Pastor Bonus

4º Domingo do Advento (Ano C)

Bem próximos do Natal, hoje, a Igreja eleva o nosso olhar para o que de mais importante aconteceu na história: o mistério da Encarnação. Deus visitou o seu povo!

Cristo entrou no mundo”, diz a Carta aos Hebreus. E, assim como Isabel, assombrados diante deste grande mistério de amor, também nós devemos dizer: quem sou eu para que o Senhor me venha visitar? 

Meditemos primeiramente sobre a obediência e depois sobre a fé e a humildade, que são as três virtudes que os textos bíblicos colocam diante de nós:

1. Obediência: o “sim” de Cristo e o “sim” de Maria 

O natal não foi por um acaso, mas é um projeto divino, pensado desde toda a eternidade. E mais, Cristo assumiu nossa carne em obediência. É o eterno “sim” do Filho, que ecoa para sempre e desde sempre na vida divina, e que assume a nossa condição humana e mortal. Vive toda a sua vida como uma oferenda, que tem como ápice a entrega na Cruz.

E nesse grande mistério encontramos uma mãe, a Virgem Maria, que por sua fé gerou o Salvador e desta forma colaborou em nossa redenção. Na Encarnação o “sim” de Deus se encontra com o “sim” de uma mulher.

Disse São João Paulo II: “quando a Virgem de Nazaré pronuncia seu ‘fiat’ (faça-se em mim segundo a tua palavra), o Filho pode dizer ao Pai: me formaste um corpo”. (1)

Da mesma forma com que foi necessário a obediência eterna do Filho e a total entrega e abandono de Maria nas mãos de Deus, assim também o advento de Deus em nossa vida depende de nossa resposta, também depende de nosso “sim”!

Deus nunca se impõe, mas nos propõe um caminho de vida! 

2. Imitar Maria na fé e na humildade

O profeta Miquéias nos aponta Belém, pequena e desprezada; o Evangelho nos aponta Maria, simples e pobre. Que coisa! Deus sempre nos surpreende, escolhe sempre os fracos, os desprezados, os esquecidos. 

Falemos primeiro sobre a . Hoje ouvimos a primeira bem-aventurança dos Evangelhos: feliz é quem crê! É a felicidade que também pode ser nossa! Assim como fez mãe uma anciã estéril, assim como fez nascer o seu próprio Filho no seio virginal de Maria, quanta coisa Deus não poderá também fazer conosco? 

É claro que nós nem sempre vamos entender perfeitamente os projetos de Deus, mas isso não importa! O que importa é a nossa confiança, a nossa atitude de se deixar conduzir por Deus, de realizar em nossa vida seu plano de amor, que é muito maior e melhor do que qualquer outro caminho que poderíamos traçar para nós mesmos. 

Porém, irmãos, notai uma coisa: a raiz da fé é – como vemos nitidamente em Maria – a humildade. É preciso ser humilde para crer, a arrogância, a soberba, nos encaminha para a tristeza que é a incredulidade. Eis aqui uma outra virtude importante: a humildade

Se no advento nos preparamos para receber Jesus, uma pergunta muito lícita é: como Maria se preparou para o Natal, o primeiro Natal? A resposta ouvimos no Evangelho: colocou-se a serviço. Quantas lições se apreende da visitação de Nossa Senhora!

Ainda sobre a humildade, gostaria de lembrar um detalhe interessante: na Basílica da Natividade, em Belém, a porta de entrada é muito baixa, o que faz com que o peregrino que ali entra tenha necessariamente que se inclinar.

Há uma explicação prática: assim os beduínos não entrariam naquele lugar sagrado com seus camelos. Mas há um sentido mais profundo para aquela porta baixa, que eu gostaria de destacar nesta homilia: para entrar no mistério do Natal é preciso abaixar-se, fazer-se pequeno. 

Concluamos nossa reflexão com um pensamento importante. Num tempo em que os abortistas – e, com eles, muitas autoridades públicas e judiciárias – gritam contra a vida e defendem o assassinato de crianças, Isabel exclama: “bendito é o fruto do teu ventre!”. Não tenhamos medo de defender a vida, desde a concepção até seu declínio natural. 

Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

(1) S. João Paulo II, Homilia, 22/12/1985.

Textos para meditação

Na cena da Visitação se pode ver o encontro entre o Antigo e o Novo Testamento: “a idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias, enquanto que a jovem Maria traz em si o cumprimento desta expectativa, em benefício de toda a humanidade. (…) A exultação de João no seio de Isabel é o sinal do cumprimento da expectativa: Deus está para visitar o seu povo” (Papa Bento XVI, Ângelus, 23/12/2021).

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