Irmãos, feliz ano novo litúrgico! Hoje, com toda a Igreja, iniciamos um novo percurso com o Senhor através dos mistérios de sua vida. E neste ano (chamado de Ano A) será o evangelista Mateus que nos acompanhará a cada domingo.
A cor roxa dos paramentos sacerdotais, nesta primeira etapa do ano litúrgico chamado de Advento (do latim Adventus: vinda), nos recorda que este tempo é de penitência (de conversão), mas, ao mesmo tempo, de uma alegre esperança pelo Senhor que veio, vem e virá.
Cristo é o alfa e o ômega, é o princípio e o fim, e toda a história da humanidade parte Dele e para Ele torna, é por isso que o tempo do advento tem uma tríplice perspectiva:
- nos prepara para celebrar o Natal, a primeira vinda do Senhor;
- nos recorda que o Senhor vem sempre ao nosso encontro, especialmente na Eucaristia e nos sofredores;
- e também nos recorda a esperança de sua vinda gloriosa, como professamos no Credo: “E de novo virá na glória para julgar os vivos e os mortos”.
1. Advento é tempo de esperança
O Advento é para fazer crescer em nós a virtude da esperança. Em tempos em que a ansiedade faz tanto mal, Nosso Senhor nos convida a aprender a esperar. A espera faz parte de nossas vidas: a espera por uma criança que irá nascer, a espera da pessoa amada, a espera pela recuperação de uma enfermidade…
Porém hoje a Igreja nos convida a recordar a nossa esperança mais profunda: a esperança de um Salvador. O Senhor veio, nos acompanha, está sempre conosco; mas é certo também que Ele virá, glorioso. “Na verdade, se falta Deus, falta a esperança. Tudo perde o sentido” (Bento XVI, 1 dez 2007).
2. Advento é tempo de vigilância
A primeira parte do advento insiste muito no tema da parusia, da última e gloriosa vinda do Senhor. E por isso mesmo que ouviremos com insistência, dos lábios de Nosso Senhor, o convite à vigilância.
Jesus compara a sua vinda com os dias de Noé, ou seja, assim como Noé acreditou e fez o que o Senhor lhe ordenou, assim também devemos nós fazer; diferente daqueles que foram pegos de surpresa e desprevenidos e ficaram fora da arca. A Arca é uma imagem que prefigura a Igreja.
Nosso Senhor também usa o exemplo do dono da casa que deve vigiar para que a sua casa não seja roubada e por isso mesmo, como não sabe a que horas pode vir um ladrão, está sempre atento e vigilante.
Nas duas situações há duas coisas em comum: a imprevisibilidade e a necessidade de estar atento. Essa vinda escatológica pode acontecer em qualquer momento, por isso Jesus nos adverte para estar sempre preparado, não para nos angustiar, mas para que o nosso modo de viver seja orientado para esse encontro, num caminho de santificação.
Fará um bom tempo de advento aquele que aprender que é certa a volta daquele que já nos visitou e desta forma, a cada dia, se prepara para receber a visita de Cristo quem veio, vem e que virá.
Um Santo Advento a todos! Vem, Senhor Jesus!
Maria, mãe da esperança, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
Texto para meditação
As duas vindas de Cristo (São Cirilo de Jerusalém)
[Catequese 15,1-5]
Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma, discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’ (Mateus 21,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’.
Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram seus juízes. Ele, que ao ser julgado, guardara silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores que o levaram ao suplício da cruz, e lhes dirá: ‘Eis o que fizestes e calei-me’ (Salmo 49,21).
Naquele tempo ele veio para realizar um desígnio de amor, ensinando aos homens com persuasão e doçura; mas, no fim dos tempos, queiram ou não, todos se verão obrigados a submeter-se à sua realeza. (…)
Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que ‘subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim’ [cf. Credo Niceno-Constantinopolitano].
Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado!