Hoje é o dia do Espírito Santo. Após os 50 dias de festa chegamos ao fim do tempo pascal. Pentecostes quer dizer justamente isso: 50 dias. Era nesse dia que o povo judeu celebrava a festa do Sinai, a festa que recordava o pacto de Aliança entre Deus e o povo.
Desde a Ascensão do Senhor, estivemos unidos com Maria e os Apóstolos no cenáculo, vivendo a primeira novena que aconteceu na Igreja: a novena de Pentecostes. Tudo isso para chegar neste dia tão especial, que o Papa Bento chamou de o dia do “batismo da Igreja no Espírito Santo” (1).
O que o Espírito Santo faz em nossos corações? São muitas as ações desta Pessoa Divina em nós, mas hoje enumeremos três, que podem nos ajudar a identificar a sua ação e a permitir que Ele faça em nós a sua obra:
- Ele nos santifica,
- Ele nos une
- Ele nos envia.
1. O Espírito Santo nos santifica
Esta é uma das principais missões do Espírito Santo: santificar! No Evangelho de hoje recolhamos dois detalhes que nos falam da ação santificadora de Deus em nós: o sopro e o perdão.
“Soprou sobre eles”, disse o evangelista (Jo 20, 22). Este sopro nos lembra um outro sopro, aquele do início da Bíblia: o sopro da criação. Deus soprou nas narinas de Adão (Cf. Gn 2, 7) O Espírito Santo santifica porque dá vida nova! E por causa Dele somos novas criaturas!
O segundo detalhe é o perdão. De fato, na mesma ocasião disse Jesus: “A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados” (Jo 20, 23). O Espírito Santo é enviado para a remissão dos pecados, diz o padre na oração da absolvição do penitente.
É também a Luz de Deus que nos chama interiormente ao arrependimento. Por isso só o perdão dado pelo Pai em Cristo pelo Espírito pode renovar verdadeiramente a face da terra! Sem dúvida a ação santificadora de Deus em nós se mostra claramente nesta ação de nos dar vida nova através do perdão dos pecados.
2. O Espírito Santo nos une
Naquela manhã, por volta das nove horas da manhã (como diz a tradição litúrgica da Igreja), após o envio do Espírito Santo, ouvia-se dizer no meio da multidão: “todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2, 11).
É o Espírito Santo que dá essa unidade para a Igreja. É Ele que nos faz recitar a uma só voz um único Credo, nas mais diversas línguas do mundo. Além da diversidade de povos, raças, línguas, são vários também os carismas (como lembrou a 2ª leitura), dentro da própria Igreja, e a Luz Divina lhes dá a harmonia e unidade.
Com são profundas estas palavras do Papa Bento XVI: “O novo povo de Deus, a Igreja, é um povo que provém de todos os povos. A Igreja desde o início é católica, esta é a sua essência mais profunda” (2).
Da confusão de Babel (cf. Gn 11,1-9) para a unidade de Pentecostes. Diferente daqueles que queriam chegar até o céu para serem famosos ao construir a grande torre, os apóstolos são enviados a todos os povos com uma ousada missão: para anunciar a única Verdade que vale a pena ser conhecer – Jesus Cristo.
Além disso, a proposta de Babel esconde graves pecados, e o principal deles é da prepotência. É a arrogância de querer chegar à Deus por força própria.
Vale lembrar então que o ser humano não é capaz de amar ao Senhor sem a graça divina. Não há nenhum bem que possam ser feito sem a força do Espírito Santo, como se cantou na Sequência: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”.
3. O Espírito Santo nos envia
A Igreja é apresentada no Evangelho reunida à volta de Jesus, ressuscitado, que lhes dá a seguinte ordem: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio!” (Jo 20,21).
Eis a profunda intimidade que existe entre o Espírito Santo e a Igreja. Podemos dizer, juntamente com a multidão dos escritores eclesiásticos, que o Divino Espírito é alma da Igreja.
Sobre essa relação entre a Igreja e o Espírito Santo disse S. Irineu: “Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus e, onde está o Espírito de Deus, ali estão Igreja e todas as graças, e o Espírito é a Verdade; afastar-se da Igreja significa rejeitar o Espírito… excluir-se da vida” (3).
É este vento forte que Cristo soprou sobre os seus apóstolos que os impulsionou a anunciar o Evangelho a todos os cantos, até aos extremos da terra.
Vale lembrar que a Igreja é missionária desde o seu nascimento. Por isso que quando os cristãos negam aos povos o direito de conhecerem Jesus, seja por medo ou por negligência, impede a ação do Espírito Santo!
Para tanto, com insistência, ouvimos de Jesus, ao longo deste tempo pascal, não uma nem duas vezes, mas várias vezes: Ide! Anuncia! Eu vos envio! Que pena que muitas vezes, controlados pelo “respeito humano” ou pelo “politicamente correto” fechamos a boca e Cristo não é anunciado!
Conclusão
Por fim, observai este detalhe: “os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor” (Jo 20,20). É a alegria do reencontro com o amigo. É a alegria de encontrar o tesouro, a pérola preciosa, pelo qual vale a pena vender tudo! E que amigo! É Ele o vencedor da morte! É Ele a Verdade, a Vida, a Alegria. Não se esqueçam disso: a Verdade nos ama!
No final da missa apagaremos o Círio Pascal. Este sinal da presença viva do ressuscitado nos é tirado. Agora somos nós a luz que deve brilhar na escuridão do mundo, afim de iluminar os irmãos perdidos pelas estradas e guiá-los no caminho da fé. Mas esta luz também deve iluminar principalmente os cantos escuros de nossos corações: as trevas dos vícios e dos pecados.
Quando coisa Deus quer fazer em nós! Por isso peçamos a graça de ser dóceis à ação divina. E para tanto contamos com a ajuda da “Esposa do Espírito Santo”, de Maria, mãe da Igreja!
Que o mesmo Espírito Santo que desceu sobre Ela, em Nazaré, e que desceu sobre a Igreja, na Festa de Pentecostes, desça também sobre todos nós!
(1) cf. Regina Caeli, 12 de junho de 2011. (2) Homilia, 15 maio 2005. (3) S. Irineu, Adv. Haer, III, 24, 1.
Texto para meditação
Então, santificados por Deus, Ele mesmo nos envia os seus Dons, ou seja, os presentes divinos que o Espírito Santo nos comunica. De onde nos vêm a Sabedoria, o Entendimento, o Conselho, a Fortaleza, a Ciência, a Piedade e o Temor de Deus senão do alto? (cf. Is 11,2). Todo o batizado em estado de graça possui esses dons!