Hoje, quarenta dias depois da Páscoa, Jesus se eleva aos céus. E por que 40 dias? Porque essa quantidade, na Sagrada Escritura, significa “tempo de preparação”. Isso significa que: (1º) É o tempo em Cristo deixa bem evidente aos discípulos as provas da ressurreição; (2º) também lhes dá orientações sobre a continuação da Sua missão, organizando para a isso a sua Igreja.
As três grandes solenidades pascais: a Páscoa, a Ascensão e Pentecostes estão profundamente ligadas. Ao logo desses domingos, medita-se que: Jesus ao ressuscitar dos mortos mostra seu poder sobre a morte; ao ascender aos céus toma posse do Reino prometido e nos garante o seu acesso; e com o envio do Espírito Santo o próprio Senhor assume uma nova maneira de estar presente no meio de nós.
Prestai atenção neste detalhe: há um único artigo do Símbolo dos Apóstolos referente a Jesus que está no tempo presente. E ele se refere à solenidade de hoje. Dizemos no Credo: “está sentado à direita de Deus Pai”. Os outros artigos da fé estão no passado (nasceu; padeceu; foi crucificado, morto, sepultado; desceu; ressuscitou; subiu) ou no futuro (há de vir).
Por isso esta solenidade é celebrada com tanta alegria! Porque a festa de hoje no coloca diante de uma verdade de fé: Cristo vive e reina! Com razão entoou o salmista: Ele “está sentado no seu trono glorioso” (Sl 46). O que isso quer dizer? Que Cristo reina desde já e com Ele nós reinaremos.
Aqui acrescento mais um motivo para essa alegria: nosso júbilo é também porque um homem como nós entrou nos céus! Sim, tanto é verdade que o padre dirá na oração pós-comunhão: “junto de vós está a nossa humanidade”. Como é bom saber que Cristo subiu aos céus! Se junto de Deus está um humano, nós também, pobres mortais, poderemos um dia participar da vida divina!
Esse fato que hoje celebramos deve aumentar em nós: a fé, a esperança e a caridade. Falemos sobre essas virtudes em relação ao mistério da Ascensão do Senhor.
1. A fé: reconhecer a presença de Cristo
Nos domingos que se passaram ouvimos várias vezes Jesus nos prometer que não ficaríamos órfãos, que não nos deixaria sozinhos. Hoje Ele confirma isso quando nos diz: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).
Uma coisa é preciso ficar bem clara: a Ascensão não é uma festa de despedida de Jesus! De forma alguma. É verdade que Cristo deixa de estar visível como esteve aos apóstolos durante sua vida e nos dias após a ressurreição. Mas nesta solenidade aprendemos que agora a presença do Senhor se dá de uma forma diferente e muito mais perfeita: foi porque Ele voltou para o Pai que pode estar para sempre conosco, como está neste domingo!
Podemos destacar algumas maneiras principais desta presença. A primeira e mais perfeita é a Eucaristia. Que pena que muito de nós, com alguns discípulos, mesmo tendo tantas provas da sua presença real no Santíssimo Sacramento, ainda não acreditamos. De fato, narra S. Mateus, que mesmo vendo Jesus, “ainda assim alguns duvidaram” (Mt 28, 17).
Existem também outras formas de presença, como nas Sagradas Escrituras. Mas tem outra presença muito importante: Cristo está em nossos irmãos, principalmente nos pobres e abandonados. Não podemos nos esquecer nunca desta identificação de Jesus com os famintos, os sedentos, os imigrantes, os doentes e os encarcerados. “Foi a mim que fizestes” (Mt 25, 36), dirá o Juíz, no dia final!
2. A esperança: de um dia chegar à glória celeste
Como disse S. Paulo na 2ª Leitura, devemos hoje recordar “da esperança que o nosso chamamento nos dá”, lembrar também “da herança dos santos” (Ef. 1,18). Em outras palavras: a solenidade de hoje ergue a nossa cabeça para olhar para as coisas do alto! É um convite a viver lembrando-se sempre do céu! E que a nossa vida está lá, escondida em Cristo!
Por isso a epístola nos ensina que, como a Cabeça da Igreja já entrou na vida celeste (cf. Ef 1,22), um dia todo o Corpo também passará para lá. O Corpo é a Igreja.
Os nossos corações não podem perdem nunca o desejo de uma vida sem fim, mas não essa que o mundo vende (e muito caro): a falsa “eterna juventude”.
De fato, aqui nesta terra somos peregrinos. A terra não é nossa morada fixa! Somos como que estrangeiros que não vêem a hora de voltar para a casa! Como quem partiu para uma viagem, mas esperam intensamente o dia de voltar para o seu lar.
Essa nossa espera pela vida eterna é traduzida em uma oração feita após cada consagração Eucarística, quando dizemos: “vem Senhor Jesus” (Ap 22,17).
E nesse percurso terrestre não caminhamos sozinhos nem somos peregrinos sem rumo. Pelo contrário: sabemos perfeitamente para onde vamos! E vamos muito bem acompanhados!
Aqui são oportunas as palavras do Papa Bento, que disse:
“Subindo ao Céu, Ele abriu de novo o caminho rumo à pátria definitiva, que é o Paraíso. Agora, com o poder de seu Espírito, ele ampara-nos na peregrinação cotidiana na Terra”.
Regina Caeli, 08 de maio 2005
3. A caridade: fazer discípulos
No evangelho Jesus dá uma ordem aos seus discípulos: que sejam suas testemunhas e que batizem! É desta forma se prolonga a presença de Jesus no mundo. Os discípulos não podem ficar olhando para o céu, anestesiados, com se não tivesse mais nada a ser feito. Não. É preciso anunciar essa maravilha, que não pode ficar só entre nós!
O que Jesus quer é que todos os homens e mulheres sejam salvos! Palavras mais claras que essas de Jesus são impossíveis. Ele não quer ensinar um estilo de vida ou uma filosofia existencial. Ele quer pessoas novas, batizadas no Pai e no Filho e no Espírito Santo, participando da vida divina, dentro de sua Igreja, observando tudo o que Ele ensinou.
É válido lembrar neste ponto que uma obra de misericórdia é “ensinar os ignorantes”. E aqui não se está falando dos ignorantes do alfabeto ou dos números, mas dos ignorantes da fé! E quantos são desconhecedores da fé: não sabem no que creem e por isso não sabem no que esperar! Por isso disse Jesus: ide e fazei discípulos!
Que profundo mistério é esse da Ascensão do Senhor! Essa solenidade não pode passar despercebida. O que foi rezado pelo sacerdote na oração inicial da missa é uma grande verdade: a Ascensão de Jesus “já é nossa vitória”!
Prezados irmãos, que a fé ilumine a nossa espera pelo céu com as obras concretas de amor, principalmente com a mais importante de todas: fazer discípulos de Jesus todos os povos!
Com Maria e os apóstolos passemos esta semana no “cenáculo“, e invoquemos com insistência a vinda do Espírito Santo para que renove toda a face da terra!
(Pe. Anderson Santana Cunha)
Síntese: a Missa de hoje apresenta um mistério da vida de Cristo e uma promessa para as nossas. O mistério é o a da sua ascensão aos céus. “Está a direita do Pai”, diz o Credo, lembrando-nos do espaço onde está o corpo glorioso do Senhor; mas está presente também em nossos sacrários, e logo mais neste altar. A promessa é justamente que nós, se permanecermos unidos a Cristo – que é a cabeça do corpo, que é a Igreja – também entraremos um dia na glória do Céu. Por isso a vitória de Cristo já é também a nossa!