Pastor Bonus

Corpus Christi

Celebra-se hoje em toda a Igreja a festa do Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor. Por que esta festa? Por dois motivos centrais: (1) reacender a nossa fé na Eucaristia, ou seja, na presença real do Senhor; (2) e também fazer, com toda a Igreja, um ato público de louvor a Jesus Eucarístico.

Nesta homilia, convido-vos a meditar as três partes essências da oração do dia da missa de hoje que foi composta por S. Tomás de Aquino, a pedido do Papa Urbano IV que instituiu esta solenidade. Para cada um dos três trechos podemos identificar uma palavra que resume o seu conteúdo: (1) memorial, (2) presença e (3) eternidade.

1. Memorial

Senhor Jesus Cristo, neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão

A páscoa de Jesus não poderia ficar esquecida no tempo, no passado, por isso ela se perpetua na Igreja através da Santa Missa. Foi por isso que Cristo disse: “façam isso em memória de mim” (1Cor 11,24).

Naquela hora, na primeira Missa, ficou então instituído o memorial da Paixão do Senhor, que é celebrado hoje e o será para sempre! Até Ele voltar! Como cantamos na Sequência: “O que o Cristo fez na ceia, manda à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar”.

Portanto a Missa não é teatro, a Missa não é encenação, a Missa não é representação. Memorial não é lembrança, memorial é presença: o Santo Sacrifício da Missa é a última ceia, é o calvário é a Ressurreição do Senhor!

É o memorial de um amor que não conhece limite. É justo nos perguntarmos: Que mais poderia nos dar Nosso Senhor? Ele se deu todo e por inteiro e, além disso, continua-se nos dando, em cada Missa! Irmãos, a Eucaristia é o amor que chegou ao extremo. Na Santa Missa Ele nos ama até o fim! Como desprezar tão grande amor?

2. Presença

Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue

Neste trecho da oração pedimos com a Igreja: “dai nos venerar”.  Isso porque a Santa Missa, o memorial da Paixão, torna presente diante de nós o seu Corpo e seu Sangue. Eis irmãos o “dogma da Presença Real”.

É importante recordar o que é um Sacramento. Segundo uma clássica definição os sacramentos são sinais visíveis de uma graça invisível. Portanto, durante a Santa Missa acontece algo que nossos olhos da carne não podem ver e algo de sobrenatural acontece:

O pão e o vinho colocados sobre o altar, após a consagração, mudam de substância. Deixam de ser pão e vinho e passam a ser o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor. Os nossos olhos não conseguem perceber essa mudança, por isso pedimos a fé, como um suplemento, para ajudar os sentidos a entender este grande mistério.

3. Eternidade

 Que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção.

Os frutos da redenção são colhidos aqui, já nesta vida, mas serão colhidos de modo todo especial na eternidade.

É Pão desta vida. A Eucaristia é a resposta do Pai ao nosso pedido na oração que o Senhor nos ensinou: é o “Pão nosso de cada dia” (Mt 6, 11), que nos é dado hoje.

É Pão da eternidade. A Eucaristia é mistério tão grande, que nesta vida não seremos capazes de compreender esse mistério. É um compromisso marcado para a eternidade.

Nesse sentido a Santa Missa, irmãos, é a “pausa restaurada na caminhada rumo ao céu”, como diz uma das introduções para a oração do ofertório.

Como somos felizes por ter a Eucaristia! Ela é a garantia e nossa segurança na passagem desta vida para a outra. Disse Nosso Senhor: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54).

Conselhos práticos:

(a) Preparar-se bem para a Santa Missa. Sendo a Eucaristia o tesouro mais valioso da Igreja ela é chamada a cuidar com o maior zelo possível deste presente divino. Ainda hoje o Senhor continua a nos dizer: “Desejei ardentemente comer esta páscoa” (Lc 22, 15). Na Santa Missa nos é dado tomar parte neste banquete. Por isso hoje é importante lembrar: é preciso se preparar bem para a Santa Missa! Com a confissão, com a oração, com o jejum eucarístico. Nosso coração deve estar preparado para receber o Divino Hóspede!

(b) Ação de graças após receber a Divina Eucaristia. É sua carne imolada na cruz colocada em nossos lábios, é seu sangue redentor que escorreu pelo madeiro agora no cálice e nos é dado como bebida! Após a comunhão deve-se guardar um tempo para agradecer esta grande dádiva.

 (c) Oferecer Missas pelos falecidos. A Santa Missa foi instituída para a salvação de todos. Por isso não podemos nos esquecer de oferecer a Missa na intenção daqueles que já faleceram. Por isso disse S. Tomás de Aquino:

“Na Igreja, a Eucaristia, tendo sido instituída para a salvação de todos, é oferecida pelos vivos e pelos mortos, para proveito de todos”.

Opuse. 57, en la fiesta del Corpus Christi, leet. 1-4

(d) Eucaristia e comunhão com a Igreja. O povo de Israel que comeu o maná no deserto era imagem e símbolo da Igreja, peregrina neste mundo, que também é alimentada com um pão celeste. Mas agora é alimentada pelo verdadeiro alimento: a Eucaristia. Por isso “a Eucaristia faz a Igreja”, porque a comunhão nos faz povo de Deus, um só povo: o Corpo Místico de Cristo, como disse S. Paulo na epístola.

 (e) Fazer Adoração Eucarística. Cristo quis ser “prisioneiro” em um sacrário, a nossa espera, para ser adorado. Sim! Tem um Homem vivo dentro do sacrário desta Igreja! Como posso permanecer indiferente a isso? E Ele está lá só para você! Quantos frutos de santidade conseguem aqueles que são fiéis à Adoração Eucarística!

Por fim, queridos irmãos, recordo que o Coração Eucarístico de Jesus

é, sem dúvida, o Coração que nos ama sempre, e é paciente para esperar-nos, está pronto para escutar-nos, ansioso de que lhe peçamos, e é centro de graças sempre renovadas; Coração silencioso que deseja falar às almas, refugio da vida oculta, mestre dos segredos da divina união; Coração Daquele que parece dormindo, mas que vela sempre, e dele que sem cessar transborda a caridade.

Garrigou-Lagrange O.P, Las tres edades de la vida interior. Tomo II, Ed. Palabra, Madrid, 1978, Pág. 830- 831.

Concluamos esta meditação retomando uma das estrofes da sequência de hoje que nos enche de alegria e de esperança: “Aos mortais dando comida, dais também o pão da vida; que a família assim nutrida seja um dia reunida aos convivas lá do céu!”

Alegra-te Igreja, tu és alimentada aqui na terra com a Divina Eucaristia e um dia será reunida no banquete eterno do Cordeiro Imolado!

* * *

Sobre a Procissão Eucarística. Infelizmente por conta da pandemia em muitas paróquias não haverá a tradicional procissão eucarística. Mas não poderíamos deixar de meditar sobre este gestão tão simbólico que já faz parte de nossa tradição litúrgica.

Na procissão com o Santíssimo pelas ruas revive-se aquele dia em que Jesus entrou em Jericó. Um cego que pedia esmolas ouvi o barulho das pessoas que passam e perguntou o que estava acontecendo. Então lhe responderam: “É Jesus de Nazaré que passa” (Lc 18,37). Sim, também nos dias de hoje é o Senhor que passa!

A Eucaristia deixa o tabernáculo e passando pelas nossas ruas de nossa cidade enchendo os homens e as mulheres de alegria! Silencioso, mas vivo, Ele vai ao encontro de todos, e se faz nosso companheiro de caminhada, nós que somos peregrinos nesta vida rumo ao céu!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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