No último domingo do ano litúrgico o que celebramos? Celebramos a vitória de Nosso Senhor! Cristo é Rei e Senhor!
E ele não é rei só dos católicos, não só dos que têm fé, mas de todo o mundo e de toda a história!
Esta última festa do ano nos faz contemplar o ato final da história da humanidade e o início da plenitude eterna: tudo, definitivamente tudo, se orienta para Ele, tudo caminha para Ele.
E olhando para o final, para o resultado de todo o percurso e de todas as batalhas desta vida, o que vemos? Vemos Cristo vitorioso, pastor e juiz!
De fato, disse o Papa João Paulo II, esta solenidade “é como uma síntese de todo o mistério salvífico” (1). Cristo é Rei em todos os mistérios da sua vida: é Rei no Natal, na Epifania, na Páscoa, na Ascensão.
Mas esta festa foi estabelecida pelo Papa Pio XI justamente para alargar a nossa ideia do reinado de Cristo: Ele é Rei do universo, da sociedade, do nosso país, de todos os homens e mulheres, mas é antes de tudo Rei em nossos corações.
Por isso é bom lembrar-se de nossa fé a respeito da vinda gloriosa de Cristo e o início de uma nova forma do reinado do Senhor, que já foi iniciado. Outros dois assuntos que trataremos no final é do duplo sentido desse reinado: é preciso que Ele reine em nossos corações e reine também na sociedade.
1. Recordar nossa fé
Lembremo-nos daquele artigo do Credo no qual dizemos que Cristo virá novamente, em glória, para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim. Quantas coisas nos ensina esse ponto fundamental de nossa fé: a segunda vida, o juízo final e particular, o reino sem fim…
Com disse um escritor, num romance: no final não poderão sentar-se juntos vítimas e agressores como se nada tivesse acontecido. Haverá sim um juízo final, o Senhor voltará para dar a cada um o que lhe é devido.
A injustiça pode passar impune nos tribunais humanos, mas não passará impune diante da única e verdadeira justiça: a Justiça Divina. E isso não porque os cristãos cultivam sede de vingança, mas é que a justiça é um atributo divino.
O Reino de Cristo, que já está presente de modo misterioso em nosso meio, no final será plenamente revelado. Mas é certo: tal reino, anunciado nos Evangelhos, já está presente em nosso meio!
2. Rei dos corações
“É preciso que ele reine“, disse São Paulo (cf. 1Cor 15, 25). E para alargar o reinado de Cristo é preciso que tal domínio comece dentro de nós mesmo. Eis pois os lugares onde começa esse reinado:
- É preciso que Ele reine em nossa inteligência, por isso é importante conhecer a Sagrada Doutrina e dar-lhe nosso assentimento filial e total;
- É preciso que Ele reine em nossa vontade, para isso devemos obedecer seus mandamentos que são fonte de vida e de verdadeira liberdade;
- É preciso que Ele reine em nossos corações, para que nenhuma amor ocupe o primeiro lugar que lhe é reservado e para que não nos cansemos de reconhecê-lo de modo especial na Eucaristia, que é a maior expressão desse reinado e nos atos de caridade.
3. Rei da sociedade
Nós não só somos chamados a participar deste Reino, mas de também estendê-lo a todos os cantos por onde passamos com o nosso apostolado. É preciso que Ele reine em nosso trabalho, em nossa cidade, em nosso país, em todo o mundo…
Por isso hoje também é o dia dos leigos, aqueles que se dedicam aos mais diversos apostolados e que com a sua presença e ação fazem Cristo reinar na política, nas escolas, no comércio, em todos os ambientes e circunstâncias.
É nesse sentido que o Prefácio nos lembra que este Reino é o “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. Um Reino que foi conquistado pelo Amor sacrificado em uma Cruz. Por isso o convite de São Paulo se faz ainda mais eloquente na festa de hoje: É preciso restaurar todas as coisas em Cristo (Cf. Ef 1, 10).
Este reinado social, chamado também de evangelização das culturas, trata de nossa missão de “cristificar” todas as realidades. Nada pode ficar fora do influxo da Palavra de Cristo e da sua realeza. De fato, como disse São Paulo VI, “a ruptura entre evangelho e cultura é sem dúvida alguma o drama de nosso tempo” (3).
Que esta solenidade, que nos enche de alegria e esperança, marque o início ou a retomada do reinado de Cristo em nossos corações de modo que este reinado se estenda sobre toda a terra até o dia em que Cristo será tudo em todos (Cf. 1Cor 15, 28).
É o que pedimos no Pai Nosso: “Venha o vosso reino!” Peçamos como o santo ladrão do calvário: “Lembra-te de mim Senhor, agora que reinas, que já entrastes no vosso reinado, para que um dia estejamos convosco, para sempre, no paraíso!“
Viva Cristo Rei!
(1) Homilia, 20 nov. 1983. (2) Cf. João Paulo II, Homilia, 22 nov. 1981. (3) Encíclica Evangelii Nuntiandi, n. 20.