Numa das aparições de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria Alacoque Ele rasgou o peito e mostrou-lhe o seu Coração, que estava como que numa fornalha; e então disse Jesus à religiosa:
“Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e em reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões”.
Sainte Marguerite Marie, Sa vie écrite par elle-même, Éditions Saint Paul, Paris, 1947, p. 70
Nestas palavras estão o sentido e o significado desta solenidade. Duas são as finalidades da devoção ao Coração de Jesus: 1º: agradecer a Deus pelo seu infinito amor para conosco e 2º: reparar as faltas cometidas por aqueles que desprezam ou ofendem o Seu grande amor.
Por isso, neste dia convêm tratar em nossa meditação sobre: (1) as maravilhas do Amor de Deus, (2) a nossa resposta a este grande Amor e (3) a reparação às ofensas contra o Sagrado Coração.
1. As maravilhas do Amor de Deus
Essa festa surgiu para reavivar nos corações dos fiéis a lembrança do grande amor de Deus. Sim, Deus nos ama! E, como ensina S. João na 2ª Leitura: “Nisto consiste [esse] amor: (…) ele nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecado” (1Jo 4,10).
Nosso Senhor Jesus Cristo nos ama com um coração! Um verdadeiro “coração de homem” (cf. Gaudium et Spes, n. 22). Por isso hoje, voltamos nosso olhar para a imagem do Sagrado Coração e o que vemos? Vemos um coração humano que arde de amor! Um coração que a cada batida pensava em nós! Um coração apaixonado que nos ama com amor eterno!
O Sacratíssimo Coração aberto na cruz é fonte de todas as graças; é a porta aberta do céu; é a nossa única esperança. A ferida que lhe foi aberta no peito quando pendia na cruz, e que lhe rasgou o coração, é sinal deste imenso amor.
Mas quantas também são provas deste amor que recebemos todos os dias: não só nos bens materiais, mas também nos muitos bens espirituais. Deus, como ouvimos de Moisés na 1ª Leitura, se afeiçoou a nós sem nenhum motivo, simplesmente porque nos ama! (cf. Dt 7,7-8).
S. Josemaria disse que Jesus “mendiga um pouco de amor, mostrando-nos, em silêncio, suas mãos chagadas” (Es Cristo que pasa, n. 179). Sim, isso que contemplamos na imagem do Sagrado Coração: as mãos abertas, chagadas, do “mendigo do nosso amor”.
Quanto dom! Quanta amor! Quanta misericórdia! E tudo isso sem merecimento algum da nossa parte. Como então corresponder a este amor?
A melhor resposta a este amor apaixonado de Deus é amá-lo com todas as nossas forças e reparar as ofensas ao seu Divino Coração. Meditemos agora sobre essa dupla atitude daquele que conhece esse amor.
2. A nossa resposta a este grande Amor
Poderíamos enumerar muitas coisas a este respeito. Aqui achamos por bem indicar apenas algumas atitudes:
a) Gestos de quem ama. Uma visita ao Santíssimo Sacramento, a Sagrada Comunhão recebida com a devida preparação, a partilha com os famintos e abandonados… Quando amamos o Senhor, principalmente em pequenos gestos, Deus forma em nós um coração novo: o coração de seu Filho!
b) Mansidão e Humildade. O Evangelho nos apresenta um bom resumo sobre como é o coração que ama Jesus: “(…) aprendei de mim, porque sou manso e humilde” (Mt 11,29), ou seja, amá-lo procurando crescer nas virtudes da mansidão e da humildade. Essa é a melhor resposta ao Coração que tanto nos ama: aprender Dele!
c) Confissão. Após ouvir falar de tantas provas do divino amor, como não nos aproximarmos, a partir de agora, com mais confiança Daquele que aguarda o dia da nossa confissão? Que miséria poderia ter em nossas almas que esse Coração apaixonado não perdoaria?
d) Zelo apostólico pelas almas. Quem ama o Coração do Senhor deseja que esse mesmo coração seja conhecido e amado. Por isso apresente aos seus familiares, aos seus amigos e aos seus companheiros de trabalho o maior tesouro de sua vida: Jesus Cristo.
Então acontecerá conosco o que aconteceu com aquele discípulo que disse: “Não ardia o nosso coração?” (Lc 24,32). Aqueles corações desanimados, tristes e frios, são aquecidos pela fornalha da caridade e cheios de alegria puderam testemunhar aos seus irmãos: o Senhor está vivo!
e) Em tudo amar! Poderíamos falar de muitas outras provas de amor que se pode dar ao Senhor, como por exemplo as obras de misericórdia, sejam corporais ou espirituais. Mas aqui cabe uma palavra síntese: amor. Coloquemos amor em todos os gestos, pequenos e grandes, e veremos um grande milagre em nossas vidas!
Assim o fardo fica leve. Não que o fardo desapareça, mas porque passa a ser levado com amor. E tudo que é levado com amor não pesa, não cansa, não causa fadiga. Como ouviu aquele que certa vez se encontrou uma pequena criança carregando seu irmão menor num cesto às costas e lhe perguntou: “Não é muita carga para você carregar?”. Ao que lhe respondeu: “Não é uma carga, é meu irmão!”. Toda carga que é levada com amor é sempre leve.
3. Reparar as ofensas ao Amor
Jesus pediu a Santa Margarida Maria Alacoque que na primeira sexta-feira após a Solenidade do Santíssimo Sacramento, ou seja hoje, se celebrasse uma festa ao seu Coração com atos de reparação e desagravo.
O Coração de Jesus sente o desprezo dos homens. E isso notamos já nos Santos Evangelhos: quando Ele chorou ao ver Jerusalém que não O acolhia (cf. Lc 19, 41); quando reclamou da ingratidão dos nove leprosos que não voltaram para Lhe agradecer (Cf. Lc 17, 17-18); e quando se sentiu mal acolhido na casa de Simão, o fariseu (Cf. Lc 7, 44).
Podemos dizer hoje, como toda nossa fraqueza: “Senhor, tu sabes tudo, tu saber que eu te amo” (Jo 21,17), mas sabes que meu amor é muito pouco, por isso ajuda-me a Vos amar mais! E neste dia queremos também Te amar por tantos que não Vos amam! Inclusive por aqueles que Vos ofendem!
Conclusão
O Papa Pio XII, na Encíclica Haurietis Aquas, recordava que podemos dizer, sem medo de errar, que os principais dons do Sagrado Coração de Jesus são: a Eucaristia, a Santíssima Virgem, o Sacerdócio, a Igreja e os Sacramentos. (HA, n. 34). Quantos presentes de amor esse Divino Coração nos concede!
Como o sacerdócio é um dos dons do Coração que tanto ama o mundo, hoje também rezamos com toda a Igreja pela Santificação do Clero, ou seja, dos diáconos, dos padres e dos bispos! Não se esqueça de uma oração pessoal por eles!
Na mesma Encíclica o Papa Pio XII ainda se pergunta: diante de tantos males que nos cercam, cercam nossas famílias, nosso país e o mundo inteiro, onde podemos encontrar um remédio eficaz para tudo isso? E com uma resposta exata nos ensinou o pontífice: no culto ao Sagrado Coração, que é remédio para a Igreja e para toda a humanidade! (HA, n. 70).
Queridos irmãos, foi o Espírito Santo que no seio da Virgem Maria teceu o coração de Cristo. Por isso peçamos ao Paráclito e ao Coração Imaculado de Maria para que nos ajudem a amar Jesus Cristo de modo que o nosso coração se torne semelhante ao Dele.
Sagrado Coração de Jesus! Temos confiança em vós!
(Pe. Anderson Santana Cunha)