Hoje recordamos a dedicação da Basílica do Latrão. É nessa Igreja, a Catedral do Bispo de Roma, que se encontra a cátedra, a cadeira episcopal do Papa.
Quando a Igreja celebra a dedicação de um templo (celebramos também o dia da dedicação da Catedral em toda a diocese e também a consagração de cada Igreja), ela o faz para afirmar um duplo mistério: Deus habita no meio do seu povo (na Igreja está o sacrário, onde Cristo vive!) e o povo de Deus tem um lugar público e visível (uma casa) onde se encontram para a oração e sacramentos.
Três palavras nos ajudam a meditar esse mistério: fundação, água e zelo.
1. Fundação
A Igreja foi fundada por Cristo. Todos nós somos parte desta obra que é de Deus. São Paulo nos recordam: «Vós sois templo de Deus e o Espírito de Deus habita em vós» (1Cor 3,16). Cristo é a pedra angular, e é sobre ele a comunidade se organiza, cresce e resiste às tempestades.
Isto implica duas consequências práticas para nós:
a) Primeiro, a identidade: não somos um clube ou uma ONG, somos membros vivos do Corpo de Cristo. A Igreja é uma família espiritual, nascida no batismo; é um corpo que tem Cristo como cabeça!
b) Segundo, os espaços sagrados existem para nos reunir e colocar-nos diante do Senhor. A verdadeira Igreja somos nós, “pedras vivas”, mas precisamos desse lugar santo para o culto divino.
No evangelho de hoje, quando Jesus purifica o Templo, ele está reorientando a casa de Deus para aquilo que ela sempre foi: lugar de encontro com o Pai, não mercado, não espetáculo. Assim devem ser as nossas Igreja.
2. Água
A “água” é a imagem utilizada pelo profeta Ezequiel, na primeira leitura. Ele diz que da casa de Deus sai água que dá vida, cura e fecunda (Ez 47).
A Igreja é essa fonte de vida, e ela faz isso através dos sacramentos. De fato, é através deles que temos vida (Batismo, Crisma e Eucaristia), que somos curados (Confissão e Unção dos Enfermos), que temos fecundidade (Ordem e Matrimônio).
É bonito também esse detalhe. Diz o profeta, em outras palavras: “Vi sair água do lado direito do templo, e todos os que esta água tocou foram salvos”. É o anúncio do que aconteceu na Cruz. O lado de Cristo que foi traspassado pela lança foi o lado direito do peito. Ele é o verdadeiro Templo!
A Igreja e os Padres da Igreja interpretam o sangue e a água que saíram do peito como sinal da vida sacramental da Igreja. Sim, a Igreja e os Sacramentos nasceram do lado dormente do seu Divino Esposo, como Eva nasceu do lado dormente de Adão!
3. Zelo
A morada de Deus é santa e merece respeito. E se a primeira morada de Deus é nosso corpo, ele merece respeito. Assim como também o corpo do outro, que é templo do Espírito Santo.
A Igreja, por sua vez, enquanto lugar do culto, deve receber de nossa parte o devido cuidado. A casa de Deus, antes de tudo, deve ser testemunha da beleza e da ordem porque a beleza ajuda o coração a elevar-se a Deus; a ordem facilita a participação. A beleza do Templo e a dignidade da liturgia apontam para o infinito.
Eis aqui alguns conselhos práticos para se ter atenção:
a) Comportamento: no templo, os gestos e o silêncio ajudam a cultivar o encontro com o Senhor. Fazer sinal da cruz quando se passa na frente de uma Igreja; ajoelhar-se diante do Santíssimo Sacramento (em exposto à veneração pública ou não); evitar falar alto ou palavras inapropriadas nesse lugar Santo, são bons princípios a serem seguidos e relembrados na Missa de hoje.
b) Vestimenta e decoro: não se trata nem de laxismo nem de moralismo, mas de respeito. E não se trata de roupa cara, nem de roupa simples, mas de vestir-se com pudor. É gesto pedagógico ter uma roupa própria (e adequada) para a Santa Missa; isso nos lembra a solenidade do encontro com o Senhor. Não se entra num forúm, por exemplo, com qualquer veste. Por que nesse momento tão santo não teria um respeito semelhante ou maior ainda?
c) Sustento e doações: contribuir para a manutenção da igreja é gesto de amor e de responsabilidade, para que o santuário continue a ser fonte de graças e espaço de acolhida aos que buscam Deus.
Zelo pela casa de Deus é, por outro lado, zelo pela comunidade que ali se reúne. Um templo limpo e bem cuidado é sinal de um povo que assume a sua missão e que deseja oferecer ao Senhor o melhor de si. Como no gesto de Jesus, o zelo verdadeiro purifica para que a casa volte a ser casa de oração.
Conclusão
Hoje, em síntese, ao lembrar a dedicação da Basílica do Latrão, somos chamados a reconhecer três verdades: Cristo é o fundador da Igreja; a Igreja nos dá a água viva dos sacramentos; e somos chamados a ter zelo pela casa onde o mistério é celebrado, onde a eternidade toca o tempo, o Senhor vive no sacrário.
Que cada batizado se veja e viva como templo vivo: edificado sobre Cristo, atraído pela fonte que cura, responsável pelo cuidado do lugar e das pessoas.
Que a memória desta dedicação nos fortaleça: para amar a Igreja como mãe e escola de santidade; para receber com gratidão as águas que nos purificam; e para trabalhar com alegria na construção de uma casa visível que seja porta de encontro entre Deus e o mundo.
Maria, mãe da Igreja, rogai por nós!

