Pastor Bonus

Solenidade de todos os santos

A Igreja celebra em uma só “festa os méritos e a glória de todos os santos”. É assim que a oração do dia explica-nos o sentido da solenidade de hoje. Nesta missa honramos todos os santos, canonizados ou não. Eis a beleza desta festividade: lembrar-nos que o Céu é povoado de amigos e que certamente entre eles estão pessoas que conhecemos e que não foram oficialmente canonizados, mas que já estão no Paraíso. 

Explicou-nos o Papa Bento XVI: “Em tal multidão [celeste] não estão somente os santos oficialmente reconhecidos, mas os batizados de todas as épocas e nações, que procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade divina. De uma grande parte deles não conhecemos os rostos e nem sequer os nomes, mas com os olhos da fé vemo-los resplandecer, como astros repletos de glória, no firmamento de Deus”. (Homilia, 01 nov. 2006). 

Somos a Igreja peregrina, que está a caminho desta grande festa celeste, e que hoje se une aos irmãos que já chegaram lá. Esta solenidade volta o nosso olhar para o céu e nos faz contemplar o fim para o qual fomos feitos, a meta da nossa peregrinação, o ponto de chegada da nossa caminhada. 

Que bom saber disso: não estamos caminhamos sem saber para onde vamos; não somos com um barco a deriva perdido no meio do mar, mas sabemos de onde viemos e para onde nos dirigimos. De Deus viemos e para Ele estamos voltando!

E, ao mesmo tempo, esta solenidade também nos enche de entusiasmo, pois nos mostra que é possível chegar lá, porque outros já chegaram. E eles nos esperam! Como é consolador lembrar-se do Céu! Nos dá ânimo para continuar esta caminhada.

Toda a Liturgia da Palavra nos fala da santidade. Por isso, usando a própria comparação de São João podemos dizer que hoje estamos diante: (1) um convite para todos: ser filho de Deus e (2) se somos filhos, somos herdeiros, e o Céu é nossa herança. Por fim é bom lembrar-se de algumas informações sobre a devoção aos santos.

Façamos estas três considerações: 

1. Um convite para todos: ser filhos

S. João notou na visão do Céu algo muito importante. Ele viu pessoas “todas as nações, raças, povos e línguas” (Ap 7, 9). Em outras palavras, é como se ele nos dissesse: tem lugar para todos no Céu; todos são chamados a ser santos. E isso também nós sabemos pois os santos canonizados, que são só uma parcela daqueles que estão no Céu, comprovam esta universalidade da vocação à santidade. 

Deus nos faz um convite: para sermos seus filhos! Quando foi que aceitamos esse convite? Foi no dia de nosso batizado. Isso aconteceu no dia em que fomos adotados pelo Senhor na pia batismal. É na pia do batismo, disse o Papa Bento XVI, que “a Igreja dá luz aos santos“. É naquele “útero da Igreja” que nascem os filhos de Deus.  

No dia do nosso batizado começamos o nosso caminho de santidade. É por isso que S. João observou no Apocalipse que a multidão do céu estava vestida de branco. É a cor da veste batismal, é sinal da pertença à Cristo e da pureza de vida. “Quem subirá até o monte do Senhor? Quem tem mãos puras e inocente coração” (Sl 23, 3a-4a)

2. A herança dos filhos: o Céu

A lógica apresentada pelo discípulo amado é bem simples: se somos filhos, somos herdeiros. E a herança dos filhos de Deus é o Céu! Por isso que São João exclamou com alegria: “Vejam! Olha que grande presente o Senhor nos deu!

Mas para chegar lá é preciso viver como filho. Por isso voltemos nossa atenção para o Evangelho. Para saber como ser santos devemos subir o monte com os apóstolos e ouvir o sermão das bem aventuranças. É dos lábios de Jesus que aprendemos o caminho do Céu. 

As palavras de Jesus talvez já não nos cause espanto, porque nossos ouvidos já se acostumamos com elas, mas prestemos atenção, estas frases são desconcertantes. Jesus inverte toda a lógica. O que nós pensamos de verdade? Que bem aventurados são os ricos, os que estão rindo, os que praticam a injustiça e não são punidos, os que se vingam, os que são aplaudidos. Mas não é esse o ensinamento do Senhor!

Nosso Divino Mestre nos ensina as atitudes de um verdadeiro filho de Deus: o desprendimento, a humildade, a mansidão, a simplicidade, a pureza e a misericórdia. Mas quem é o verdadeiro bem aventurado? É nosso Senhor! As bem aventuranças são um auto retrato de Jesus, a quem nós devemos imitar. Ele é único Filho e só podemos participar da filiação divina “copiando-O”. 

3. A verdadeira devoção aos santos

Sabendo que para ser santo é preciso imitar Jesus, talvez passe pela nossa cabeça que isso seja impossível. Mas seguir Nosso Senhor é possível sim, se não fosse Ele não nos teria feito esse convite: “sejam santos!”. Tanto é verdade que os nossos irmãos que já estão no céu, nos comprovam isso. A santidade é possível: “Essa é a vontade de Deus, que sejamos santos” (1Ts 4, 3). 

No prefácio o sacerdote dirá: “[Nos santos] encontramos exemplo e ajuda para as nossas debilidades”. Eis aqui, irmãos, duas coisas importantes que precisam ser recordar sobre o verdadeiro sentido da devoção aos santos: imitá-los e pedir a ajuda deles.

a) Conhecer e imitar suas vidas. Para saber como eles chegaram lá é importante conhecer as suas vidas. Não são fábulas, mas são fatos reais de pessoas que viveram em situações muito parecidas com as nossas. Eles nos ensinam a imitar Aquele que eles passaram a vida toda imitando: Nosso Senhor. 

b) Pedir a intercessão dos santos. Podem ter certeza que os santos nos ajudam! Faz bem termos santos de particular devoção, seja o patrono da profissão ou mesmo o santo de nosso nome, cultivando com eles uma verdadeira amizade. 

Para concluir vale a pena recordar: esta festa em honra a todos os santos quer reacender em nossos corações o desejo de estar um dia com eles na glória eterna. Como filhos estar para sempre o Pai e fazer parte da sua família. Esta é a nossa vocação, foi por isso que nascemos: para ir para o Céu! Que a meditação sobre a beleza do Céu nos encante e que o exemplo dos santos nos inspire. 

E, por fim, é importante dizer que temos uma outra boa notícia: no céu nos espera uma mãe, a Virgem Maria! Que ela nos ajude a viver este exílio suspirando pelo dia em que estaremos para sempre junto de Deus e seus amigos. 

Maria, rainha dos Céu, Senhora dos Anjos e dos Santos, rogai por nós!

TEXTOS PARA MEDITAÇÃO

O QUE SIGNIFICA COMUNHÃO DOS SANTOS? 

A expressão «comunhão dos santos» tem, portanto, dois significados estreitamente ligados: «comunhão nas coisas santas, sancta», e «comunhão entre as pessoas santas, sancti». «Sancta sanctis! (O que é santo, para aqueles que são santos)». (Catecismo da Igreja Católica, n. 948). 

INTERCESSÃO DOS SANTOS 

«Os bem-aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade […]. Eles não cessam de interceder a nosso favor, diante do Pai, apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao Mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo […]. A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude fraterna» (Lumen Gentium, 49).

«Não choreis, que eu vos serei mais útil depois da morte e vos ajudarei mais eficazmente que durante a vida» (Disse São Domingos, moribundo, aos seus irmãos). 

«Quero passar o meu céu a fazer o bem sobre a terra» (Santa Teresa do Menino Jesus)

COMO SE “COMPRA” O CÉU?

Santo Agostinho comentando os ensinamentos de Jesus põem na boca do Senhor estas palavras: – Estou vendendo. – Que vendes, Senhor? – O reino dos céus. – Com que se compra? – O Reino com a pobreza, a Alegria com a dor, o Descanso com o trabalho, a Glória com a humilhação, a Vida com a morte. (Alfredo Sáenz, SJ, Palabra y Vida, Homilías dominicales y festivas. Ed. Gladius, 1993, 311- 317). 

ELES NÃO ESPERARAM UM RECOMPENSA DAQUI

O caminho dos santos foi caminho das bem aventuranças. Esse é o caminho seguro para o Céu. Eles foram pobres de espírito, mansos, passaram fome e tiveram sede de justiça, foram misericordiosos, limpos de coração, promotores da paz e perseguidos pela justiça. Não encontraram sua alegria aqui, na terra, mas agora junto de Deus possuem a felicidade sem limites. Agora sim – não neste mundo, mas na vida eterna – são consolados, herdaram a terra, estão saciados, perdoados, são filhos e vêem a Deus. 

O QUE IMPORTA É A RESPOSTA

E o caminho que os santos fizeram não foi sem dificuldade. Tiveram que lutar contra as paixões desordenadas, tiveram que recomeçar quando caíram ou se perderam pelo caminho. Eles cumpriram seus deveres de estado e juntaram a cada dia os pequenos tesouros das boas obras. Encontraram Deus no seu jornada, nas pessoas, nos acontecimentos, nas alegrias e nos sofrimentos. De fato, não importa se somos padres ou leigos, casados, solteiros ou viúvos, se somos ricos ou pobres, o que importa é a resposta ao convite de Deus!

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