Logo no início do período do Tempo Comum, a Igreja nos conduz às primícias da missão de Nosso Senhor, e nos faz ouvir uma bela catequese de João Batista cujo tema é: “Quem é Jesus?”. Será assim ao longo desses domingos: teremos a alegria de acompanhar Jesus percorrendo as estradas de Israel, ensinando e curando, não só os seus contemporâneos, mas também a nós.
Desde o início da vida de Jesus já está claro todo o programa de sua missão. É sobre isso que fala João e é sobre isso que comentaremos hoje. Assim sendo vamos meditar sobre essa significativa expressão do Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
Talvez já estejamos acostumados com essa expressão, dita por João Batista e repetida pela Igreja ao longo dos séculos na celebração da Santa Missa, e não parece que possamos aprender alguma coisa de novo sobre essas palavras. Mas a verdade não é bem essa. Meditemos sobre as duas partes dessa afirmação:
1. “O Cordeiro de Deus”
A imagem do cordeiro, um animal dócil e manso, é muito familiar para os judeus da época de Jesus. O que as pessoas pensaram de Jesus ao ouvir isso de João?
a) Ao ouvir que Nosso Senhor era o cordeiro, certamente eles se recordam da passagem do profeta Isaías que fala de um cordeiro que se deixa sacrificar, sem se queixar (cf. Is 53,7), nos oráculos do Servo do Senhor. O cordeiro na bíblia também é símbolo da inocência, da pureza, daquele que não faz mal a ninguém.
b) Sem dúvida eles também se recordaram do cordeiro que deveriam oferecer na páscoa que recordava o cordeiro pascal. Macho, sem defeito, sem nenhum osso quebrado (Cf. Ex 12,1s). Que deveria ser sacrificado por volta do meio dia, comido em pé (como quem deve partir logo), para comemorar a passagem do Senhor. Seu sangue nas portas protegia os seus primogênitos dos hebreus.
Quando João apresenta Jesus como cordeiro indica que Ele é o verdadeiro cordeiro pascal, inocente e manso, imolado na cruz, cujo sangue liberta e protege. É com essa bela imagem do cordeiro, que João encontra nas Escrituras, que ele ilustra a sua catequese para explicar quem é Jesus.
Aquele que desce às águas do Jordão é o que desceu do Céu e é o mesmo elevado na cruz: tudo isso indica a sua morte redentora.
2. “Que tira o pecado do mundo”!
Nesta segunda parte da exclamação de João conhecemos a missão do Cordeiro de Deus. É Ele – e somente Ele – que tira o pecado do mundo. Somente Nosso Senhor pôde quebrar a barreira que havia entre Deus e os homens, entre o Céu e a terra. Ao tirar o pecado do mundo ele nos permite ter acesso à vida celeste, em outras palavras, abre-nos o caminho da santidade.
É o que disse São Paulo: nós fomos santificados e somos chamados a ser santos. O que é a santidade senão “a alegria de fazer a vontade de Deus” (1) ) e até mesmo nas renúncias encontrar tal alegria que só o Senhor pode nos dar. Ele, que é “a luz das nações”, como nos falou o profeta na primeira leitura, que ilumina a todos, e é a sua luz nos santifica. Deixemo-nos ser iluminados pelo Senhor!
Caríssimos, hoje somos chamados a reconhecer Cristo que João nos apresenta como cordeiro que nos abre a porta da santidade. É o mesmo cordeiro que daqui a pouco comeremos na comunhão, o Cordeiro de Deus que nos purifica, nos renova, nos santifica.
Maria, mãe do redentor, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
(1) São João Paulo II, Homilia, 18 de janeiro de 1981.
Texto para meditação
O Credo nos lembra que “para nós homens e para a nossa salvação” o Senhor desceu do céu e se encarnou. Veio para nos salvar, para tirar o pecado do mundo, para nos fazer santos. A festa do Natal que há pouco celebramos nos recorda esse grande mistério. Mistério que o salmista hoje também nos recorda: “Esperando, esperei no Senhor, e inclinando–se, ouviu meu clamor” (Sal 39, 2). Sim, o Senhor se inclinou, fez-se homem, um bebê indefeso. Deus se “adapta” aos homens a ponto de se fazer homem.