Se no domingo passado, o Senhor nos levava ao deserto para nos ensinar a vencer as tentações, hoje Ele nos conduz ao monte Tabor e diante de nós é transfigurado.
Sim, hoje Ele também se transfigura, e faz isso para manifestar a sua glória e, mais ainda, para mostrar a glória que Ele promete a nós. É o que disse São Paulo: “somos cidadãos do céu” (Fl 3,20), e um dia nosso corpo humilhado será glorificado!
De fato, Cristo, no Tabor, antecipa a sua glória e também a nossa. Mostra-nos o que nos espera e, ao mesmo tempo, o que já começou a acontecer em nós pelo batismo. Naquele dia, usando uma veste branca, passamos a ser templos do Espírito Santo e a nossa vida começou a ser transfigurada.
Observem que, a partir das leituras bíblicas, podemos indicar “duas lições do Tabor”:
1ª Lição: Aprender a confiar em Deus
Vejam o que Deus faz na primeira leitura: promete muitos filhos para um homem velho cuja mulher era estéril. Isso tudo parece impossível! Quem acreditaria numa promessa como essa se não tivesse fé?
Hoje, irmãos, devemos aprender a “olhar para o céu”, como ordena Deus a Abrão. Sobretudo quando chegar a “noite” (era noite quando Deus manda Abrão contar as estrelas!) da tristeza e do desânimo, Deus nos chama para irmos para fora e olharmos para o céu, olharmos para cima. Na quaresma devemos aprender a olhar para o alto!
É o que também faz Jesus com os discípulos. Eles estão desanimados com essa “história” de cruz, de sofrimento e de morte. E por isso Nosso Senhor transfigurado permite que eles olhem para o final, para a meta, e contemplem o que vem depois do sofrimento. E faz isso conosco também: depois das dificuldades da vida presente chegará uma alegria que não terá fim!
Para isso é preciso ter fé (e Abraão é um grande exemplo disso!). É também sobre isso que rezamos no salmo: “espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor!” e, mais ainda: “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem eu tremerei?”
Para concluir este primeiro ponto, notai os detalhes do rito misterioso, que acontece na primeira leitura. Trata-se de um rito de compromisso, no qual os dois que “assinavam o contrato” deveriam passar no meio dos animais esquartejados jurando merecer aquele mesmo fim se não cumprisse o prometido.
Deus atrasa, mas Abrão não desiste. Mas, notai este detalhe:só Deus passa! Ele é sempre fiel, mesmo quando somos infiéis.
2ª Lição: Aprender a rezar e a ouvir o Senhor
A Quaresma é um retiro espiritual e esta nossa meditação dominical de hoje nos conta de um retiro vivido por Jesus: Ele vai para o alto do monte – como fez várias vezes – e está lá para rezar, durante a noite toda.
O evangelista diz uma informação que não pode passar despercebida: o rosto de Jesus mudou de aparência. Mas quando isso acontece? Quando rezava!
Eis, irmãos, o grande apelo desse tempo quaresmal: aprender a rezar, estar sempre em comunhão com Deus, escutar a sua voz. Assim nosso rosto, nossa vida, nossa história também mudará!
Sim, rezar é falar com Deus, mas é também escutá-lo! É essa a ordem dada pelo Pai. De fato, “É ele a única voz que deve ser ouvida, o único que deve ser seguido” (1). De modo especial é na Santa Missa que rezamos e ouvimos a voz do Senhor, por isso é muito importante ser fiel à celebração dominical da Eucaristia.
Maria, Senhora da Glória, rogai por nós!
(1) Papa Bento XVI, Ângelus, 28 de fevereiro de 2010
Textos para meditação
- Os discípulos são vencidos pelo sono. Os evangelhos nos narram duas vezes em que esses três dormiram diante de Jesus: no Tabor e no Getsêmani. E o que esses dois momentos têm em comum? Em ambos momentos eles ouvem falar de cruz e sacrifício.
- Não dá pra permanecer no Tabor, como quer Pedro. É preciso descer, é preciso ir à Jerusalém, é preciso passar por todo o drama da paixão. Isso porque: antes da glória vem a cruz, antes do rosto ressuscitado vem o rosto ensanguentado.
- Disse São Leão Magno: “o principal fim da transfiguração era desterrar a alma dos discípulos do escândalo da cruz” (Serm 51, 3).
- A transfiguração de Jesus é a certeza da possibilidade de nossa conversão. Sim, da mesma forma como Ele mudou as suas roupas, que ficaram brilhantes como sol, assim também Ele pode nos transformar e nos tirar de nossa sujeira e nossa escuridão.
- Jesus conversa com Moisés (autor da Lei, os cinco primeiros livros da Bíblia) e Elias (símbolo dos Profetas), desta forma estão representadas as duas partes da Bíblia Hebraica. Eles falavam da sua partida, em grego: exodo. A Bíblia inteira – inclusive o Antigo Testamento – fala de Jesus e aponta para Ele, para a sua vida, para a sua morte e ressurreição.