Após celebrar duas importantes solenidades do tempo comum, a Santíssima Trindade e a festa do Corpo e Sangue do Senhor, hoje retomamos os domingo do Tempo Comum. E para isso a Igreja nos convida a meditar sobre a vocação de um dos doze: S. Mateus.
Este encontro que nos é narrado no evangelho que acabamos de ouvir é muito particular: é o próprio S. Mateus que recorda com tanto afeto daquele dia em que se encontrou com Cristo. É belo saber que, neste ano litúrgico em que lemos o Evangelho de S. Mateus, hoje ele mesmo nos contou a história da sua conversão!
S. Mateus não tem vergonha da sua história, não rejeita o seu passado, porém, reconciliado com Deus e consigo mesmo, consegue narrar a sua conversão de tal forma que ela seja útil para nós. De fato, é como se esse apóstolo nos dissesse: vejam o que o Senhor fez comigo, confiou num pecador, me chamou para ser seu apóstolo, por isso não tenha medo de confiar Nele, de abandonar o seu “passado”, para viver somente da esperança que ele oferece!.
Eis dois detalhes desta vocação que muito nos servem para o nosso exercício diário de conversão:
1. Somos os doentes que precisam do divino médico
A história de Mateus nos lembra que Jesus não exclui ninguém da sua amizade (1). O Senhor oferece a sua graça a todos. “Para nós homens e para nossa salvação desceu do céu”, professamos no Símbolo da Fé. Sim, ele veio ao mundo para nós e por nós, porque precisamos de salvação.
Pela forma como falam os fariseus eles não se consideravam pecadores, tanto é verdade que muitos deles não buscavam o batismo de conversão de João, enquanto os pecadores faziam filas para serem batizados (2).
A primeira condição, irmãos, para que de fato a graça divina possa agir em nós é reconhecer que somos pecadores, que precisamos de salvação. Somos doentes que precisam de um médico. É por isso que disse S. Paulo: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, e eu sou o primeiro deles (3).
No mundo em que se perdeu o sentido do pecado são poucos os que percebem a sua miséria diante de Deus. Quando se vive na lógica da autossuficiência não se sente necessidade de salvação, necessidade da Igreja, necessidade do batismo, necessidade da confissão…
A esses Jesus diz o que falou aos fariseus: não vim chamar aqueles que se sentem justos, mas os pecadores. Não é que os justos não precisam de salvação, o problema é que esses não admitem a realidade de que na verdade todos somos pecadores (basta observar-se a si mesmo com um pouco mais de realismo). O único obstáculo para a misericórdia infinita de Deus é o orgulho humano de querer viver a vida sem Cristo.
Há tanta coisa para ser curada em nós! Porém jamais percamos a esperança. Para o Senhor não há caso perdido. A todos Ele quer fazer santos. Esse médico pode curar tudo, basta confiar Nele e entregar tudo em suas mãos.
2. Jesus quer a minha resposta agora
Ele deixou imediatamente tudo, narrou o próprio convertido sobre a sua conversão. Eis a prontidão para seguir o Senhor que nos é apresentada como um exemplo. S. Mateus não pediu a Jesus um tempo para pensar, não fez muitas perguntas, muito menos exigiu condições para a sua nova missão, apenas se levantou e seguiu.
Mas qual é o segredo dessa prontidão? É a confiança, é a esperança, é a certeza de que Ele é o caminho que busco, a verdade que desejo, a vida que eu aspiro.
Um pouco mais adiante o próprio S. Mateus recorda o dia em que um jovem, que disse cumprir todos os mandamentos, se apresentou para seguir Nosso Senhor, porém, quando Cristo lhe pediu o seu coração por inteiro (e fez isso pedindo para deixar as suas riquezas), ele foi embora triste. Com S. Mateus foi diferente, ele que provavelmente muito pouco conhecia da lei de Moisés, quando é chamado a dar-se por inteiro, não pensou duas vezes, colocou-se nas mãos de Jesus. É isso, dar-se tudo e por inteiro ao Senhor!
Para concluir, é interessante notar, observa São João Crisóstomo, que somente em alguns dos episódios dos chamados dos apóstolos é informado o trabalho que eles exerciam. Os irmãos Pedro e André, Tiago e João estavam pescando, Mateus, o quinto a ser chamado, estava cobrando impostos. São duas funções de pouca importância, diz Crisóstomo, “pois não há nada que seja mais detestável que o arrecadador e nada mais comum que a pesca” (4).
É no ordinário, no cotidiano, nos afazeres do dia a dia que o Senhor nos chama para ser dele inteiramente. E, além disso, não há quem esteja fora do alcance deste convite: ele veio buscar o que estava perdido, ele veio buscar a todos, ele veio nos buscar!
Maria, nossa esperança, rogai por nós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
(1) Cf. Bento XVI, Catequese, 30 de agosto de 2006. (2) Cf. Lc 3, 12. (3) Cf. 1Tm 1, 15. (4) In Matth. Hom.: PL 57, 363.
Textos para meditação
Música: Todo teu (Eros Biondini)
Quero colocar / Em tuas mãos a minha vida / Me deixar remodelar / Como o vaso do oleiro / O meu coração / Ponho hoje em teu altar / Minha vida está / Pronta pra recomeçar / Ao lado teu.
Ser todo teu, inteiro teu / Quero ajuntar cada pedaço do meu ser. / Ser todo teu, inteiro teu / Quero te dar os meus pedaços para que / Um vaso novo eu possa ser.