Jesus declara, logo no início do evangelho que ouvimos, qual é a sua missão: acender um fogo sobre a terra. O fogo, nas Escrituras, significa, entre outras coisas, o amor de Deus que purifica o homem. Cristo quer neste domingo reacender a chama do amor de Deus em nossos corações. Permitamos que Ele nos aqueça e que saímos desta Igreja com os corações reinflamados de amor pelo Senhor.
Tal fogo é uma chama que incomoda, que gera conflitos e divisões. Pode parecer em contraposição com a mensagem cristã de paz e reconciliação, porém não é contraditório se compreendermos aquela frase de Nosso Senhor que diz o sacerdote após a oração do Pai Nosso: “dou-vos a paz, a minha paz”. A paz que vem do Senhor não é a paz que o mundo dá!
Foi sempre assim, basta olhar a história, quantas vezes a obediência a Nosso Senhor gerou divisões, nas famílias e entre os povos. A obediência à verdade incomoda os que estão cegos e encarcerados pela mentira e pelo erro. Jesus não aceita neutralidades: “quem não está comigo está contra mim”, disse Nosso Senhor (cf. Mt 12, 30).
Mas que fogo o Senhor quer acender na terra e em nós?
1. O fogo do Espírito Santo
O fogo é uma excelente metáfora para falar da ação do Espírito Divino em nós: ele se difunde rapidamente e nada pode resistir à sua ação. É o que Deus faz conosco e que se canta no salmo: “Enviai vosso Espírito Senhor e tudo será criado e renovareis a face da terra” (Sl 104, 30). É por isso que em Pentecostes o Espírito Santo desceu no formato de línguas de fogo. É uma imagem bastante pedagógica para entender a ação da Terceira Pessoa da Trindade em nós.
2. O fogo do amor da cruz
Quando Jesus diz que está ansioso até que tudo se cumpra, essa última expressão “que se cumpra” em grego é “teléo”, trata-se do mesmo verbo que Jesus pronunciou na cruz: “tetélesthai”, “tudo está cumprido, consumado”. A cruz revela e consuma o amor de Deus por nós. Na Cruz Deus nos mostra o tamanho do seu amor!
Ao dizer “tudo está consumado”, diz o evangelho, Jesus deu o último suspiro. Na verdade poderia passar despercebido, mas aquele último sopro que saiu dos lábios de Nosso Senhor não é apenas o último suspiro de um moribundo, mas é o sopro da nova criação, é um primeiro sopro, é o vento do Espírito Santo que é doado, na cruz, a todos nós.
3. O fogo no coração do cristão
Desde o “incêndio” de Pentecostes, o coração dos discípulos, queimando de amor por Nosso Senhor, os impeliu a anunciar a todos a boa notícia do Evangelho. É esse anúncio que renova a face da terra, é essa verdade que os homens precisam conhecer, é esse fogo que deve queimar no coração de todo o ser humano.
A nós também que fomos batizados e crismados, a nós que somos alimentados semanalmente pela Santíssima Eucaristia, o Senhor também nos impele, nos impulsiona a acender (ou reacender) esse fogo de amor a Deus em nossas famílias e em toda a sociedade.
Tal missão pode parecer muito difícil, porém a segunda leitura é como um grande incentivo para o nosso combate, nos diz que não lutamos sozinhos, estão rodeados de testemunhas, os santos, que nos apoiam com seus exemplos. Fixemos, irmãos, os olhos em Jesus, como diz o autor da carta aos hebreus, assim teremos forças e não vamos desistir.
Maria, esposa do Espírito Santo, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)