Pastor Bonus

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Depois dos quarenta dias da Quaresma, neste domingo iniciamos a Semana Santa. Vivemos hoje com Cristo dois momentos: entramos na Cidade Santa e com Ele subimos ao Calvário. Hoje devemos nos fazer uma importante pergunta: Como viver de maneira frutuosa esses dias santos?

Para responder essa questão eu vos convido a contemplar, através desta meditação, dois lugares: as portas de Jerusalém e a colina do Calvário. E nesses dois lugares Jesus mesmo nos ensinará como tornar não só esta semana, mas toda a nossa vida, santa!

1º Lugar: Portas de Jerusalém

Estamos nas portas de Jerusalém, este é o nosso ponto inicial. E Jesus entra na Cidade Santa! Mas o que significa essa entrada? A procissão dos ramos não é apenas uma imitação ou “teatrinho”, é um sinal! E para entendê-lo, recordo de um rito que havia antigamente nesta Missa: quando se chegava da procissão o sacerdote batia com uma cruz na porta da igreja que estava fechada só então ela era aberta.  

Esse gesto recorda que com sua cruz Nosso Senhor nos abriu as portas do céu; mas também diz que hoje ele bate na porta do nosso coração para entrar!

Aqui está o primeiro passo para viver bem a Semana Santa: deixar nossos corações abertos para que entre o Rei da Glória!

São Lucas após a narração da entrada em Jerusalém disse que ao ver aquela cidade, Jesus chorou. Em lágrimas disse Ele sobre a Cidade Santa: que pena que “não reconheceste o tempo em que foste visitada!” (Lc 19,44). Não nos aconteça a infelicidade desse lamento também se referir a nós! Aproveitemos essa ocasião valiosa que é a Semana Santa!

2ª Lugar: O Gólgota

Agora mudemos de cena. Encontramo-nos fora de Jerusalém, mais precisamente onde eram executados os condenados a morte: o “lugar da caveira” – o Gólgota.

Quanto sofrimento! A crueldade dos guardar, a traição dos amigos, a zombaria dos judeus, a humilhação do governador, a sentença injusta, os golpes dos soldados, os escarros da multidão, a nudez diante da mãe, e tantos outros padecimentos.

Alguns poderiam dizer: tirem essa imagem de Cristo na Cruz, Ele ressuscitou! Falemos de outras coisas, falemos de prosperidade, de bens materiais! Mas Jesus não quer que essa cena saia de nossas memórias: mesmo se tirarmos Cristo da cruz, vamos encontrá-lo assim nas Sagradas Escrituras e em nossas vidas nos irmãos que sofrem!

Não, nós não nos envergonhamos de Cristo na cruz! Pois como disse o Apóstolo: “pregamos a Cristo e Cristo crucificado!” (Cf 1Cor 1,23) Que até hoje é motivo de escândalo! Não tenhamos medo de contemplar a cruz.

A humanidade precisa ver o Deus-Homem assim, chagado, para tomar consciência do seu amor e do seu perdão!

Na oração inicial da Santa Missa pedimos a Deus que nos dê duas graças: aprender os ensinamentos da paixão de Cristo e ressuscitar com Ele em sua glória. Por isso escolhi dois dos muitos ensinamentos da Paixão e partilho agora convosco:

1º Ensinamento da Paixão: Amor

É claro que as palavras que ouvimos no Evangelho nos narram um crime: um inocente é sentenciado à morte. Mas uma verdade muito mais profunda se oculta na paixão do Senhor: trata-se de uma grande prova de amor! “Ninguém tira a minha vida, disse Jesus, eu a dou por mim mesmo” (Jo 10,18).

Na cruz Deus foi amado como merece e nós, pecadores, fomos amados como não merecemos. Deus era amado, pois uma vítima digna foi apresentada para satisfazer as nossas ofensas e nós fomos amados porque sem ter como pagar a nossa dívida, fomos perdoados.

Nos últimos suspiros do bom ladrão vemos retratada com pinceladas fortes a nossa história: quando tudo parecia perdido e sem saída, Jesus nos abriu as portas do paraíso!

2º Ensinamento da Paixão: Sacrifício.

Contemplar Cristo na cruz nos ensina que uma vida sem sacrifício não tem sentido. Com muita clareza S. Paulo escreveu aos Gálatas: “Com Cristo estou crucificado” (Gl 2,20). E mais: “trago no meu corpo as marcas de Cristo” (Gl 6,17).

Se quisermos viver de verdade a Páscoa é preciso se sacrificar! E quantos são os sacrifícios que somos chamados a fazer: O sacrifício que é perdoar quem nos fez mal, o sacrifício que é rezar todos os dias, o sacrifício que é ter paciência consigo mesmo e com os outros.

Cabe-nos então fazer duas interrogações: O que ainda não foi crucificado com Cristo em minha vida? Como recebo os sacrifícios que se apresentam diariamente?

Creio que respondemos, ainda que com simplicidade, a nossa primeira pergunta: “O que fazer para que essa semana seja santa?” Podemos resumir em três atitudes: deixar Cristo entrar em nossas vidas; conhecer do seu amor por cada um de nós; e aceitar e oferecer os sacrifícios diários de nossas vidas.

Para concluir a resposta que vos apresentei cito as sábias palavras de S. Agostinho, que disse:

“Amados (…) gloriemo-nos na cruz de Cristo, mas não só uma vez no ano, senão com uma vida contínua de santidade”. 

(Santo Agostinho, Sermão 218b)

Estimados irmãos, desejo que não só que esses dias e essa semana sejam santos, mas que toda a vossa vida seja uma vida de santidade! Que nesses dias sejamos acompanhados pela Virgem das Dores, ela que mesmo diante das aparentes derrotas sempre teve certeza da vitória!

Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo!

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