreja continua a missão profética de Cristo, ainda que rejeitada. Ora ridicularizada ou mesmo desprezada, a esposa de Cristo nunca deixa de anunciar a verdade. Pelo batismo também nós participamos da missão profética da Igreja.
O profeta, nos lembrou o Deuteronômio, deve dizer o que Deus manda falar, o que nem sempre será o que o povo quer ouvir… Infelizes dos pregadores que sobrepõem o ensinamento divino às suas opiniões pessoais, e pregam os seus caprichos e suas ideologias – os profetas da mentira -, ao invés de ensinar a sagrada doutrina transmitida pelos apóstolos e que eles ouviram dos lábios do Senhor ou aprenderam do Espírito Santo.
b) Libertação
A Palavra de Deus tem autoridade. A Bíblia não é qualquer livro, qualquer história, qualquer ensinamento. É a comunicação de Deus com os homens. Por isso, é dela que aprendemos o caminho para a vida eterna.
Para entender a relação entre a pregação de Cristo e este exorcismo que Jesus realizou em Cafarnaum, nos ajudam estas palavras de São João Paulo II: “O anúncio do reino de Deus é sempre uma vitória sobre o diabo.” (1). No evangelho de São Marcos, Jesus está sempre em confronto com os espíritos do mal. Nós, os cristãos, continuamos esta batalha.
Além disso, em nossa época, multiplicam-se aqueles que buscam adivinhos, necromantes (os que em rituais consultam os mortos), feiticeiros, e tantas outras pessoas compactuadas com o mal. Isso é evidente, mas é importante lembrar: os cristãos não podem buscá-los, muito menos envolver-se com esse tipo de coisa!
A cura deste homem endemoniado nos ensina muitas coisas. Aquele exorcismo é a imagem do cristã purificado pelo anúncio da Palavra de Deus. Isso acontece de modo ritual com todo o adulto que é batizado. Durante o ritual de iniciação à vida cristã ele também recebe o exorcismo antes de acolher o dom da vida nova.
Irmãos, as possessões diabólicas existem, e para isso a Igreja organiza o ministério dos sacerdotes exorcistas. Mas essas situações não são tão frequentes quanto este outro perigo que nos ronda com muito mais frequência: as tentações. Diante das tentações devemos dizer como Jesus no evangelho: “cala-te e sai!”.
O combate às tentações se faz especialmente através da confissão. Quando somos libertos da escravidão do demônio pelo sacramento da penitência, uma outra poderosa arma é colocada a disposição de todos os cristãos: a oração. Foi na oração que é modelo de todas as orações que Jesus nos ensinou a dizer a Deus: “Livrai-nos do mal!”
c) Celibato
Também Paulo, na segunda leitura, nos anuncia o Evangelho com autoridade, e na epistola que ouvimos faz um elogio ao celibato. Sua tese é muito simples: o coração livre pode melhor servir a Deus. Por isso hoje agradecemos a Deus pelo dom que é o celibato sacerdotal para a Igreja.
Três são os motivos principais pelos quais a Igreja conserve esse dom precioso:
1- Motivo cristológico: o sacerdote imita plenamente Cristo cuja vida foi celibatária;
2 – Motivo eclesiológico: desta forma o padre se dedica integralmente à Igreja da qual se torna esposo;
3 – Motivo escatológico: a vida celibatária antecipa na terra a realidade do Céu.
Concluamos nossa meditação com uma oração que São João Paulo II fez numa catequese em que falou sobre o mal e diabo: “Faça, o Senhor, que não caiamos na infelicidade à qual nos seduz aquele que foi infiel desde o início”. (2)
Maria, mãe castíssima, rogai por nós!
(1) São João Paulo II, Audiência, 13 ago 1986. (2) Idem.