A cena descrita pelo evangelista que acabamos de ouvir, sem dúvida, deve ter comovido profundamente o coração de quem a assistiu, particularmente o dos apóstolos. Tanto é verdade que encontramos a narração deste episódio nos três sinóticos (1).
Encontrar com aquele homem todo deformado, com a pele apodrecendo e cheirando mal, foi um fato marcante, porém, mais marcante ainda foi o que naquele dia aconteceu: o toque, a cura, a vida nova. Mas o que Nosso Senhor quis ensinar-nos através daquele milagre? Aprendemos que o pecado é uma lepra e que a confissão é a cura.
a) O pecado: a verdadeira lepra
São dois motivos que levavam àquelas regras duras, descritas na primeira leitura, em relação aos leprosos: primeiro porque era uma enfermidade contagiosa (até por volta de 1975 os leprosos eram separados do convívio social) e, além disso, os antigos atribuíam o padecimento desta doença como castigo pelos pecados.
Desta forma, o portador dessa doença – que hoje chamamos de hanseníase – era colocado para fora da comunidade e vivia na solidão ou em pequenos grupos de leprosos. Isso deixa claro que “a lepra constituía uma sorte de morte religiosa e civil, e sua cura era uma espécie de ressurreição” (2).
Sabemos muito bem que a lepra não é fruto do pecado. Todavia quando essa enfermidade é descrita na Bíblia quase sempre é um símbolo do pecado, como nos ensinam os Padres da Igreja (3). O pecado, que é muito pior que qualquer doença física, é a verdadeira impureza que de fato nos afasta de Deus e dos irmãos.
O que nos surpreende é o gesto de Jesus: Ele o toca! O que era proibido pela lei. Uma vez que alguém tivesse tido o contato com o leproso se tornaria igualmente impuro e sujeito às mesma sanções.
O toque de Jesus no leproso, pleno de carinho e afeto, é a imagem da história da salvação: Deus se encarnou e se vestiu com a carne da nossa impureza e assim nos curou e restituiu a vida; na cruz, com a pele de seu corpo todo chagado, torna-se “leproso” para nos curar.

b) Confissão: a cura
A obrigação da lei mosaica de apresentar-se ao sacerdote para certificar a cura é, de certa forma, uma imagem que permite falar da necessidade de buscar o padre para receber o sacramento da reconciliação.
Na confissão o sacerdote da Nova e Eterna Aliança restitui a vida daqueles que confessam seus pecados para que curados possam voltar à amizade com Deus e ao convívio com a sua família que é a Igreja.
Jesus não precisaria tocar aquele homem para que ele fosse curado, é verdade. Ele o fez propositalmente. Da mesma forma que Deus poderia nos perdoar sem nenhum intermediário, mas Ele quis que os sacerdotes fossem a Sua mão estendida em nosso socorro, o toque de Sua misericórdia.
Na confissão também Jesus diz mais uma vez: “Eu quero: fica curado!” (Mc 1, 41). O Senhor sempre quer a nossa cura!
Aquele homem diante de Nosso Senhor é extremamente sincero. Reconhece a sua situação humilhante e coloca-se de joelhos. Reconhece que está doente e suplica a cura. Assim devemos nos comportar na confissão: com humildade em reconhecer nossas faltas. Por isso rezou o salmista: “Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos fiz conhecer” (Sl 31, 5a)
Hoje o leproso também nos ensina a rezar. Que oração sincera e poderosa aquela que brota de seu coração: Senhor, “se queres tens o poder de curar-me” (Mc 1, 40). Quanta confiança, quanto abandono nas mãos do Senhor, quanta fé! Essa é a oração que nunca falha!
Então, curados pelo sacramento da confissão, poderemos viver a orientação da segunda leitura: Imitar Nosso Senhor. E para ficar mais fácil, muito nos ajuda o exemplo dos santos, pois desta forma contemplamos aqueles que imitaram a Cristo, como São Paulo.
Que a Virgem nos ensine o caminho da santidade, que passa necessariamente pelo confessionário, onde somos curados no banho do sangue da Divina Misericórdia.
(1) Cf. Lc 5, 12-16; Mt 8, 2-4. (2) Papa Bento XVI, Angelus, 15 de fevereiro de 2009. (3) Cf. São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 25, 2.