Pastor Bonus

Santíssima Trindade

Tudo em nossa vida começa e termina com o Sinal da Cruz, no qual invocamos Deus que é Uno e Trino: que é um só Deus e é Pai e Filho e Espírito Santo.

É assim ao se levantar, ao tomar as refeições, ao iniciar os trabalhos, diante de um perigo, e por fim, na hora de ir dormir. A Santa Missa, a nossa comunhão com o Céu, começa e termina invocando-se a Santíssima Trindade. Sim, Deus é origem e fim de tudo em nossas vidas!

Por isso hoje a Igreja, tendo passado por todos os mistérios da nossa salvação durante o ano litúrgico (o nascimento, a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo), volta-nos ao mistério central da nossa fé: a Santíssima Trindade.

Neste dia é oportuno não só recordar o que sabemos deste mistério de nossa fé, mas também lembrar que fomos batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” e desde então chamados a viver a vida da Trindade, agora aqui na terra e depois no céu.

I) Contemplar o mistério

1. Quem é Deus?

Uma das mais belas definições de Deus está numa das epístolas de S. João. Se lhe perguntássemos: “Quem é Deus?” o discípulo amado nos responderia “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). E por essa definição podemos começar uma reflexão muito simples para perceber a Trindade:

Se Deus é amor a quem Ele ama? Os homens? Sim, mas os homens começaram a existir há certo tempo. A quem Deus amava antes? O universo? Sim, mas também o universo foi criado, e em um determinado tempo não existia! Então Deus ama a si mesmo? Isso seria um egoísmo se Deus fosse uma pessoa só…

Então aqui surge a resposta da revelação de Cristo: Deus é Amor porque ama com amor infinito seu Filho. Eis a Santíssima Trindade: em Deus há um que ama (Pai), outro que é amado (Filho) e o amor que os une (Espírito Santo). Uma unidade trina de amor.

Quem nos revelou este mistério? Jesus Cristo! Ele nos revelou o Pai e nos deu o Espírito Santo. Se Cristo não nos tivesse revelado nunca saberíamos que Deus é assim, disse S. Tomás de Aquino. (Cf. Suma Teológica, I, q. 32, a.1).

Pouco a pouco, como um bom professor, Deus foi nos revelando quem Ele É. No Antigo Testamento fica bem claro que há um só Deus, evitando assim o erro do politeísmo. (cf. Dt 6,4). Deus falou-nos como se fala com um amigo, assim como ouvimos na Primeira Leitura na experiência de Moisés!

E no Novo Testamento Jesus nos diz que Deus é Um, mas Nele existem três Pessoas diferentes. Por isso ouvimos no Evangelho aquela conversa noturna com Nicodemos, em que Cristo revela tesouros preciosos sobre a nossa fé, principalmente sobre a Trindade!

É claro que amor é mistério, ou seja, vai além da razão. Não seria possível apenas com os nossos raciocínios e a nossa capacidade intelectual chegar a essa conclusão. E ainda que Deus tenha nos revelado em Jesus quem Ele é, a penumbra do mistério vai continuar sempre, nesta vida, até o dia em que “ante o fulgor daquela luz, não haverá duvidas” (S. Agostinho, De Trinitate, L. XV, c.25, n.45)

II) Viver o mistério

2. Como Deus nos ama?

a) Tanto Deus amou o mundo que nos criou: Deus é amor que nos cria. Ele nos amou desde o princípio, quando nos tirou do nada. É por seu amor que somos sustentados na existência. Se por um minuto Deus deixasse de nos amar (de pensar em nós), desapareceríamos, para sempre!

b) Tanto Deus amou o mundo que nos redimiu: Deus é amor que nos redime. Tendo o pecado nos afastado Dele, Ele veio em nosso socorro. E por isso enviou seu Filho que nos mostrou o rosto misericordioso do Pai e pagou o preço do nosso regaste, que se fez vítima por nossas ofensas.

c) Tanto Deus amou o mundo que nos santifica: Deus é amor que nos santifica. E tudo isso começou pelo Batismo, quando as portas do céu foram abertas para nós. E o Espírito Santo nos conduz para que não desviemos do caminho. E caminhamos assim para a vida eterna, que não é outra coisa senão Deus mesmo.

3. Deus mora em nós para nós morarmos Nele.

É importante falar também no dia de hoje sobre o “mistério da inabitação divina”, ou seja, da presença de Deus, Uno e Trino, na alma humana através da Graça. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”. (Jo 14, 23). É o mistério da adoção divina. É de certa forma uma antecipação do céu.

Foi para isso que fomos criados, redimidos e santificados! Somos criaturas que foram elevadas à ordem sobrenatural. E assim podemos conhecer e amar a Deus. Desde o batismo Deus mesmo mora na alma humana e a conduz para viver para sempre na intimidade divina.

Disse S. Catarina de Sena:

“Tu, Trindade eterna, és mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais descubro, mais te busco”

S. Catarina de Sena, Diálogo, 167.

Sabemos que Deus começa a fazer morada em nós pelo Batismo, mas é pela Eucaristia que toda a Trindade passa a nos ser muito íntima. Foi o que disse um abade beneditino:

A alma que acaba de comungar é um verdadeiro santuário, porque a Eucaristia, ao comunicar-lhe o corpo e o sangue de Cristo, lhe dá além disso a divindade do Verbo unido em Jesus com laços indissolúveis à natureza humana. (…) Quando a Trindade fixa em nós sua morada nossa alma se converte no céu, onde se realizam as misteriosas operações da vida divina”.

Dom Columba Marmion, Jesuscristo em sus mistérios, Ed. Difusión Chielena S.A., Santiago: 1943, p. 437-438.

Se Deus é comunhão, e como somos feitos a sua imagem e Ele mora em  nós, nós só nos realizamos no amor, na vida fraterna. É o que São Paulo nos fala na sua Epístola aos Coríntios; os gestos concretos dessa presença divina em nós são: alegria, aperfeiçoamento, coragem, concórdia e a paz.  É desta carta que a Igreja tira a saudação utilizada no início da Missa: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13, 13).

Por fim, chamo a atenção para a bela a oração de Moisés ao Senhor, na primeira leitura: “Caminha conosco!” (Ex 34, 9). Pela divina revelação de Cristo podemos fazer uma oração mais ousada que a de Moisés: “Senhor, vem morar em nós para que possamos morar em Vós!

Concluamos esta meditação com uma oração escrita por uma carmelita que viveu profundamente o mistério da inabitação da Trindade:

“Oh, meu Deus, Trindade a quem adoro! Ajuda-me a esquecer-me totalmente de mim, para estabelecer-me em Vós, imóvel e tranquila, como se minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar minha paz, nem fazer-me sair de Vós. Oh meu imutável! Senão que a cada minuto me mergulhe mais na profundidade de vosso mistério”.

Elisabete da Trindade, Notas Íntimas, em Obras Selectas, BAC, Madrid: 2000, p. 110-112.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém!

(Pe. Anderson Santana Cunha)

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