Pastor Bonus

15º Domingo do Tempo Comum

Observem este lindo detalhe do início do Evangelho de hoje: Jesus saiu de sua casa e foi para as margens do Mar da Galileia, onde sentaria para ensinar o povo, porém era tão grande a quantidade de pessoas que se reuniram para escutá-lo que foi preciso que Nosso Senhor subisse num barco para dali ensinar a multidão

Hoje somos nós a multidão que quer escutar Jesus, que se reúne em torno a Ele, para ouvir Suas divinas palavras. Um dos significados da “barca” nos Evangelhos é precisamente a Igreja, também chamada de a “Barca de Pedro”. É dessa barca, ou seja da Igreja, que hoje podemos escutar Jesus também falando conosco. 

Das leituras bíblicas da Missa de hoje é possível tirar algumas imagens que nos falam sobre as coisas divinas. As imagens são: a chuva, a semente e a terra. E em cada uma delas encontramos um importante ensinamento: (1) Deus tudo pode… [Chuva e semente] (2) Mas respeita a nossa resposta! (3) E por isso devemos saber como dar uma boa resposta ao Senhor [ser terra boa].

1. Deus tudo pode… 

Com a imagem da chuva o profeta Isaías na primeira leitura deixa claro que a Palavra de Deus é um dom divino, ou seja, um presente que ganhamos do alto; e, além disso, a Palavra do Senhor é eficaz, isto é, tem o poder de produzir plenamente todos os seus efeitos! É o mesmo sentido da imagem da semente. A Palavra de Deus é Cristo, Ele é a Boa Semente, a semente do alto e eficaz, lançada pelo Pai em nossos corações.

2. … Mas respeita a nossa resposta! 

Embora tudo possa, Deus espera o nosso “sim” para cumprir em nós seu projeto de salvação. E isso nos é explicado através de uma outra imagem que aparece na liturgia de hoje: a imagem do terreno. E nós sabemos muito bem, não importa se a chuva foi boa, ou se a semente foi a da melhor qualidade, mas se o terreno não for bom, talvez a semente nem chegue a germinar! 

É isso que nos ensina o Evangelho: a palavra de Deus é Cristo, o Verbo do Pai, é a boa semente e a chuva fecunda, mas a germinação e a frutificação depende também de cada terreno, ou seja, de cada pessoa. Ser terra boa é uma escolha de cada um!

A semeadura aconteceu pela primeira vez em nosso batismo. E a longo de nossa vida o Senhor não deixa de lançar muitas sementes em nosso coração. Observem esse precioso detalhe: o semeador lança a semente em todos os cantos, em todos os tipos de terreno. Deus é assim, confia em nós, lança a semente em todos os corações, semeia a sua palavra onde para muito pode até parecer um desperdício. 

Para nos ajudar a refletir sobre o tipo de terreno que temos sido o próprio Cristo nos indica três tipos de terreno onde a semente não tem sucesso: no primeiro a semente não germina, no segundo não cria raiz e no terceiro a planta não cresce.

a) A semente é lançada, mas não germina: Fé fraca

A semente que é lançada mas é comida pelas aves é um alerta: o demônio pode nos roubar as graças de Deus se não formos vigilantes e cuidadosos. Isso acontece quando se ouve a Palavra do Senhor mas ela não penetra a vida, não é meditada, não converte, não fecunda. 

Senhor, não deixeis o maligno roubar a Vossa palavra do meu coração!

b) A semente germina, mas não cria raiz: Fé superficial

A semente que é lançada mas não tem raiz é uma indicação: se nosso compromisso com Cristo for só exterior e superficial, muito em breve vamos esquecer de Nosso Senhor. São os corações que se tornam endurecidos porque logo se acostumam a viver sem Deus. Por isso é preciso “radicalidade” ou seja “ter raízes” profundas no seguimento de Jesus; por isso é preciso perseverança para vencer a superficialidade da fé. 

Senhor, fazei raízes profundas em meu coração!

c) A planta é sufocada: apego aos bens materiais

A semente que é lançada, cria raízes, mas que quando cresce é sufocada pelos espinhos é um aviso: as preocupações excessivas com esta vida e com os bens materiais nos distraem do que é essencial – Nosso Senhor e a sua promessa do Céu!

A sedução da riqueza e excessiva preocupação com o trabalho sufocam a nossa vida interior. O amor exagerado aos bens terrestres são os espinhos que sufocam a boa semente. A busca de poder e a ambição desordenada pelas coisas da terra asfixiam a palavra de Deus!

Senhor, livrai-me das preocupações e das ilusões mundanas! 

3. Como ser terra boa? 

Todos nós podemos nos tornar terra boa. Não há “mal terreno” que Deus não possa transformar! Para isso acontecer é preciso “lavrar” nosso coração, com os bons arados e bons “fertilizantes” que Deus mesmo nos proporciona. 

Por isso é importante dizer aqui alguns conselhos práticos:

a) Ser humilde de coração para acolher os Divinos Ensinamentos (Sagrada Escritura e Sagrada Tradição) e ser fecundo em boas obras (Caridade); 

b) Aproveitar todas as vezes que Deus lança sobre nós as sementes da sua graças, de modo especial quando recebemos nos sacramentos (especialmente a Eucaristia e a Confissão); 

c) Pedir a Jesus constância nos bons propósitos;

d) Não ter medo de voltar à Cristo: começar sempre, quantas vezes necessário for, no caminho da santidade. 

Que Maria, Mãe da Palavra Divina, nos ajude a estar com o coração bem disposto, como terreno bom, para acolher as muitas boas sementes que são as santas inspirações que Ele nos fez nesta meditação.

(Pe. Anderson Santana Cunha)


Textos para meditação

01| Jesus Cristo é “a Palavra única, perfeita, e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo, e não haverá outra palavra senão esta.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 65).

02| “A terra é boa, o semeador também, assim como são boas as sementes; e como é que uma deu cem, outra sessenta e outra trinta? Aqui a diferença depende também daquele que recebe, pois mesmo quando a terra é boa, há muita diferença de uma parte a outra. Já vês que não tem culpa o lavrador, nem a semente, senão a terra que a recebe, e não é por causa da natureza, senão das disposições da vontade”. (S. João Crisóstomo, Homilías sobre San Mateo, 44, 3).

03| S. João Crisóstomo disse era preciso pedir a Jesus para não “se parecer com esses caminhos onde caiu a semente: negligentes, tíbios e desdenhosos” (Homilías sobre San Mateo, 44, 3)

04| O mundo grita a espera de Cristo:

Comentado a 2ª Leitura que ouvimos hoje, disse S. João Paulo II: “O mundo, ‘submetido à vaidade’ (Rm 8, 20), grita que tem sede de Cristo. Invoca a paz, mas não sabe onde encontrá-la plenamente”. (João Paulo II, Homilia, 15 de julho de 1990). Assim também disse Papa Bento XVI: todo homem “tem em si uma sede de infinito, uma saudade de eternidade, uma busca de beleza, um desejo de amor, uma necessidade de luz e de verdade que o impele rumo ao Absoluto; o homem tem em si o desejo de Deus”. (Bento XVI, Audiência Geral, 11 de maio de 2011). O mundo grita porque tem sede de Deus e porque espera a verdadeira liberdade, que só Cristo, a Palavra do Pai pode lhe dar. Por isso mesmo nós somos chamados a ser missionários do Senhor: para dar Cristo ao mundo!

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